quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Convertendo aventuras de Pathfinder 1E para Pathfinder 2E



Convertendo aventuras de
Pathfinder 1E para Pathfinder 2E

Normalmente temos visto muitos jogadores de Pathfinder 2E questionando onde conseguir aventuras para jogar com seus grupos. Pathfinder 1E tinha uma infinidade de módulos de aventuras e um sem número de Adventure Paths (Trilhas de Aventuras) e agora, com a nova edição, isso estaria relativamente obsoleto para o novo sistema. Correto? Nem tanto.

Logo que a segunda edição começou a dar seus primeiros passos a Paizo tinha noção que uma das primeiras exigências dos jogadores seria por aventuras. Diferente das gerações anteriores de rpgistas que recebiam os livros básicos e cabia aos mestres criarem suas campanhas, as gerações mais recentes estão sempre à espera de aventuras e campanhas testadas e prontas... e não há problemas nisso.

Mas a Paizo tinha noção de que diferente de um caminho percorrido de uma década com um estoque de inúmeras aventuras, Pathfinder 2E estaria engatinhando em seus primeiros tempos, ou seja, começaria com poucas aventuras e gradativamente iria ganhando mais e mais. E para o mercado brasileiro isso seria ainda um pouco mais lento, visto a necessidade de ter o material lançado lá fora, enviado para a editora brasileira, traduzido, diagramado e lançado. Uma demora natural também.

Assim a Paizo lançou um pequeno PDF junto do lançamento de sua segunda edição que serviria como manual rápido para conversão do Pathfinder 1E para Pathfinder 2E. dentre as suas seis páginas, uma pequena seção era dedicada à aventuras com algumas dicas. Pouco mais de um mês depois do lançamento oficial de P2E, lá em finais de setembro de 2019, Luis Loza, um dos desenvolvedores de Pathfinder 2E, lançou mais algumas dicas e teceu comentários pertinentes sobre as conversões de aventuras. Considero que unindo os dois tenhamos um ótimo material para a conversão das aventuras.

- O primeiro ponto que temos que deixar claro é: o que é necessário converter nas aventuras? Quando pegamos uma aventura pronta temos que entender que ela representa um recorte no tempo do cenário. Ela apresentará situações pontuais e momentos da história do cenário que podem ser passado, futuro ou algo atemporal. O cenário descrito em P2E é o futuro do que temos em P1E, mas para a aventura em mãos isso não importa. Mestre e jogadores podem conhecer a história do cenário de trás para frente, mas devem se ater naquilo que a aventura pressupõe que os personagens sabem e isso independe de edição ou conversão.

As conversões deverão estar centradas naquilo que realmente influencia as mecânicas de jogo: estatísticas de NPCs, de monstros, armadilhas e CDs variadas. Luis Loza diz que conforme o conhecimento e segurança do mestre, isso poderia ser feito simultaneamente à aplicação da aventura, sem necessidade de conversão prévia. Eu discordo um pouco disso. Seria necessário um mestre com um amplo e afinado conhecimento das mecânicas de ambas as edições e com uma memória brilhante para saber onde achar as informações... e olha que nem temos a vantagem Memória Eidética nesse sistema!

Piadas à parte, considero que uma boa leitura prévia da aventura, com a separação das informações e estatísticas necessários é o mínimo que o mestre deva fazer. Quebrar o ritmo da narrativa ou de uma cena para procurar um bloco de estatísticas é extremamente anticlímaático. Como mestre seja prevenido e cuidadoso. Antecipe essa procura de informações e mantenha o ritmo da aventura para diversão de seus jogadores.




- Como faço com as criaturas da aventura? Uma boa parte da ação nas aventuras vem de combates. Aqui temos duas opções. Muitas das criaturas são substituíveis. No pdf da Paizo eles indicam que você simplesmente substitua os blocos estatísticos de criaturas e monstros das aventuras de P1E pelas informações que estariam disponíveis no Bestiário de Pathfinder 2E. Isso funciona muito bem... em parte. Ora, a Paizo não tem seis bestiários lançados lá fora para P1E à toa, fora pilhas de monstros que estão nos APs e suplementos variados. É uma enormidade de criaturas e monstros lançados em uma década.

Com toda a certeza muitas criaturas das aventuras que pretendemos converter não estão no primeiro bestiário para P2E. Possivelmente os seres mais comuns poderão ser encontrados, mas tenho certeza que a maioria não. A Paizo sempre teve a prática de suas aventuras, e principalmente os Adventure Paths, para introduzir novas criaturas e seres no cenário justamente para ampliar o rol de possibilidades dos bestiários lançados. Entenderam porque eu afirmei que precisamos de uma preparo prévio por parte do mestre?

Em uma postagem do ano passado nós traduzimos um passo a passo para converter monstros de P1E para P2E (AQUI). São procedimentos que não geram perfeição de resultados, mas realizam uma interessante adequação de materiais. Caso a aventura que você decida converter tenha alguma das criaturas fora do primeiro Bestiário para P2E, sugiro seguir esse passo a passo.

Uma alternativa mais simplista é apenas procurar criaturas com nível semelhante em P2E. Mas pense bem antes de usar essa opção, pois pode tirar muita da ambientação da aventura e dos encontros.


- E as armadilhas? Com as armadilhas a coisa fica um pouco mais fácil. Normalmente as armadilhas são mais pontuais e menos variadas no sentido de facilmente conseguirmos adaptá-las para coisas análogas. Ora, uma Galeria de Dados Envenenados (armadilha Perigo 8 para P2E, página 527 no Livro Básico) pode representar uma grande variedade de armadilhas com o mesmo estilo, necessitando apenas que adaptemos a ‘cosmética’ da narrativa. Fora isso, danos, efeitos e condições impostas precisarão apenas que o seu tipo seja adaptado.

Calma, eu sei que as CDs dos testes são importantíssimas, mas falarei disso mais adiante. De qualquer forma temos no Livro Básico uma seção chamada Perigo, nas páginas 520-529, dentro do capítulo Mestrando, apresentando e detalhando como lidar com as maravilhosas armadilhas.


- Como proceder com as Classes de Dificuldades? Isso requer um pouco mais de trabalho e mais um dos motivos pelos quais eu considero arriscado converter uma aventura ‘enquanto se joga’. Por que isso é tão importante? Classes de Dificuldade é o valor que mensura quanto o jogador deverá superar em sua jogada de dados para saber se ele foi ou não capaz de realizar algo. Em uma aventura os jogadores estão constantemente tentando realizar ‘coisas’. Conseguir comida com caça, arrumar uma informação, convencer alguém de algo, desarmar uma armadilha ou simplesmente pechinchar por acomodações na estalagem da vila. As aventuras vêm normalmente com muitas dessas CDs e mesmo que seja fácil perceber qual perícia usar ou salvamente realiza, nem sempre a conversão do valor o será.

O próprio desenvolvedor da Paizo, Luis Loza, nos dá uma dica maravilhosa – “você pode deixar as CDs como estão, pois na grande maioria das vezes as CDs no P1E são muito semelhantes aos CDs no P2E”. Segundo ele, fazendo uma comparação entre as tabelas de Classes de Dificuldades e as regras para criação de CDs e como elas trabalham, do suplemento Ultimate Intrigue, para P1E, com a tabela 10-5 do Livro Básico da segunda edição (página 503), os valores para os vários exemplos de situações comuns e medianas são muito próximos. As CDs iniciais de P1E são ligeiramente mais altas do que seria em P2E, mas vão se alinhando.

Então use as mesmas CDs que são apresentadas das aventuras de P1E. Se tiver dúvidas, você pode conferir as tabelas 10-5 e 10-6, na página 503 do Livro Básico de P2E em português, para conferir as CDs por nível e CDs por nível de magia.


- Tesouros também precisam ser convertidos? Sim, e com atenção especial. A regra de conversão aqui pode parecer um pouco exagerada, mas é necessária para se enquadrar nas concepções de P2E. os tesouros encontrados devem ser substituídos por uma fração dele equivalente à 1/10 do valor. Sem reclamações, ok? Se o grupo de aventureiros encontro na aventura de P1E um tesouro, por exemplo, de gemas equivalente à 100 peças de ouro, reduza para 10 peças de ouro. Muitos dos tesouros encontrados nas aventuras são no formato de informações, equipamentos, provisões, etc. Mas quando for algo equiparado à um valor ‘monetário’, faça a conversão.

Por exemplo, no Adventure Path de P1E Ironfang Invasion: Trail of the Hunted, logo no início da aventura os personagens encontram na loja destruída de um alquimista um pilão de mármore no valor de 50 peças de ouro. Convertendo seu valor para P2E, teria um valor de 5po. Simples. É importante ressaltar que há justificativa para isso. Em P1E a unidade monetária era o ouro, enquanto que em P2E é a prata, que justamente tem uma equivalência de 1/10.

Isso nos leva a pensar nos itens mágicos encontrados durante as aventuras. Há grandes variações entre valores e níveis de itens entre P1E e P2E. Por exemplo, um Anel de Natação em P1E é um item de 2500 peças de ouro e que em muitas aventuras é disponibilizado já para personagens de 3º nível. O mesmo Anel de Natação em P2E (página 606) é um item 12º nível com valor de 1750 peças de ouro. Apenas pela conversão de valores já vemos que há algo de muito diferente aqui. Convertendo o valor do anel de P1E, ele valeria 25po, ou seja 1725 peças de ouro à menos.

Se a intenção é converter a aventura para a mecânica e concepções de P2E é necessário muito cuidado aqui. Sabemos que muitos dos itens disponibilizados durante uma aventura pronta terão alguma importância logo adiante. São sempre, o que chamamos no teatro, de armas de Chekhov. Nós não podemos simplesmente tirar o item de jogo. Ao mestre cabe duas coisas. Leia bem a aventura. Se o item for apenas de valor financeiro e sem influência alguma no andamento futuro da aventura, simplesmente o substitua por algo de valor condizente e que se encaixe na história narrada. Se for uma peça importante para o andamento da aventura tome mais cuidado. Procure por itens valores e níveis menores, mas que tenham um efeito semelhante, ou crie você mesmo o item necessário.


- Para encerrar, os NPCs. As aventuras são repletas de NPCs que funcionam como interlocutores das informações que os personagens precisam para avançar na aventura. Muitos desses encontros são resolvidos com as CDs adequadas e já abordamos isso anteriormente. Mas muitos deles possuem habilidades especiais, como converter? Aqui vale apontar que as dicas para conversão de monstros valem em sua maioria para NPCs. Grande parte nem precisará disso. Por exemplo, no Advenutre Path para P1E War of the Crown: Songbird, Scion, Saboteur, boa parte dos personagens tem indicados apenas CDs para disputas de interação, onde as superações desses testes concedem aos jogadores informações. Claro que o mestre sempre poderá recriar todos os NPCs da aventura usando as regras de criação de personagens do Livro Básico de P2E, mas seria trabalhoso e desnecessário.



Finalmente
Converter uma aventura pode ser um pouco trabalhoso para quem olha de fora, mas com toda a certeza será muito prazeroso de ser executada ou jogada. Ao longo da primeira conversão o mestre demorará um pouco mais para ter certeza que fez todos os ajustes necessários, mas nas conversões posteriores a tendência será de maior rapidez. Comece com aventuras para níveis baixos e convertendo seguindo a evolução da aventura. Adventure Paths são ótimos para isso.

Teste, converta e experimente para perder o receio e se sentir mais seguro. Há todo um universo de dezenas de aventuras de Pathfinder 1E esperando por você.

Bons jogos!

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