Convertendo aventuras
de
Pathfinder 1E para
Pathfinder 2E
Normalmente temos visto muitos jogadores
de Pathfinder 2E questionando onde conseguir aventuras para jogar com seus
grupos. Pathfinder 1E tinha uma infinidade de módulos de aventuras e um sem
número de Adventure Paths (Trilhas de Aventuras) e agora, com a nova edição,
isso estaria relativamente obsoleto para o novo sistema. Correto? Nem tanto.
Logo que a segunda edição
começou a dar seus primeiros passos a Paizo tinha noção que uma das primeiras
exigências dos jogadores seria por aventuras. Diferente das gerações anteriores
de rpgistas que recebiam os livros básicos e cabia aos mestres criarem suas
campanhas, as gerações mais recentes estão sempre à espera de aventuras e campanhas
testadas e prontas... e não há problemas nisso.
Mas a Paizo tinha noção de que
diferente de um caminho percorrido de uma década com um estoque de inúmeras
aventuras, Pathfinder 2E estaria engatinhando em seus primeiros tempos, ou
seja, começaria com poucas aventuras e gradativamente iria ganhando mais e mais.
E para o mercado brasileiro isso seria ainda um pouco mais lento, visto a
necessidade de ter o material lançado lá fora, enviado para a editora
brasileira, traduzido, diagramado e lançado. Uma demora natural também.
Assim a Paizo lançou um pequeno
PDF junto do lançamento de sua segunda edição que serviria como manual rápido
para conversão do Pathfinder 1E para Pathfinder 2E. dentre as suas seis
páginas, uma pequena seção era dedicada à aventuras com algumas dicas. Pouco
mais de um mês depois do lançamento oficial de P2E, lá em finais de setembro de
2019, Luis Loza, um dos desenvolvedores de Pathfinder 2E, lançou mais algumas
dicas e teceu comentários pertinentes sobre as conversões de aventuras.
Considero que unindo os dois tenhamos um ótimo material para a conversão das
aventuras.
- O primeiro ponto que
temos que deixar claro é: o que é necessário converter nas aventuras?
Quando pegamos uma aventura pronta temos que entender que ela representa um
recorte no tempo do cenário. Ela apresentará situações pontuais e momentos da
história do cenário que podem ser passado, futuro ou algo atemporal. O cenário
descrito em P2E é o futuro do que temos em P1E, mas para a aventura em mãos
isso não importa. Mestre e jogadores podem conhecer a história do cenário de
trás para frente, mas devem se ater naquilo que a aventura pressupõe que os
personagens sabem e isso independe de edição ou conversão.
As conversões deverão estar
centradas naquilo que realmente influencia as mecânicas de jogo: estatísticas
de NPCs, de monstros, armadilhas e CDs variadas. Luis Loza diz que conforme o
conhecimento e segurança do mestre, isso poderia ser feito simultaneamente à
aplicação da aventura, sem necessidade de conversão prévia. Eu discordo um
pouco disso. Seria necessário um mestre com um amplo e afinado conhecimento das
mecânicas de ambas as edições e com uma memória brilhante para saber onde achar
as informações... e olha que nem temos a vantagem Memória Eidética nesse
sistema!
Piadas à parte, considero que
uma boa leitura prévia da aventura, com a separação das informações e
estatísticas necessários é o mínimo que o mestre deva fazer. Quebrar o ritmo da
narrativa ou de uma cena para procurar um bloco de estatísticas é extremamente anticlímaático.
Como mestre seja prevenido e cuidadoso. Antecipe essa procura de informações e
mantenha o ritmo da aventura para diversão de seus jogadores.
- Como faço com as criaturas
da aventura? Uma boa parte da ação nas aventuras
vem de combates. Aqui temos duas opções. Muitas das criaturas são
substituíveis. No pdf da Paizo eles indicam que você simplesmente substitua os
blocos estatísticos de criaturas e monstros das aventuras de P1E pelas
informações que estariam disponíveis no Bestiário de Pathfinder 2E. Isso
funciona muito bem... em parte. Ora, a Paizo não tem seis bestiários lançados
lá fora para P1E à toa, fora pilhas de monstros que estão nos APs e suplementos
variados. É uma enormidade de criaturas e monstros lançados em uma década.
Com toda a certeza muitas
criaturas das aventuras que pretendemos converter não estão no primeiro
bestiário para P2E. Possivelmente os seres mais comuns poderão ser encontrados,
mas tenho certeza que a maioria não. A Paizo sempre teve a prática de suas aventuras,
e principalmente os Adventure Paths, para introduzir novas criaturas e seres no
cenário justamente para ampliar o rol de possibilidades dos bestiários
lançados. Entenderam porque eu afirmei que precisamos de uma preparo prévio por
parte do mestre?
Em uma postagem do ano passado
nós traduzimos um passo a passo para converter monstros de P1E para P2E (AQUI). São procedimentos que não geram
perfeição de resultados, mas realizam uma interessante adequação de materiais.
Caso a aventura que você decida converter tenha alguma das criaturas fora do primeiro
Bestiário para P2E, sugiro seguir esse passo a passo.
Uma alternativa mais simplista é
apenas procurar criaturas com nível semelhante em P2E. Mas pense bem antes de
usar essa opção, pois pode tirar muita da ambientação da aventura e dos
encontros.
- E as armadilhas? Com
as armadilhas a coisa fica um pouco mais fácil. Normalmente as armadilhas são
mais pontuais e menos variadas no sentido de facilmente conseguirmos adaptá-las
para coisas análogas. Ora, uma Galeria de Dados Envenenados (armadilha Perigo 8
para P2E, página 527 no Livro Básico) pode representar uma grande variedade de
armadilhas com o mesmo estilo, necessitando apenas que adaptemos a ‘cosmética’
da narrativa. Fora isso, danos, efeitos e condições impostas precisarão apenas
que o seu tipo seja adaptado.
Calma, eu sei que as CDs dos
testes são importantíssimas, mas falarei disso mais adiante. De qualquer forma temos
no Livro Básico uma seção chamada Perigo, nas páginas 520-529, dentro do
capítulo Mestrando, apresentando e detalhando como lidar com as maravilhosas
armadilhas.
- Como proceder com as
Classes de Dificuldades? Isso requer um pouco mais de
trabalho e mais um dos motivos pelos quais eu considero arriscado converter uma
aventura ‘enquanto se joga’. Por que isso é tão importante? Classes de
Dificuldade é o valor que mensura quanto o jogador deverá superar em sua jogada
de dados para saber se ele foi ou não capaz de realizar algo. Em uma aventura os
jogadores estão constantemente tentando realizar ‘coisas’. Conseguir comida com
caça, arrumar uma informação, convencer alguém de algo, desarmar uma armadilha
ou simplesmente pechinchar por acomodações na estalagem da vila. As aventuras vêm
normalmente com muitas dessas CDs e mesmo que seja fácil perceber qual perícia usar
ou salvamente realiza, nem sempre a conversão do valor o será.
O próprio desenvolvedor da
Paizo, Luis Loza, nos dá uma dica maravilhosa – “você pode deixar as CDs como
estão, pois na grande maioria das vezes as CDs no P1E são muito semelhantes aos
CDs no P2E”. Segundo ele, fazendo uma comparação entre as tabelas de Classes de
Dificuldades e as regras para criação de CDs e como elas trabalham, do
suplemento Ultimate Intrigue, para P1E, com a tabela 10-5 do Livro Básico da
segunda edição (página 503), os valores para os vários exemplos de situações comuns
e medianas são muito próximos. As CDs iniciais de P1E são ligeiramente mais
altas do que seria em P2E, mas vão se alinhando.
Então use as mesmas CDs que são
apresentadas das aventuras de P1E. Se tiver dúvidas, você pode conferir as
tabelas 10-5 e 10-6, na página 503 do Livro Básico de P2E em português, para
conferir as CDs por nível e CDs por nível de magia.
- Tesouros também
precisam ser convertidos? Sim, e com atenção especial. A
regra de conversão aqui pode parecer um pouco exagerada, mas é necessária para
se enquadrar nas concepções de P2E. os tesouros encontrados devem ser substituídos
por uma fração dele equivalente à 1/10 do valor. Sem reclamações, ok? Se o grupo
de aventureiros encontro na aventura de P1E um tesouro, por exemplo, de gemas
equivalente à 100 peças de ouro, reduza para 10 peças de ouro. Muitos dos
tesouros encontrados nas aventuras são no formato de informações, equipamentos,
provisões, etc. Mas quando for algo equiparado à um valor ‘monetário’, faça a
conversão.
Por exemplo, no Adventure Path
de P1E Ironfang Invasion: Trail of the Hunted, logo no início da aventura os
personagens encontram na loja destruída de um alquimista um pilão de mármore no
valor de 50 peças de ouro. Convertendo seu valor para P2E, teria um valor de
5po. Simples. É importante ressaltar que há justificativa para isso. Em P1E a
unidade monetária era o ouro, enquanto que em P2E é a prata, que justamente tem
uma equivalência de 1/10.
Isso nos leva a pensar nos
itens mágicos encontrados durante as aventuras. Há grandes variações entre
valores e níveis de itens entre P1E e P2E. Por exemplo, um Anel de Natação em
P1E é um item de 2500 peças de ouro e que em muitas aventuras é disponibilizado
já para personagens de 3º nível. O mesmo Anel de Natação em P2E (página 606) é
um item 12º nível com valor de 1750 peças de ouro. Apenas pela conversão de
valores já vemos que há algo de muito diferente aqui. Convertendo o valor do
anel de P1E, ele valeria 25po, ou seja 1725 peças de ouro à menos.
Se a intenção é converter a
aventura para a mecânica e concepções de P2E é necessário muito cuidado aqui.
Sabemos que muitos dos itens disponibilizados durante uma aventura pronta terão
alguma importância logo adiante. São sempre, o que chamamos no teatro, de armas
de Chekhov. Nós não podemos simplesmente tirar o item de jogo. Ao mestre cabe
duas coisas. Leia bem a aventura. Se o item for apenas de valor financeiro e
sem influência alguma no andamento futuro da aventura, simplesmente o substitua
por algo de valor condizente e que se encaixe na história narrada. Se for uma
peça importante para o andamento da aventura tome mais cuidado. Procure por
itens valores e níveis menores, mas que tenham um efeito semelhante, ou crie
você mesmo o item necessário.
- Para encerrar, os NPCs.
As aventuras são repletas de NPCs que funcionam como interlocutores das
informações que os personagens precisam para avançar na aventura. Muitos desses
encontros são resolvidos com as CDs adequadas e já abordamos isso
anteriormente. Mas muitos deles possuem habilidades especiais, como converter?
Aqui vale apontar que as dicas para conversão de monstros valem em sua maioria
para NPCs. Grande parte nem precisará disso. Por exemplo, no Advenutre Path para
P1E War of the Crown: Songbird, Scion, Saboteur, boa parte dos personagens tem indicados
apenas CDs para disputas de interação, onde as superações desses testes
concedem aos jogadores informações. Claro que o mestre sempre poderá recriar
todos os NPCs da aventura usando as regras de criação de personagens do Livro
Básico de P2E, mas seria trabalhoso e desnecessário.
Finalmente
Converter uma aventura pode ser
um pouco trabalhoso para quem olha de fora, mas com toda a certeza será muito
prazeroso de ser executada ou jogada. Ao longo da primeira conversão o mestre
demorará um pouco mais para ter certeza que fez todos os ajustes necessários,
mas nas conversões posteriores a tendência será de maior rapidez. Comece com
aventuras para níveis baixos e convertendo seguindo a evolução da aventura.
Adventure Paths são ótimos para isso.
Teste, converta e experimente
para perder o receio e se sentir mais seguro. Há todo um universo de dezenas de
aventuras de Pathfinder 1E esperando por você.
Bons jogos!
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