tropicália em financiamento coletivo
E temos mais um grande jogo de
RPG nacional chegando ao financiamento coletivo. Trata-se de Neo Guanabara: a
cidade do futuro, de Artur de Martino e arte de Daniele Cruz. Mas do que se
trata? Ele é auto declarado um RPG cyberpunk tropicália com um enfoque em artes
marciais.
No jogo os personagens são “Perseguidores”,
uma espécie de mercenários/celebridade adorados na internet underground. Esse ‘esquema’
foi criado pelos “Eternos”, governantes da cidade que vivem na parte rica da
cidade, chamada de “A Metrópole”. Enquanto os personagens são dotados de
técnicas incríveis que vão além da capacidade humana, eles também têm certo poder
político, interferindo na cidade e moldando-a em certa medida, assim como as
facções, que são a base de seu poder. Enquanto isso os Eternos vêem na cidade um
experimento social como que experimentando algo que poderá ser aplicado em
outros lugares. O experimento: “Um governo que não governa para o povo, mas
para classe política; que mente constantemente, que causa a ascensão de
sindicatos do crime que controlam pedaços da cidade; mas ao mesmo tempo, o
mesmo governo empurra a idéia de esperança, de que se o político certo for
eleito, este salvara a cidade.”
A cidade é uma verdadeira cidade-estado que antes fazia parte de um país maior. Neo-Guanabara é um experimento de sociedade feito pela elite governadora, onde o sistema é secretamente feito para falhar como parte de seu plano maior. Saquear. Humilhar. Finalmente, manipular as esperanças dos seus cidadãos mortais. Naturalmente, os diferentes distritos da cidade são sujos, abandonados e esquecidos. A mais alta tecnologia convive com o dia-a-dia da sarjeta. Não é à toa que no buraco de organização do Sistema, o crime organizado aparece para impor uma ‘ordem’ na desorganização orquestrada.
Cada personagem jogador busca um tipo de Justiça. É perseguindo essa justiça que cada personagem gera um recurso chamado “Fama”, e interage com/contra as diferentes gangues, criando “Renome” entre tais facções. Usando “Fama” e “Renome” no final de uma série de aventuras (nunca mais do que quatro no total) cada jogador pode gastar tais recursos em uma tabela de “Mini-Campanha” para habilitar/alterar elementos de Neo Guanabara, rumo a um “objetivo final” que modificará a cidade de maneira permanente, e que deve ser evocada toda vez que o grupo decidir jogar uma nova mini-campanha.
O jogo de poder, o que chamamos
no livro de “Poder nu e cru” é o tema principal de Neo Guanabara. Os jogos de
poder nu e cru dos “Eternos” é cinzento, amorfo e sempre presente. O sonho de
liberdade e de justiça é apenas isso. Uma ilusão. Como os personagens jogadores
irão lidar com isso? Será que irão se rebelar? Ou ainda, trabalhar dentro do
sistema, tentando salvar o máximo de pessoas individuais? Há sempre a
possibilidade de serem corrompidos, e apenas lutarem por sua própria vontade. O
experimento social de Neo Guanabara não tem conclusão definida, afinal.
A mecânica de jogo, embora
própria, foi inspirada em Gunshoe (leia nossa resenha sobre esse maravilhoso sistema
AQUI) com alguma influência de Marvel
Heroic RPG e Cortex Plus, ou seja, o sistema inteiro usa uma rolagem e uma
lógica para resolver todas as situações, o que muda é o contexto. Vamos ver na
prática como isso funciona.
A mecânica do jogo é dividida em quatro momentos: Testes, Combates, Debates e Investigação. Tirando o ultimo ‘momento’, todos eles se relacionam ao que chamamos de "A rolagem": prepare uma parada de dados pegando 1 dado dos seguintes elementos da ficha de personagem: Regra de Engajamento, Pilar, Perícia e Aumento. Role os dados, selecione 2 dados como “Valor” e 1 dado como “Nível de efeito”. O Valor é comparado com o Valor da Reação executada pelo alvo ou pelo número estático de dificuldade do Teste, enquanto o Nível de Efeito é a “qualidade” do resultado. Quanto maior tal nível de efeito, mais eficaz foi a ação. Ao entender “A rolagem”, você entende a essência do jogo. O ponto é selecionar elementos da ficha - Que ativam efeitos especiais dependendo do contexto da ação. Seja testes, combates ou ainda Debates!
Debates usam uma “Mega Parada
de Dados” onde todos os personagens participam e é decidido em uma rolada
apenas! Tal mecânica é usada para resolver situações mais complicadas e
complexas sem violência, e requer que jogadores gastem sua fama/renome para
iniciarem. É possível ganhar coisas como Aumentos, aliados e até mesmo mais
Fama/Renome em tais cenas. Mas é também possível perder influência na cidade
caso o debate seja perdido. Por fim temos a investigação, que não usa nenhum
dado.
Quanto aos personagens o termo
definidor é variedade. Cada elemento da ficha do personagem pode trazer efeitos
especiais para a rolagem, por exemplo, ao usar “Cyber Jiu-Jitsu” como
parte da parada de dados, efeitos especiais na cena ocorrem. É aqui que
Implantes cibernéticos, poderes psíquicos e ‘meta magia’ entram, assim como
utilizar tais Aumentos, ao lado de perícias e “Pilares” (Corpo, Mente
ou Espirito). Um ataque que usa tanto um braço cibernético quanto “Cyber Jiu-Jitsu” terá
propriedades distintas do que a mesma ação usando “Capoeira Elétrica” e “Super
Velocidade”. Ou seja, elementos diferentes com ações iguais produzem efeitos distintos.
Logo, espere personagens recheados de opções e maneiras de manipular a cena.
Os personagens são divididos em
três tipos de linhagens – humanos (sobreviventes da cidade do futuro), pessoas
lagarto (alienígenas proletariados jogados na cidade) e andróides (IAs banidas e
proibidas pelo mundo). Ainda temos três classes – Ciborgue (lidam com Aumentos
Ciberneticos), ESPers (lidam com Aumentos Psiquicos) e MetaMagos (lidam
com Aumentos MetaMágicos).
Não imagine este jogo como sucessões de mini-campanha. Neo-Guanabara não foi feito para ser jogado em longas sequências de aventuras com uma conclusão clara, mas ondas de peuqenas campanhas que conforme se desenvolvem, mudam a cidade. A maneira que se evolui no jogo é alterando a cidade em si após jogar uma série de aventuras, onde o grupo de jogadores obtêm recursos, aliados, inimigos e executam sua Justiça na cidade. Essas alterações da cidade solucionam certos problemas, mas criam outros. Como se o Sistema esperasse isso, de alguma forma. Na prática, isso significa que o cenário vai se transformando a partir dos esforços do grupo e cria oportunidades para se explorar diferentes facções e conflitos constantemente, ao em vez de uma história maior com um final conclusivo.
O financiamento coletivo de
Neo-Guanabara está em andamento até o final de junho, com metas a partir de R$
20 reais pelo pdf e contando inclusive com uma linda caixa de dados para os
financiadores (conforme seu apoio). Se você tem curiosidade sobre o cenário e a
mecânica, um starter chamado “Sangue Inocente” é disponibilizado gratuitamente
para que você tenha o primeiro contato com o jogo (AQUI).
Nenhum comentário:
Postar um comentário