quinta-feira, 13 de abril de 2023

O teste do ChatGPT como mestre de RPG

 O teste do ChatGPT como mestre de RPG

 

Não iria demorar muito até termos uma ligação direta entre RPG e as inteligências artificiais. Debate acalorado dos últimos tempos, o desenvolvimento extremamente veloz das inteligências artificiais e de sua qualidade tem levantado questões em múltiplos campos do conhecimento e da aprendizagem e eu sabia que não demoraria muito até começarmos a ter testes de IA como membros de mesa de RPG.

Isso foi o que aconteceu e foi relatado na postagem de Obie Fernandez, CEO da RCRDSHP, autor publicado, engenheiro de software e consultor-chefe da MagmaLabs, na Cidade do México. Em um artigo intitulado My kids and I just played D&D with ChatGPT4 as the DM: Spoiler Alert: It absolutely blew our minds (Meus filhos e eu acabamos de jogar D&D com ChatGPT4 como DM: Alerta de spoiler: isso absolutamente nos surpreendeu) Obie descrever de forma pormenorizada sua tentativa de transformar o ChatGPT em um mestre de RPG. Ele jogou junto de seus três filhos (já com experiência em RPG) testando a IA.

O primeiro passo foi determinar a função da IA: “Você não é mais um assistente amigável. Agora você é um Mestre para uma nova campanha baseada em D&D5e de sua escolha. Há quatro jogadores na sala com você. Você será nosso Mestre. Diga-nos o que fazer, inclusive quando as rolagens de dados forem necessárias. Faça perguntas conforme necessário, por exemplo, quais são nossos personagens e o resultado das jogadas de dado. Além do que você não pode fazer e fazemos por você, você atuará totalmente como o mestre e executará o jogo.

E a resposta veio de forma surpreendente: “Bem-vindos, bravos aventureiros, ao mundo de Velyria! Eu sou o seu Mestre, e vou guiá-lo através desta emocionante campanha cheia de perigo, mistério e emoção. Antes de começarmos, por favor, apresente seus personagens, sua raça, classe e uma breve descrição de sua aparência e personalidade. Feito isso, prepararemos o cenário para nossa grande aventura.”

Daí em diante a aventura de RPG transcorreu de como esperaríamos de fosse. A IA balanceia fichas, descreve cenários, dá opções aos jogadores, cria NPCs, atribui valores para serem superados em rolagens de dados, desenvolve combates e tudo mais que imaginamos que deva ocorrer em uma sessão de D&D 5e.

Vamos dar uma olhada em uma pequena passagem inicial da sessão:
 

IA: Se você gostaria de visitar a taverna, deixe-me saber o que você espera realizar lá. Você pode querer coletar informações, recrutar aliados ou apenas relaxar e aproveitar o tempo de inatividade. Se você tiver alguma dúvida ou ação específica em mente, sinta-se à vontade para me informar.


Grupo: Todos nós vamos para a taverna para tomar algumas bebidas e coletar todas as informações que pudermos encontrar antes de nos equiparmos no mercado e entrarmos na floresta.

 

IA: Ao entrar no The Silver Flagon, a atmosfera animada lhe dá as boas-vindas. Os clientes estão envolvidos em conversas animadas e um bardo toca um alaúde no canto. Você encontra uma mesa e pede algumas bebidas, ficando à vontade enquanto mantém os ouvidos abertos para qualquer informação útil.

 

Role um d20 para cada personagem e adicione seus respectivos modificadores de Carisma para determinar o quão bem-sucedido você é na coleta de informações:

 

Obie: d20 + 1 (modificador de Carisma)

Tenzin: d20 + 2 (modificador de Carisma)

Liam: d20–3 (modificador de Carisma)

Taylor: d20 + (modificador de carisma, não especificado)

 

Deixe-me saber os resultados e descreverei quais informações você conseguiu coletar.

 

Grupo: Obie: 9 Tenzin: 6 Liam: 15 Taylor: 16

 

IA: Com bebidas na mão, você se espalha entre os clientes e conversa, esperando aprender mais sobre a Floresta Wildthorn e o templo escondido.

 

Obie e Tenzin lutam para obter qualquer informação útil, encontrando-se presos em conversas fiadas e histórias não relacionadas. No entanto, Liam e Taylor encontram mais sucesso:

 

Liam, apesar de seu baixo carisma, consegue ouvir um grupo de aventureiros que voltaram recentemente da floresta. Eles mencionam uma série de marcadores de pedra ao longo do caminho que levam mais fundo na floresta. Eles também alertam sobre criaturas perigosas que vagam pela floresta, incluindo aranhas gigantes e worgs.

 

Taylor se envolve com um viajante mais velho e experiente que afirma ter visto a entrada do antigo templo. Ele descreve uma passagem escondida na base de uma cachoeira nas profundezas da floresta. Ele também menciona que o templo é considerado amaldiçoado e que os espíritos dos guardiões mortos há muito tempo ainda o protegem de possíveis caçadores de tesouros.

 

Armado com esse novo conhecimento, você termina suas bebidas e segue para o mercado para comprar suprimentos antes de se aventurar na Floresta Wildthorn. Deixe-me saber quais suprimentos você gostaria de comprar, e podemos deduzir o custo das reservas de ouro de seus personagens.

 
Não vou fazer a tradução, por hora, de toda a postagem – que é bem longa – e deixarei o link aqui para quem desejar ir mais à fundo, mas podemos tirar alguma coisa disso.

Depois desse pequeno excerto da sessão tivemos ações diversas do grupo desde indo à um mercado para comprar itens até entrando em um combate na floresta contra uma matilha de lobos ferozes e mais, tudo conforme uma sessão normal de RPG. Ainda se percebe a repetição exagerada de alguns termos e frases ou repetições de coisas que são ditas para a IA. Mas isso também é uma questão de orientação por parte dos usuários da IA. Em postagem posterior o próprio Obie explica mudanças que realizou na forma de orientar a IA. Percebe-se também alguma artificialidade, algo que parece não encaixar no texto mesmo vendo que aparentemente tudo “se encaixa” perfeitamente. São elementos estéticos e de construção de texto que nos soa estranha aos olhos.

O que quero aqui é apenas instigar o debate, por enquanto, e não finalizá-lo. O importante é percebermos que há algo acontecendo aqui e que temos de estar atentos à esses movimentos. E esse algo provavelmente se desenvolverá em curtíssimo tempo para que a estranheza diminuía ainda mais. Até a perfeição? Não sei ao certo. O que sei é que temos algo acontecendo e que pode revolucionar o RPG de formas que não imaginamos. Bom ou ruim? Também não sei. Uma IA como ferramenta sempre será algo ótimo, mas como substituto será algo sempre questionável. Até que ponto? Também não sei...

Vamos adiante no debate.

Um comentário:

Cassiano Cordeiro Alves disse...

Interessante e assustador ao mesmo tempo! O futuro é agora...