Resenha de Aliens RPG
edição em português
Alguns
anos atrás, quando vi pela primeira vez o anúncio de que um RPG para a franquia
Alien seria lançado, torci muito para que ele chegasse ao Brasil. Ele ser
lançado por uma grande e premiada editora de RPG mundial, a sueca Free League
Publishing, já era um ótimo indicativo de que isso seria possível... e isso se
tornou realidade. Alien RPG já está entre nós, em português, lançado pela New
Order.
Sempre
fui um grande fã tanto da série de filmes quanto dos quadrinhos. Ainda lembro
da primeira vez que assisti Aliens: o Regaste no cinema, em 1986. Eu tinha
recentemente assistido Aliens: o 8º Passageiro em vídeo (este eu só vi em VHS
já que em seu lançamento eu tinha apenas sete anos), em casa, e fui ao cinema
esperando o mesmo turbilhão horror e suspense. A experiência de vivenciar na
telona o medo vivido pelos personagens foi ainda maior e mais intensa do que o
esperado e me marcou para sempre. Ainda assisti ele mais duas vezes no cinema
naquele mesmo mês.
Muitos
anos depois, quando já dentro do mundo do RPG, sempre tive aquela vontade de
ver Aliens em uma mesa, com um competente mestre fazendo seus jogadores suarem
frio. Embora muitos sistemas genéricos fossem (e ainda são) propícios para a
criação de aventuras que usem a franquia Aliens como foco, sempre considerei
que ela merecia uma publicação somente sua. Com um cenário muito maior do que o
apresentado nos filmes, era necessário que uma publicação rica em informações e
exclusiva em dados e regras fosse lançada para dar o suporte adequado aos
jogadores na recriação do mesmo ambiente, possibilitando aventuras que pudessem
ir muito além de um simples ‘horror em uma nave espacial’. Alien RPG é esse
livro.
Eu
já tinha dado uma boa olhada na edição em inglês, mas esperei a edição em
português da New Order ser lançada para lê-lo novamente e fazer uma resenha
adequada baseada nela. Vamos lá?
Qual
o grande diferencial de Alien RPG? A Free League conseguiu algo que realmente
não é fácil e normalmente é a grande falha em livros centrados em horror de um
cenário específico. Eles conseguiram emular para dentro do RPG o medo, o
horror, a antecipação do inesperado típico dos filmes dessa franquia. Pode-se
dizer que aqui o cenário ajuda muito, mas a forma como as regras se encaixam à
ele é que tem um grande valor em seu ótimo resultado final. E qual o segredo
disso? Simples – as regras não foram mais importantes que o ambiente. As regras
se encaixaram no cenário e não o contrário.
As
regras básicas seguem uma sistemática simples, fluída e agradável que o Year
Zero Engine proporciona - o sistema escolhido para o Alien RPG. Você quer
acabar com a emoção ou imersão de um cenário é só atravancar a fluidez da
condução do jogo com regras complexas. A Free League já tem um grande histórico
de uso dessa mecânica em seus produtos... e como diz o velho ditado: “em time
que está ganhando não se mexe”. Ele usa um sistema baseado em d6 onde todos os
testes são solucionados com a construção de um conjunto de dados levando em
consideração estatísticas do personagem e perícias treinadas por ele adequadas
à ação. O número procurado é ao menos um resultado “6”, que significa sucesso
na tentativa do que quer que seja que o personagem está tentado fazer.
Isso
podem parecer simples (ou simplista), mas o ponto central que consegue
sustentar o horror no sistema está justamente aqui. O ajuste de
estatísticas dos personagens propicia que qualquer coisa na qual o personagem
não seja especialista seja arriscado de ser feito. E em um cenário como esse, a
falha é normalmente brindada com a morte terrível e dolorosa.
Junto com essa premissa sustentada pela mecânica, temos os Dados de Estresse. Sempre que o personagem está desesperado por um sucesso (onde ele pode falhar por não ser especialista) ele pode forçar uma rolagem rolando novamente dados que não tenham obtido sucesso, mas esses dados extras podem adicionar Estresse ao seu personagem (simbolizado pela imagem de um xenomorfo no número 1 dos dados amarelos), que vai literalmente se acumulando às jogadas do personagem e possibilitando que esse estresse se torne insuportável. O estresse também significa dados extras em rolagens... bom? Sim, mas sempre com a possibilidade de gerar mais e mais estresse. O estresse pode ser acumulado por vários outros motivos também (sofrer um ferimento grave ou ver um aliado morrer violentamente, entre outros). Em alguns casos isso até pode ajudar nas rolagens, mas quando o estresse ultrapassa o suportável ele leva ao pânico do personagem.
Grupo
e mestre sabendo gerenciar essa dinâmica entre necessidade, rolagens e estresse
e o palco estará pronto para incríveis cenas de tensão e horror em um ambiente
típico da franquia Aliens. Uma tensão crescente conforme a aventura se desenrola
e o horror aumenta. A forma simples e inteligente com que o sistema coloca o
jogador na posição de se ver obrigado a trabalhar com isso, muitas vezes tendo
que se atirar de braços abertos no risco, mesmo sabendo seu preço, é genial e
crucial para este cenário. Some à tudo isso um detalhezinho na ficha chamado Meta
Pessoal – que determina um agenda particular de conduta ou interesse pessoal
do personagem que ele interpretará (ou esconderá) – e temos tudo pronto para
emoção pura.
Mas
e se o grupo deseja algo dentro do cenário, mas fora do horror. Lembram que eu
disse que Aliens merecia um livro só dele por ser muito mais do que uma simples
história de horror espacial? Pois há todo um universo de informações sobre o
cenário que vão muito além de xenomorfos querendo acabar com sua vida. Você
pode jogar Aliens RPG no modo Campanha, em contraposição ao modo
Cinematográfico. O modo cinematográfico emula como se estivéssemos dentro de um
dos tantos filmes da franquia onde a missão urgente inevitavelmente te colocará
contra os mortais xenomorfos.
Já
o modo campanha tem mais conteúdo fora do simples horror. O cenário de Aliens é
repleto de exploração espacial e missões militares. Ok, normalmente você dará
de cara com xenomorfos - ora, é um RPG de Aliens -, mas esse não será o foco
central no modo campanha. Há perigos terríveis além dos xenomorfos espalhados
pelo espaço e muitas vezes esse horror está nos próprios humanos e seus
interesses.
De
qualquer forma seja, modo campanha ou modo cinematográfico, todos eles poderão
mesclar ou misturar narrativas, oscilando entre mais ou menos horror.
Dessa
forma o livro gasta as cento e cinquenta páginas iniciais para nos apresentar
mecânicas de jogo, construção de personagens e tudo o que for relacionado com equipamentos.
As duzentas páginas restantes são uma incrível viagem tanto pelo cenário da
franquia, bem como em informações para construção, emulação e gerenciamento do
cenário. As informações e dicas vão de modelos de naves à corporações e seus
interesses, de xenomorfos à outras criaturas, de construções de campanhas à
como conduzir lima aventura de horror. É um verdadeiro deleite.
Estruturalmente
eu gosto muito do resultado final do livro. Inicialmente eu achava que a
leitura ficaria pesada com as páginas escuras e os efeitos sombrios que o
cenário impõe, mas a verdade é que a baixa saturação das cores dos textos e das
caixas de texto ajudaram muito. A leitura transcorre leve. Além disso, para
quem é fã (e mesmo para quem não é) a composição de imagens é incrível. Não
faltam referencias para suas aventuras. A tradução, do pouco que posso opinar,
está muito boa.
Resultado
Muito
mais do um RPG baseado em uma franquia de sucesso, Aliens RPG é uma obra
competente e impecável para quem gosta não apenas de cenários de terror, mas de
ficção científica. Amplo à ponto de abranger essas duas categorias, ele permite
emoções distintas em sua mesa conforme a expectativa e os gostos do seu grupo
de jogadores. Isso possibilita um tempo de vida longo para ele em suas mesas,
mesmo com um grupo constante. Posso ser muito suspeito em dizer isso por minha
relação com a franquia, mas eu considero Aliens RPG como uma obra próxima da
perfeição, dentro de sua proposta.
E
lembre-se... No espaço ninguém escutara seus gritos!
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