Pathfinder Segunda
Edição
Encontros Icônicos: Medo,
Sorte e Ira
Olhando além de seu cavalete no movimentado Distrito
de Comércio de Niswan, os pensamentos de Thaleon vagaram mais uma vez. Eles
raramente ficavam parados, mas a vida dificilmente seria divertida se o
fizessem. Havia tantas novas sensações deliciosas para absorver, desde as pipas
dançando no alto até o chiado tentador do cozimento de vegetais de uma barraca
de comida próxima. Ele observou as cores do mercado, seus olhos se demorando em
um pequeno santuário onde um sacerdote estava desenhando a rosa de Shelyn em
pós coloridos. O elfo Rahadoumi não adorava nenhum deus, é claro, mas ele não
tinha nada além de respeito pela devoção e maestria ao longo da vida do velho
sacerdote enquanto seus dedos espalhavam sem esforço um verde vibrante ao redor
do exterior da rosa. Thaleon voltou ao seu próprio cavalete para pintar com o
olho da mente, as emoções do mercado como sua paleta. Ele misturou o ouro
vibrante do intelecto de um mercador astuto com o vermelho frustrado do cliente
que ela acabara de enganar em uma batalha de barganhas. Agora um pouco de verde
também, a cor do crescimento, flexibilidade, potencial...
Thaleon franziu a testa. Ele sentiu um verde, mas
era de uma variedade totalmente desagradável e oleosa, vindo de uma mulher em
vestes imaculadas, seus olhos vorazes vasculhando o mercado. Querendo se
aproximar, Thaleon firmou sua mente e procurou seus sentimentos até encontrar o
que precisava. Calma, tédio... não, apatia. O mais monótono dos cinzas,
totalmente normal. Sem sequer um encantamento, Thaleon se escondeu na emoção e
desapareceu de vista. Rápido e silencioso como uma sombra, ele deslizou pelo
mercado. A maioria lutaria para navegar em uma multidão, mesmo invisível, sem
esbarrar em um cliente ou empurrar um carrinho, mas Thaleon tinha décadas de
prática passando despercebido e há muito tempo aprendeu as consequências de ser
pego.
Os olhos da mulher encontraram seu alvo, e um
sorriso predatório se espalhou por seu rosto. A multidão diante dela se separou
instintivamente e, em poucos momentos, ela segurou sua presa em suas mãos, suas
unhas cravadas profundamente nos ombros do sacerdote. Enquanto o sangue se
acumulava em seu rastro, a mulher sussurrou uma única palavra: “Observe”.
Seus olhos brilharam naquele verde oleoso, o inconfundível redemoinho de magia
sobre eles. Thaleon não viu nada, mas sentiu o terror do homem, branco puro e
primitivo enquanto o sacerdote olhava com horror para um pesadelo que ninguém
mais podia ver. Ele caiu de joelhos e empurrou a cesta de oferendas próxima,
cheia de flores e algumas moedas. “Por favor, não eles. Pegue o que quiser
de mim, só não...” Suas palavras foram interrompidas quando ele vomitou nos
paralelepípedos. A mulher fez uma careta de desgosto. “Este é o seu último
aviso.” Com um aceno majestoso, ela se afastou, dividindo a multidão em seu
rastro.
As mãos de Thaleon tremeram. Ele queria aliviar o
terror e a dor do sacerdote, mas sabia que o homem não poderia encontrar paz
enquanto a ameaça do monstro pairava sobre ele. Ele alcançou a compaixão —
azul, tranquila como um céu sem nuvens — e a enviou fluinda para dentro do sacerdote,
acalmando o homem e fechando suas feridas. O sacerdote olhou em volta,
procurando a fonte das cores rodopiantes.
“Não se preocupe, pai,” Thaleon sussurrou do
ar vazio, “você não está sozinho.”
Ele apressou o passo e caminhou atrás da mulher. A
partir dessa exibição, ficou claro que tipo de monstro ela era. Tudo o que
Thaleon precisava era de uma chance, longe das bancas do mercado onde tantos
inocentes andavam, para mostrar ao demônio exatamente o que ele sentia sobre
suas ameaças. Por sorte, não demorou muito para que ela optasse por virar em um
beco isolado.
Thaleon não precisava procurar por sua fúria, estava
na ponta dos dedos, e ele a usou para pintar uma lâmina simples no ar, a forma
da lâmina que recebeu quando saiu de casa. Quando a lâmina disparou em direção
à mulher, a fúria vermelha queimou o cinza tranquilo que mantinha Thaleon
invisível, mas ele não teve medo de deixar o monstro ver seu rosto. Com um
rosnado felino, ela rolou para fora do caminho da lâmina, arranhando suas
vestes, antes de girar em direção a Thaleon. Suas mãos giraram também,
torcendo-se para trás e tecendo fios sombrios de magia.
Um grito agonizante ecoou na mente de Thaleon, reverberando
e dilacerando. Ele fortaleceu sua vontade contra a maré que se aproximava,
instintivamente contrariando cada onda de som psíquico até que o silêncio
prevalecesse mais uma vez. Definitivamente uma rakshasa¹, então. E alguém que o
subestimou também, tendo escolhido atacá-lo no campo de batalha da mente.
Thaleon sentiu uma onda de orgulho; se ela queria jogar com magia oculta, ela
escolheu o oponente errado.
Quando a rakshasa saltou para frente, Thaleon
transmutou seu orgulho em certeza e fortaleza, convocando um disco de força no
ar. Garras encontraram a barreira e a quebraram como vidro, mas a testa de
Thaleon franziu enquanto ele derramava mais vontade, mais certeza, no feitiço.
Escudos mais translúcidos surgiram e, embora as garras do rakshasa quebrassem
dois dos discos, elas não puderam fazer mais do que esculpir um sulco no
terceiro. Ela se recuperou, e Thaleon soltou um fluxo de emoção caótica que se
acumulou ao redor dos pés da rakshasa, arrastando-a para o chão, mas não antes
que ela tecesse sombras em um raio de chamas que atingiu o lado de Thaleon.
Braço latejando, a fúria de Thaleon apagou todos os
pensamentos, explodindo enquanto o ar tremia de cor. Enquanto a rakshasa estava
se levantando, ele pintou novamente, derramando seu coração para formar não apenas
uma lâmina de fúria, mas uma tempestade inteira delas pairando sobre o beco.
Com um brilho verde oleoso dos olhos do rakshasa,
uma visão doentia encheu a mente de Thaleon – um grupo de rakshasas saboreando
um prato de carne assada inconfundivelmente de origem élfica. Por um instante,
o estômago do artista revirou antes que ele reconhecesse a intrusão e quebrasse
o encantamento. Essa cena distorcida era o sonho da rakshasa, não dele. Ainda
assim, se ela esperava que ele estivesse doente... ele vomitou ruidosamente,
esperando que o orgulho do monstro entorpecesse suas suspeitas. Bem na hora,
ela atacou, garras estendidas, correndo a toda velocidade até que ela estava
logo abaixo das lâminas penduradas. Thaleon se ergueu do chão e, com um último
esforço, deixou as lâminas caírem, cada uma mais afiada e irregular que a
anterior.
A chuva durou apenas um momento, mas quando
terminou, a fúria de Thaleon diminuiu, substituída por alívio e tristeza pelas
vítimas passadas do demônio. Nenhum rakshasa ameaçou Niswan naquele dia.
- Linda Zayas-Palmer
¹ Bestiário, página 291
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