Pathfinder Segunda
edição
Contos
O Sudário dos Quatro
Silêncios
Capítulo 9: Os Tuneis
Para
Eleukas, os tuneis dos Presas Faiscantes era nada menos que um pesadelo.
Ele
viveu sua vida ao ar livre e no sol quente, seu mundo limitado pela brisa
salgada, o horizonte infinito do porto de Otari e a rica majestade verde de
suas florestas. Aventurar-se no subsolo, onde estava quase dobrado ao meio e
perpetuamente consciente do peso de incontáveis toneladas de terra, parecia-lhe
ser enterrado vivo.
Não
era nem mesmo um túmulo tranquilo. Gristleburst estava certo: os zumbis
enterrados nas paredes eram apenas o começo. Wendlyn desarmou mais de uma dúzia
de armadilhas, variando de espinhos ocultos e lâminas carregadas de molas a
quedas mortais e frascos de gás corrosivo, enquanto eles abriam caminho pelos
túneis dos Presas Faiscantes. Uma vez ela não notou uma cesta de aranhas
venenosas a tempo, e os aracnídeos frenéticos do tamanho de punhos caíram em
suas cabeças, embora pelo menos a maioria das aranhas já tivessem se matado
enquanto estavam presas dentro da cesta.
Eles
nunca viram kobolds, pelo menos não os vivos. Por duas vezes o túnel subiu de
volta à superfície, ampliando-se em fogueiras comunitárias e viveiros de peixes
projetados para captar água da chuva e luz do sol o suficiente para sustentar o
suprimento de comida dos kobolds. No entanto, mesmo aqui, nas antigas pedras
angulares das vidas compartilhadas dos Presas Faiscantes, havia apenas desuso e
decadência. Os prédios pareciam ter sido tão completamente abandonados quanto o
território dos goblins Quebra-Gaivotas, e era difícil não pensar que o motivo
de sua ausência era o mesmo.
“Talvez
os imundos os tenham transformado em zumbis”, disse Wendlyn quando pararam
para uma refeição fria e sombria em meio aos restos de uma antiga horta. “Talvez
a rendição dos Presas Faiscantes tenha lhes dado algum tempo.”
“Presas
Faiscantes ainda estão vivos,” Gristleburst disse, cutucando um espantalho
mofado. Esculpida cruamente e pintada de forma espalhafatosa, retratava um goblin
corpulento com ameaçadores olhos vermelhos e um sorriso feroz que tinha sido
quase todo lavado pela chuva e pelo tempo. “Armadilhas ainda funcionando.
Zumbis não podem fazer esse trabalho.”
“Então,
onde eles estão?” Eleukas perguntou.
Gristleburst
apenas encolheu os ombros. “Mais fundo.”
Eles
se aventuraram em frente. O túnel parou de emergir e mergulhou mais
abruptamente na terra. Ele ficou ainda mais cru, com raízes rasgadas penduradas
nas paredes e o cheiro de solo recém-transformado pesado no ar. Ramos mais
largos e mais bem feitos se dividiam em outras partes do túnel, mas
Gristleburst os ignorou, permanecendo fixo no caminho que descia e descia
novamente.
“Onde
estamos indo?” Eleukas pressionou, mas Gristleburst não respondeu. Era como
se o goblin tivesse um ímã que nenhum dos outros poderia ver, e isso o guiou
cada vez mais fundo na casa dos Presas Faiscantes.
Se
esta fosse a casa deles. Eleukas não tinha mais tanta certeza disso. Os túneis
mudaram conforme eles correram mais fundo. Acima, eles eram rudes e primitivos,
mas as toras que sustentavam as tocas eram resistentes e exibiam a patina da
idade. O solo havia sido batido com força pela passagem de pés com garras ao
longo dos anos ou décadas. Até as armadilhas estavam armadas com cuidado e
preocupação: esse era o terreno que os Presasa Faiscantes pretendiam proteger.
Mas
nesta seção mais nova e inferior do túnel, as toras brutas vazavam riachos de
seiva manchada de solo. O solo era macio e cheio de marcas de garras. Mais de
uma hora se passou desde que Wendlyn havia encontrado a última armadilha, e ela
cedeu a liderança para Gristleburst, o que significava que ela não esperava encontrar
mais.
Isso
deu arrepios em Eleukas. O que os kobolds estavam procurando tão intensamente?
Por que eles não colocaram nenhuma armadilha aqui, depois de colocar tantas
surpresas inventivamente desagradáveis nas alturas do túnel?
Finalmente
Lisavet ergueu a mão para sinalizar uma parada. Eleukas olhou ao redor da
clériga, vendo que ela havia recebido o sinal de Wendlyn e Gristleburst, que
havia parado à sua frente.
Depois
do goblin, o túnel apenas... desapareceu. Um brilho feroz e taciturno subiu das
profundezas de alguma queda grande e precipitada, mas, parado atrás de seu
pequeno grupo, Eleukas não conseguia ver de onde ele estava vindo. Ele abriu
caminho para frente, em parte porque estava curioso, mas principalmente porque
sentia que se houvesse alguma ameaça pela frente, então ele deveria
enfrentá-la. Os deuses sabiam que ele tinha feito pouco até agora.
“O
que está acontecendo?” ele sussurrou para os outros.
“Gristleburst
diz que encontramos os Presas Faiscante. Tenha cuidado e fique quieto. Não
queremos que eles nos identifiquem.” Wendlyn fez um gesto para Eleukas se
achatar no chão. Ela se debruçou ao lado dele e, juntos, os dois espiaram pela
borda.
Quinze
metros abaixo, em uma vasta caverna iluminada por tochas alquímicas verdes
sibilantes, trinta ou quarenta kobolds cavavam freneticamente para desenterrar
enormes pedaços de pedra esculpida. Elas pareciam algum tipo de tábua, suas
faces cobertas por letras estranhas do tamanho do antebraço de Eleukas. As peças
escavadas foram colocadas cuidadosamente de lado em outra parte da caverna,
onde outros kobolds as escovaram meticulosamente sob o olhar atento de uma
figura encapuzada em mantos longos e obscuros. Outra figura vestida supervisionava
uma terceira equipe menor de kobolds, estes evidentemente encarregados de
montar as peças em sua ordem adequada. Grandes lacunas permaneciam no
quebra-cabeça, mas Eleukas podia ver que estavam pelo menos dois terços
concluídas.
A
escrita gravada naquelas placas de pedra largas era diferente de tudo que ele
já tinha visto. As letras enormes alternavam-se abruptamente entre linhas
angulares ásperas e arabescos extensos, uma enrolada na outra como videiras
subindo em pedra lavrada. As sombras se acumulavam nas runas cinzeladas, como
vazias na luz verde assustadora da caverna.
Algo
sobre o vazio absoluto daquela escuridão atraiu a memória de Eleukas. Isso o
lembrou do horror vazio que ele vislumbrou na floresta perto da Roda do
Gigante, quando tudo isso havia começado, e reacendeu um pouco do terror mudo e
trêmulo que ele sentiu então.
Essas
coisas estavam conectadas. Eleukas sentiu isso em seus ossos. O pesadelo que
cercava Otari tinha suas raízes aqui, na escrita daquelas placas quebradas.
Com
esforço, ele desviou o olhar das tabuletas para se concentrar novamente nos
kobolds e em seus supervisores encapuzados.
Feridas
e manchas flácidas afetavam a maioria dos kobolds. Muitos tinham os dedos
manchados ou atrofiados e as escamas eram acinzentadas, rachadas e descascadas.
Eles tropeçavam cambaleantes no trabalho, os olhos desfocados e as mandíbulas
ligeiramente flácidas. Eleukas não sabia se eles estavam doentes ou
envenenados, mas estava claro que algo estava muito errado com eles.
As
figuras encapuzadas eram mais difíceis de ler. Julgando por sua altura e
movimentos, eles eram humanos, ou perto disso, mas isso era tudo que ele podia
dizer. Mortalhas negras os cobriam da cabeça aos pés, obscurecendo tudo, exceto
as pontas dos dedos, e o brilho verde sem sombras das tochas alquímicas os
lançava em uma luz plana e distorcida. Eleukas não conseguia nem determinar a
cor das vestes. Cinza, marrom, azul - tudo parecia totalmente preto naquela
luz.
Ele
se afastou. Wendlyn recuou ao lado dele, e eles se afastaram da saliência para
que Lisavet pudesse olhar para a caverna enquanto o resto deles conferenciava.
“Não
podemos atacar daqui”, sussurrou Eleukas. “Temos que encontrar uma
maneira de chegar lá. Mas é isso. Essas placas. Há algo sobre elas... elas me
fazem sentir o mesmo que aquela coisa sem rosto que eu vi na floresta.”
“Você
ouve os sussurros através da máscara”, disse Gristleburst. O goblin franziu
os lábios, imitando um assobio silencioso. “Parece horrível, cheira mal.
Como segredos que você não quer saber. A voz de seu deus.”
“Temos
que detê-los”, murmurou Lisavet, tendo deixado a saliência para se juntar a
eles. Os olhos da clériga estavam brilhantes de lágrimas. “O que eles
fizeram com aqueles kobolds - o que fariam com Otari...”
“Duas
descidas”, Gristleburst disse a eles. “Primeiro, pode subir daqui.
Íngreme, difícil. Pode ser localizado. Mas eles não usam mais este túnel. Usaram
por um tempo, quando encontraram este lugar pela primeira vez, depois, quando
cavaram mais fundo, fizeram um novo túnel mais abaixo, em vez de carregar terra
tão alto. Então, talvez eles não pensem mais em verificar este. Então, podemos
nos esgueirar e provavelmente não seremos atacados de cima.”
“Outra
opção é subir novamente o túnel, encontrar um novo ramal e descer pelo túnel
inferior. Menos escalada, mais caminhada. Pode ser Presas Faiscantes guardando esse.
Depois, mais luta, sem surpresa.”
Eleukas
olhou para os outros. “Estou pronto para escalar, se vocês estiverem.”
Os anos nos campos de extração de madeira o ensinaram a manusear cordas e,
embora as vigas neste túnel não estivessem tão solidamente presas quanto ele
gostaria, ele ainda estava razoavelmente confiante de que poderia encontrar um
lugar seguro para ancorar a escalada.
Wendlyn
rastejou de volta para espiar pela borda novamente, estudando as figuras
abaixo. Depois de alguns minutos, ela voltou para junto dos outros, limpando a
sujeira dos cotovelos. “Não vejo sentinelas. Eles não parecem estar
vigiando. Os kobolds estão tão doentes e abatidos que não tenho certeza se eles
ainda têm a capacidade de prestar atenção em qualquer coisa, exceto em seu
trabalho enfadonho. E aqueles capuzes pesados mantêm os outros meio cegos e surdos. Eu não vi um único sequer
puxar seu capuz para trás. Então, talvez possamos nos esgueirar.”
“Eu
vou arrumar as cordas”, disse Eleukas, feliz por ser útil. Enquanto Wendlyn
ficava de olho nos Presas Faiscantes e seus acompanhantes, ele amarrou duas
cordas em vigas opostas, raciocinando que uma poderia segurá-las mesmo se a outra
cedesse. Quando ele ficou satisfeito de que elas eram tão sólidas quanto ele
poderia deixa-las, ele se voltou para seus amigos. “Tudo certo. Está pronto.
Todo mundo tem certeza?”
“‘Certeza
é uma palavra forte", Wendlyn respondeu, mas ela agarrou as cordas e
deslizou para baixo, rápida como um esquilo.
Gristleburst
reorganizou suas bombas novamente, prendendo várias delas ao redor de seus pulsos
magros em um par de pulseiras que ele podia mexer à vontade, e então desceu.
Lisavet hesitou por mais tempo, engolindo enquanto tentava não olhar para o
quão alto ela poderia cair, e então se lançou sobre a borda com determinação
implacável, sufocando as cordas em um aperto mortal.
Eleukas
lançou um último olhar para a caverna. Os Presas Faiscantes ainda tropeçavam
miseravelmente em seu trabalho. Seus supervisores encapuzados ainda estavam
envoltos em sigilo com a luz verde. Ninguém ergueu os olhos; ninguém gritou com
os intrusos.
A
própria indiferença deles o alarmava. Eles não tinham ouvido as explosões de
Gristleburst? Eles não sabiam que suas armadilhas foram acionadas? Por que eles
não estavam em guarda?
Cada
fibra de Eleukas gritava que isso era uma armadilha.
Mas
mesmo que fosse, não importava. Eles já haviam colocado suas cabeças nisso.
Ele
segurou as cordas e desceu da saliência.
Eleukas
estava a quinze metros da boca do túnel, balançando indefeso no ar, quando o
primeiro chifre soou. Seu berro ecoou pela caverna, estremecendo na luz
alquímica verde. Como um só, os kobolds e as figuras encapuzadas olharam para cima.
Eles
foram vistos.
-
Liane Merciel
Nota:
O Sudário dos Quatro Silêncios se passa na cidade de Otari, e serve como
introdução ao Abomination Vaults Adventure Path, que será lançada em janeiro!
Capítulo1 – Capítulo 2 – Capítulo 3 – Capítulo 4 – Capítulo 5 – Capítulo 6 – Capítulo 7
– Capítulo 8 – Capítulo 9
Material oficial Extra
Toolbox: Os tuneis
Tuneis,
às vezes, são exatamente o que uma história precisa, mas geralmente não são
muito divertidos em RPGs. Muito do sentimento de “não sabemos qual caminho
seguir” se perde quando os jogadores ao redor da mesa veem o mapa de cima para
baixo. Esta é uma maneira fácil de incluir uma experiência semelhante a um
labirinto em seus jogos.
Primeiro,
decida uma entrada, uma saída e uma área opcional, como uma sala com algum
tesouro ou uma pista útil - algo que não é necessário para os heróis
encontrarem, mas que pode ajudá-los. Você também deve escolher um obstáculo
menor em que os heróis possam tropeçar, que deve impor uma condição como ser
desajeitado, enfraquecido ou estupefato.
Vamos
aplicar isso a um túnel de kobold, apoiados em postes de madeira frágeis e mal tendo
condições o suficiente para humanos andarem. Os kobolds roubaram algumas
bugigangas da cidade e nossos heróis precisam recuperá-las. Em nossos tuneis kobold,
vamos usar o seguinte:
Entrada: A entrada do labirinto
é guardada por três combatentes kobold (Pathfinder Bestiário 222). Esse é um
encontro de dificuldade baixa para heróis de primeiro nível.
Saída: o centro do labirinto
é onde um kobold místico do dragão (Pathfinder Bestiário 223) e outro combatente
kobold esconderam as bugigangas roubadas. Este encontro é de dificuldade
moderada para heróis de primeiro nível.
Opcional: Os kobolds têm
uma sala para fazer armadilhas com um raio menor engarrafado, uma bolsa
emaranhapé menor e uma pilha com tudo o necessário para criar duas armadilhas
de espinhos.
Obstáculo: Os tuneis estão
cheios de armadilhas, como estrepes que se alojam em botas (ou pés!), cordas
entrelaçadas ou inconveniências semelhantes que tornam os invasores
desajeitados até que tenham tempo e espaço para se livrar dos espinhos, ganchos
e nós.
Nos Tuneis
As
passagens são tão estreitas que um herói deve liderar os outros. O herói na
liderança deve tentar testes de Sobrevivência CD 15, cada um levando 10 minutos
(esta CD deve ser apropriada para o nível do grupo; para heróis de 1º nível, CD
15 funciona bem). Outros heróis podem ajudar no teste de sobrevivência deste
líder (Pathfinder Livro Básico, pág 470). Depois de acumular quatro sucessos,
eles alcançam o centro dos tuneis. Os heróis podem retornar à superfície a
qualquer momento, refazendo seus passos, mas isso reduz os sucessos que
conquistaram a zero e, se retornarem, devem começar novamente.
Sucesso crítico O grupo faz um
bom progresso no labirinto, obtendo dois sucessos. Em seu primeiro sucesso crítico,
eles também localizam a passagem lateral que leva à sala de criação de
armadilhas e podem coletar os tesouros lá.
Sucesso O grupo obtém
um sucesso para resolver o labirinto.
Falha O grupo caiu em
uma armadilha kobold! Cada herói deve ter sucesso em um teste de salvamento em Reflexos
CD 15 ou estará desajeitado 1 até que esteja fora dos tuneis e leve uma hora
para se desembaraçar dos detritos. A falha nos salvamento de várias armadilhas kobold
aumenta esta condição, para um máximo de 3 desajeitados.
Falha crítica Como falha, e
os heróis inadvertidamente voltam para a entrada dos tuneis, perdendo qualquer
progresso que tenham feito.
Ron
Lundeen (Desenvolvedor)
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