Pathfinder Segunda
Edição
Testamentos da Canção
do Vento: Ira da Criação
Demorou menos de um dia para os
primeiros sete mundos terminarem.
Antes dessas sete mortes
planetárias, antes de o Plano Material começar sua jornada através das Eras, os
deuses não haviam concebido que um deles iria causar tal ruína. Afinal, o reino
mortal pretendia ser um lugar para os fiéis de todas as divindades aprenderem e
crescerem. Por que, então, uma divindade procuraria destruir o que deveria ser
para todos? Naqueles tempos primitivos, antes dos dias serem dias, pode-se
dizer que até os deuses eram ingênuos.
As glórias e horrores da esfera
externa há muito haviam se fundido nos nove planos exteriores após a Primeira
Caminhada de Pharasma. A Esfera Interior permaneceu vazia da vida mortal por
algum tempo, uma lousa em branco que atraía cada vez mais a curiosidade de
inúmeras imaginações divinas. A criação do Primeiro Mundo foi uma escolha
sábia, pois permitiu aos deuses praticar as complexidades da criação,
refazê-las e reescrevê-las, e finalmente estabelecer um método para a
elaboração da Miríade no Plano Material.
Quando eles se voltaram para o
universo sombrio no coração da Esfera Interna, já havia habitantes - entidades
que restavam de outras realidades, mas eram poucas e distantes entre si e
pareciam satisfeitas em dormir. Os deuses as mantiveram em mente quando
voltaram sua atenção para a Obra e estavam prontos para reagir caso esses
deuses exteriores notassem suas criações.
Os Oradores das Profundezas
dificilmente poderiam se preocupar em ajudar no trabalho, mas também não se
opunham ao ato de trazer ordem do caos dentro da Esfera Interior e, nesse ato,
forneceram o auxílio que podiam. Desna iluminou as estrelas, para que a luz
delas alcançasse o céu da miríade. Sarenrae deu vida aos sóis daqueles inúmeros
mundos onde a criação começaria. Ihys e Asmodeus, ainda não irmãos brigados,
começaram a trabalhar criando os primeiros quadros mortais. Achaekek ficou
sentinela à beira do Pináculo, um árbitro imparcial para supervisionar a
propagação da realidade. E o Oinodaemon esperou no lugar mais sombrio para
receber a morte dos mortais no mundo.
E quando tudo foi posto em
prática, Pharasma tocou a fonte do Rio das Almas e começou o fluxo da vida
mortal em todos os mundos. Rovagug, a Besta Violenta, que se ocupara da eterna
tarefa de escavar as Fendas Exteriores, tomou nota. Ele rastejou das fendas,
escalou o Pináculo e saltou de sua borda para atravessar o Mar de Prata. Ele
quebrou a Casca Elemental e invadiu o Plano Material e se glorificou no
banquete diante dele. Ele consumiu sete mundos antes de verem o primeiro pôr do
sol, mas achou a comida sem sabor. Mundos sem nomes... mundos sem histórias...
mundos sem nada a perder eram insatisfatórios para a Besta Violenta, e ele não
lutou muito quando os deuses, horrorizados com o ataque destrutivo, o levaram
de volta às Fendas Exteriores. Desna ergueu a Cynosure Sevenfold como um memorial
para os sete primeiros mundos destruídos, e os deuses juraram em seus degraus
que, se a Besta Violenta retornasse, também voltariam a enfrentá-la novamente.
Muita coisa aconteceu durante a
primeira era - a Era da Criação. Novos deuses como Calistria e Dou-Bral, Torag
e Gorum, ou Dahak e Apsu surgiram e começaram a criar seus próprios domínios. A
vida cresceu e evoluiu dentro do Plano Material, e com o tempo a sapiência
também. A princípio, a vida mais inteligente consistia em intrusões de outros
lugares, como as visitas dos xiomorns a muitos mundos, ou a propagação de
alghollthu pelos mares escuros que sempre haviam governado. Mas com o tempo, os
próprios mortais descobriram fé e livre arbítrio, e a sapiência tornou-se a
centelha que queimaria a Era da Criação em cinzas.
Foi essa centelha que levou
Asmodeus a trair seu irmão Ihys, que incentivou o fluxo do livre-arbítrio
através dessas mentes mortais famintas. A guerra se espalhou à medida que a
brecha entre Asmoedus e Ihys cresceu, e o primeiro conflito verdadeiro entre os
deuses viu a morte e a devastação em uma escala que o Grande Além nunca havia
suportado. O assassinato de Ihys por Asmodeus acabaria com a guerra, mas não de
maneira que alguém pudesse prever, pois esse ato final teria repercussões. Foi
essa traição que chamou a atenção de Rovagug de volta à realidade também.
Quando o Grande Além se retirou da guerra, Rovagug deslizou despercebido de
volta ao Plano Material e alimentou-se do mundo no qual Asmodeus havia atraído
primeiro e depois matado Ihys. A Besta Violenta se deleitava com o sabor de um
planeta que morria gritando, seus habitantes agonizavam com seu apocalipse, e
assim de mundo para mundo Rovagug se moveu, se alimentando e destruindo
impunemente.
Nestas eras finais da Era da
Criação, os deuses sofreram. Groetus subiu acima do cemitério pela primeira
vez. Achaekek enlouqueceu e consumiu sua própria imparcialidade para se tornar
pouco mais que um animal irracional por muitas eras. O Oinodaemon roeu as almas
desesperadas daqueles apocalipses planetários e se tornou o Primeiro Cavaleiro
de Abaddon. E Rovagug continuou a se alimentar, deslizando de um mundo para
outro e deixando cataclismos em seu rastro. Quando mundo após mundo morreu, a
devastação desfez o que os deuses haviam feito. Foi Sarenrae quem finalmente percebeu,
que convocou os deuses a honrarem seu voto antigo, que implorou para que se
juntassem a ela novamente nos degraus da Cynosure Sevenfold. Muitos, mas não
todos, responderam, mas, no momento final, até Asmodeus retornou, talvez
esperançoso em fazer as pazes por seu ato, ou talvez vendo outra oportunidade
de ganho pessoal.
Uma nova aliança nasceu naquele
dia em que Rovagug voltou sua atenção para três mundos diferentes - Androffa,
Golarion, Terra - e quando suas ações começaram as devastações, os deuses
começaram o trabalho que terminaria com a Era da Criação. Wily Calistria
distraiu Rovagug de seu banquete, poupando os três mundos e concentrando seu
olhar no menor deles - Golarion, um mundo mais jovem que suas duas irmãs em
perigo. Torag e Gorum trabalharam juntos sob a orientação de Pharasma, dentro
de Golarion, para criar o Primeiro Cofre, um semiplano metafisicamente aninhado
que poderia conter a Besta Violenta. Abadar forneceu a chave e a fechadura
perfeitas para manter a prisão fechada, uma chave tão ardilosa na construção
que apenas Asmodeus poderia girá-la. Dou-Bral colocou as Torres das Estrelas em
torno de Golarion e preparou-se para atacar na hora certa. E quando o Primeiro
Cofre estava completo, Calistria atraiu Rovagug para a armadilha. Lá, ele foi
emboscado por Sarenrae e Desna, Apsu e Dahak, Erastil e Gozreh, e muitos outros
que cairiam em batalha contra os maxilares de Rovagug e seriam esquecidos para
sempre. Mas quando Rovagug entrou completamente na armadilha, Sarenrae abriu o
mundo e deu a Rovagug um golpe devastador, enviando a Besta para o Primeiro Cofre.
Dou-Bral acordou as Torres da Estrela e elas lançaram-se ao mundo, costurando
Golarion e perfurando Rovagug por dentro, atordoando a fera por tempo
suficiente para Asmodeus girar a chave na fechadura.
E com isso, o mundo jovem de
Golarion se tornou a gaiola. A Era da Criação terminou e as Eras que se
seguiram começaram. E enquanto a gaiola continuar girando, enquanto a Besta Violenta
permanecer dentro dela, essas Eras nunca mais vacilarão e morrerão.
- James Jacobs
Sobre os Testamentos de Canção do Vento: Nas
regiões ao norte da Costa Perdida de Varisia, fica a Abadia da Canção do Vento,
um fórum para discussões inter-religiosas guardado por sacerdotes de quase
vinte credos e liderado por um legado de Ábade Mascarado. No início da era dos Presságios
Perdidos, a Abadia da Canção do Vento sofreu enquanto seus fiéis lutavam e
fugiam, mas hoje começou a se recuperar. Uma nova Abadessa Mascarada guia um
novo rebanho, e os Testamentos da Canção do Vento - parábolas sobre os próprios
deuses - estão novamente sendo registrados dentro das paredes da abadia. Alguns
desses testamentos são apresentados aqui como mitos e fábulas de Golarion.
Algumas partes podem ser verdadeiras. Outras partes são certamente falsas.
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