Resenha
Baker
Street – RPG in Wolrd of
Sherlock Holmes
No início dos anos oitenta o
jovem João ganhou de presente do seu avô uma coleção completa das obras de
Sherlock Holmes. Mal ele desconfiava que sua vida nunca mais seria a mesma.
Depois disso ele acumulou leituras de várias traduções diferentes, escutou
audiobooks, assistiu filmes e seriados e jogou vários boardgames, tudo
relacionado ao grande detetive. Não era de se admirar que mais cedo ou mais
tarde eu me deparasse com seus RPGs... Pois aqui está Baker Street RPG, de
Bryce Whitacre e lançado pela Fearlight Games em 2015.
Baker Street já está na minha
mão à algum tempo, mas não tive oportunidade de me aprofundar muito nele no
sentido de longas campanhas. Ele possui duas coisas que me agradam – tema e
mecânica. O primeiro parágrafo dessa resenha acho que já deixa claro o quanto
adoro o tema, então vamos pular essa parte. A mecânica, principalmente se
pensarmos em suas resoluções de ações com as rolagens tem uma aleatoriedade e
imprevisibilidade que faz uma grande homenagem aos livros de Conan Doyle. Mas
vamos por partes...
A premissa do RPG é de que
Sherlock Holmes está desaparecido, mas seu legado não. Os jogadores assumem o
papel de detetives que auxiliam John Watson na resolução dos casos que continuam
a chegar na Baker Street.
Cada jogador assume o papel de
um personagem cuja profissão possa contribuir no processo de investigação.
Estamos falando de pessoas comuns da sociedade britânica do final do século
XIX, então nada de superpoderes. O cerne da ficha desse personagem é a sua
Profissão (real). São disponibilizadas 35 profissões (mas há a possibilidade de
criação) onde constam suas perícias (algo que o personagem é treinado em fazer)
com suas respectivas graduações (3 é o mínimo inicial), alguma (ou algumas) especialidades
(algo específico de sua profissão que é utilizado em determinadas situações)
ligadas à essas perícias, além de Status (ferramenta de intereação), Classe Social
e Salário Anual. Todos elementos muito importantes no cotidiano daquela época.
Completamos a criação de nosso
personagem gastando 30 pontos (chamados de pontos de investigador) na aquisição
de outras perícias (não treinadas por nossa profissão), especialidades ou das
características à um itens (características que escolhemos para um item que
influencia em nossa jogada, como literalmente um “pé de coelho”). O
interessante é que o custo para melhorar a graduação de uma perícia que já temos
é progressivamente caro ao mesmo tempo que não vale muito à penas encher o
personagem de perícias de graduação baixa. Tem de ser uma ação muito bem
pensada.
A explicação para essa
sistemática é que todo a mecânica se baseia em perícias e habilidades, assim
como as aventuras nos livros de Conan Doyle. As perícias, especializações, item
com características, tudo, se reverte em dados em nosso pool de d6s onde mais
dados significa mais chances de um sucesso mais significativo (sucessos são os
valores acima de 3). Você joga junto o Dado Sherlock, onde três de suas faces
representam respectivamente Watson, Moriarty e Sherlock, e cada uma influencia
sua rolagem de alguma forma. O Watson oferece assistência gratuita para ajudar
outro jogador ou um sucesso extra. Moriarty faz com que todas as faces de
dados não bem-sucedidas sejam contadas contra os sucessos! A face Sherlock,
o próprio Sherlock, permite que você nomeie um número de face de dados e esses
dados agora contam como sucessos.
As rolagens, como na maioria
dos RPGs, servem para resolução de ações realizadas pelos personagens baseadas
em suas perícias... inclusive atacar (ora, não perceberam que não temos nem
atributos?). Há combates nesse sistema também, mas não esqueçamos que o
elemento crucial nas aventuras de Sherlock Holmes é a investigação. Os combates
– ataque e defesa - nada mais são do que perícias em ação onde o maior sucesso
na rolagem consegue sua intenção – acertar o ataque ou escapar do ataque. Mas o
mais interessante nos momentos de ataque é a regra de iniciativa que se mostra
extremamente original. Não há um valor ou jogada de iniciativa para organizar a
ordem das ações. Após o primeiro participante (jogador ou mestre) realizar o
ataque, ele escolhe quem agirá em seguida (outro jogador ou um dos personagens do
mestre)... ou seja, isso exige uma ação pensada e calculada.
O grosso do jogo concentra-se
na Investigação. Nesse momento os jogadores entram em uma etapa delimitada por
várias sub-fases para descobrir/descartar pistas baseadas nas chamadas Perícias
do Detetive (são três perícias consideradas cruciais à um detetive: Observation,
Reason e Deduction. A primeira rodada se chama rodada da Observação. O jogador
com a perícia de observação mais alta realiza uma rolagem para escrutinar a cena (podendo ser engrossado com
dados dos colegas) revelando pistas que são apresentadas sob a forma de
cartões-pistas (quantidade determinada pela dificuldade da jogada). Cada cartão
possui três pistas onde necessariamente alguma delas à linha correta de
investigação para solucionar o caso. Na rodada da Razão o personagem com a
perícia Razão mais alta faz uma jogada para ter a chance de descartar alguma (ou
algumas) das pistas falsas. A última fase é a fase de Dedução onde o personagem
com maior perícia Dedução pode rolar para inquerir o Mestre sobre as pistas.
Essa parte de investigação de
cena pode parecer algum muito no estilo boardgame. Mas daqui em diante temos
uma ação mais role-play e isso está ligada às Ameaças. O processo de descoberta
das pistas é apenas uma série de setas que os personagens começam a seguir para
encontrar uma rota. Ao descobrirem essas pistas eles começam a delimitar
pessoas e locais de interesse, locais para retornar e procurar outras e novas
pistas, tudo isso vai aumentando o grau de ameaça da investigação conforme as
interações começam a acontecer e aumentar. Essa ameaça é usada como emboscadas,
fugas, atentados, tentativa de destruição de provas, etc.
Baker Street, no geral, é fácil
e simples de ser jogado e ensinado. É uma interessante forma de introduzir
novatos ao RPG justamente por seu visual bem delimitado em momentos e cenas. Concordo
que ele é muito episódico com uma estrutura definida em casos específicos e uma
formação linear principalmente em seus casos pré-prontos. Mas quando se alia a mecânica
de Baker Street com um mestre que resolva criar seus próprios casos, esse
caráter episódico e linear cai por terra e estamos dentro de uma campanha com
muitas camadas. Claro que para isso é necessário muito cuidado e preparação do Mestre,
mas os resultados são excepcionais. Sua indicação ao RPG do ano no Golden Geek
RPG 2015 não foi por acaso.
Esse RPG não é para qualquer
grupo. Seu caráter realista e de tema específico pode não agradar á todos o que
faz dele um RPG de nicho. Ao mesmo tempo ele é um prato cheio para os amantes
do gênero, de Agatha Christie à True Detectives. Se você quiser casar a
mecânica de Baker Street com um pouco (ou muito) de um elemento narrativo
próprio de muitos RPGs de hoje não há problema, embora minha experiência com ele
seja pouca, mas tanto a temática quanto a mecânica abrem margem para isso. Os
momentos de interação, em um cenário onde o status e a sociedade são sempre
presentes e cruciais, são perfeitos.
Nota: 8,5
Suplementos
Baker Street possui quatro suplementos
lançados. O principal deles é Sherlock by Gaslight (2016) onde temos uma série
de novas ferramentas para construção de personagens e cenários. Temos muitas
novas profissões, assim como textos informativos aprofundando elementos de
status e classes sociais. Além disso, ele apresenta uma grande quantidade de
localidades de Londres e arredores com descrições e dicas de como usar
narrativamente ou em casos. Ele trás também dois longos casos para utilização.
Os
outros três suplementos são três grandes conjuntos de casos: Baker Street
Casebook #1 (2015), Baker Street Casebook #2: Missons from Mycroft (2016) e Baker
Streer Casebook #3: Strage Cases & Distant Places (2018). Todos eles trazem
uma série de casos com todos os recursos e dicas necessários para jogar.
2 comentários:
Olá, gostaria de saber como adquiriu o jogo. Por acaso teria versão em PDF para impressão? Dei um pesquisada mas não encontrei na internet.
Grata.
Aqui está o link!
https://www.drivethrurpg.com/product/142228/Baker-Street-Roleplaying-in-the-world-of-Sherlock-Holmes?src=hottest_filtered
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