segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Resenha: Penumbra - um RPG leve e de personalidade


Resenha: Penumbra
- um RPG leve e de personalidade -


Recebemos Penumbra, novo RPG de Marcelo Paschoalin, da editora Letra Impressa, para leitura e resenha e estamos aproveitando o início de seu financiamento coletivo para adequadamente postarmos aqui nossas impressões.

Primeiramente eu quero falar sobre o autor. Marcelo Paschoalin é uma dessas cabeças pensantes do RPG nacional que acredito ter mais idéias para RPGs do que células no corpo. À cada temporada ele nos apresenta uma série de produtos incríveis. Ele forma uma trilogia atual que respeito muito quanto à produção de RPG no Brasil juntamente com Jorge Valpaços e Diogo Nogueira. O nome de qualquer um desses três na capa significa qualidade.

Penumbra é um ótimo exemplo de como funciona o trabalho do Marcelo. Um enredo muito bem construído, com referenciais históricas e repleto de elementos para embasar/construir as aventuras, mas sem o exagero de meia centena de páginas de nomes difíceis e parentescos intrincados. O trabalho do autor, para quem já leu seu material, se foca muito mais no que o grupo – mestre e jogadores – conseguirão construir juntos comas informações e expectativas que possuem e não em roteiros hermeticamente fechados. 

Esse RPG se passa em um cenário que pode ser o nosso mundo, nossa realidade. Mas esse mundo tem uma contra parte sobrenatural e sombria repleta de perigos inomináveis que nos espreitam. Entre esses dois mundos está a Penumbra, o tênue limite entre os mundos que de tão fino quase se confundem. Nesse ambiente vivem seres que ou estão longe dos humanos normais ou tem o conhecimento para perceber que o sobrenatural é real. Os penumbrais, aqueles que forma tocados pela penumbra de forma, vivem entre tentar se manter vivos, seja lutando contra o mundo ou contra outros penumbrais, e aqueles que desejam proteger o mundo.

A estrutura dos personagens de Penumbra se baseia nos elementos – ar, fogo, terra e água – e como esses elementos interagem na criação dos seres penumbrias. A história do cenário que mostra esse enredo é sensacional. São quatro penumbrais. O Ferais (se transformam em animais), os Desmortos (que dependem de sangue para viver), os Iniciados (manipuladores de magia) e os Mundanos. Na relação desses tipos de pernumbrais com o mundo e com o sobrenatural é que nossas sessões se desenrolarão. Controlar a sociedade humana, tentar viver isolado, livrar o mundo dos penumbrais rivais, proteger a sociedade, não importa a agenda, o conflito é inevitável.

As regras são outro ponto interessante do sistema. O autor monta um sistema enxuto e simples, mas não simplista. Ele deseja que hajam resoluções, mas não com exageros com todas as pontas imaginadas de antemão O sistema usa dados de seis lados e lembra um pouco a sistemática de sistemas no estilo Savage World, com explosão de dados levando à mais dados bônus nas jogadas. Eu particularmente gosto muito dessa mecânica porque mais do que inflar um personagem, jogamos coma sorte com a ferramenta que temos em mãos.

A construção dos personagens se baseia em quatro atributos (Físico, Intelecto, Presença e Vontade) com escalonado grau de importância representado por uma variação de quantidade de dados – de 4d6 à 1d6. As perícias são adquiridas conforme o grau do atributo relacionado onde a escolha está aberta conforme o desejo do jogador e conforme o seu perfil de personagem.  Cada personagem, escolhendo um dos quatro penumbrais, recebe uma origem (que concede um bônus) e uma aptidão (que concedem poderes).

Cruzando a mecânica de dados e a forma de construção do personagem e podemos compreender facilmente o funcionamento de Penumbra. As jogadas se constroem em rolagens de d6 onde 5 e 6 são sucessos e um d6 permite a rolagem um novo d6. Perícias que possam ser agregadas à rolagem adicionam d6 bônus. Ou seja, mais dados, mais chances de tirarmos um d6 ou de termos sucesso. Quanto maior o grau de sucesso, mais impressionante o resultado alcançado. Os combates funcionam com jogadas de disputa direta de dados entre atacante e defensor, com vitória de quem obtiver maior sucesso, e os danos podem ser absorvidos em jogadas. A vida perdida influência diretamente a mecânica de jogadas visto que impõe penalidades nas jogadas. Ou seja. Um sistema simples, fácil de ser entendido e aprendido, leve e sem burocracia.

As quase cem páginas desse interessante RPG trazem tudo o que precisamos – cenário envolvente, personagens claros, mecânica simples e recursos para infindáveis aventuras (capítulos finais com elementos para cenários e enredos).

Já podemos dizer que Penumbra é uma realidade. O financiamento coletivo que iniciou nessa segunda-feira precisou apenas de algumas horas para atingir sua meta inicial e antes de terminar seu primeiro dia já tinha alcançado mais de duzentos por cento. Ele possui uma série de três metas extras (com Guia do Mestre e Guia do Jogador entre elas) que no meu ver serão facilmente batidas nesses pouco mais de trinta dias de financiamento.

Temos ainda dois diferenciais nesse projeto. O primeiro deles é toda uma sessão inicial do primeiro capítulo trabalhando com os leitores sobre contrato social em nossas mesas de RPG, demonstrando aquilo que já conheço do autor – sua consciência quanto à nossa responsabilidade em relação à boa e respeitosa prática do RPG. A segunda é que uma porcentagem do valor líquido do financiamento será destinado à uma entidade beneficente escolhida pelos participantes ao final do projeto.

Meu veredito é que você merece um RPG como penumbra. Pela leveza e simplicidades de algo feito com dedicação, cuidado e esmero. Adoramos os RPG de centenas de páginas com décadas de lore, mas há espaço mais que suficiente para jogarmos essas preciosidades.

Eu já apoiei. E você?



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