Action Movie World –
Resenha
- finalmente chegando em português -
A
Tria Editora já havia anunciado no ano passado que traria o RPG Action Movie
World em português. Agora tivemos o anúncio oficial do início de seu
financiamento coletivo para o dia 16 de maio próximo. Então era óbvio que
tínhamos que trazer uma resenha dessa grande e aguardada novidade. Como o livro
já está pronto - traduzido e diagramado – gentilmente recebemos um exemplar da editora
para a resenha e vamos nos aprofundar e entender do que se trata!
O que torna o Action Movie World especial? Qualquer um que não
conheça o RPG original e se deparou com a notícia do início do seu
financiamento coletivo pode estar se perguntando isso. Em resumo podemos
colocar que é impossível não ser incrível um RPG onde literalmente jogadores
interpretam atores que interpretam personagens em um filme de ação típico dos
anos oitenta! Em que mundo isso não seria incrível? Pois é isso que temos em
AMW, uma incrível e divertida experiência.
Todo
o RPG que se preze precisa de uma introdução que evoque tudo ao que ele se
propõe e em AMW não fugimos disso. As páginas da introdução nos levam à um
recordatório de muitas das produções cinematográficas que nos acompanharam
pelos anos setenta, oitenta e noventa. Aqueles filmes que chamávamos de
“enlatados americanos” repletos de ação, testosterona, tiros de metralhadora e
suor másculo. Há pilhas de referências à filmes e atores (sarados e com
tanquinho) para todos os gostos nessas primeiras páginas para dar o tom exato
do que teremos neste RPG!
A
introdução vai apresentando sua proposta, ao mesmo tempo em que mostra onde
estamos nos metendo e também divertidamente criticando a visão machista e
excludente das obras cinematográficas daquela época. Ora, vamos jogar um RPG
que simula filmes de um determinado estilo datados pela visão de uma
determinada época, mas não precisamos ser babacas como os personagens
originais.
Quanto
ao RPG em si, AMW bebeu a essência de obras anteriores como Feng Shui, Hong Kong
Action Theatre e Apocalypse World. Já somos crescidinhos o suficiente para
entendermos que novidades, seja em RPG ou qualquer outra coisa de cultura pop,
vem sempre inspiradas em trabalhos anteriores, e não há mal algum nisso. Inclusive
temos claramente nesta introdução a clara noção de como esses criadores trocam
ideias entre si e um acaba ativamente estimulando o outro.
Como
eu já disse, a proposta é até certo ponto simples de entender – os jogadores
interpretarão atores interpretando personagens em uma obra cinematográfica do
estilo típico dos “bombadões” daquele período. Você pode ser Sylvester Stallone
interpretando Marion Cobretti no filme Cobra (1986). Você pode ser Kurt Russell
interpretando Snake Plissken no filme Fuga de Nova Iorque (1981). Você pode ser
Arnold Schwarzenegger interpretando John Matrix no filme Comando para Matar
(1985). Todos eles vão ao set, vivem uma aventura e, mesmo que o personagem
morra no filme, como Mac, interpretado por Bill Duke em Predador (1987), no fim
do dia voltam para casa para receber a proposta do próximo filme no qual
atuarão.
Levando
isso em consideração AMW divertidamente desafia o normal dos RPGs usuais e, ao
invés de termos uma narrativa compartilhada onde todos são protagonistas, há um
ator principal cercado de coadjuvantes em cada filme (que pode durar de uma a
cinco sessões, segundo o livro). Isso mesmo. À cada novo arco os jogadores
participam da escolha de um Enredo para seus personagens/atores participarem no
qual terá um protagonista... e isso parece funcionar muito bem. Os holofotes
não podem estar em todos os atores, mas se você é coadjuvante hoje, poderá ser
um protagonista amanhã.
E
isso nos leva à máxima: o protagonista não pode morrer, mas os personagens
coadjuvantes recebem XP por morrer. Simplesmente adoro essa
máxima. Mas você pode se perguntar como assim morrer. No próprio livro de
regras temos uma passagem que nos dá a definição perfeita que precisamos para
ter claro o conjunto deste RPG - “É importante compreender que, enquanto
você jogar com um ator interpretando um personagem, os eventos dentro de um
filme são “reais” no sentido de que a ficção do mundo do filme possui
prevalência sobre as preocupações do mundo real da indústria de filmes. Se o
grupo estiver interpretando um filme de bárbaros, ninguém deve sair do
personagem para representar seus atores discutindo com o Diretor sobre luzes ou
contratos”. Então sim, ô personagem interpretado pelo seu personagem/ator
pode morrer no filme, pois ele estará vivendo os acontecimentos do filme... e
isso será sensacional. Nada de drama ou sofrimento para fazer uma nova ficha de
personagem. O personagem de seu personagem morreu... viva... seu personagem/ator
passa bem para o próximo filme. E não só isso... o XP que ganhamos por morrer
como coadjuvantes é normalmente maior do que se nosso personagem coadjuvante não
morrer! E se tudo isso não fosse suficiente para dizer que morrer é incrível,
neste jogo, quando seu personagem coadjuvante morre em um filme você
possibilita que seus companheiros ativem o movimento Vingança contra um vilão
para vingar sua morte!
Mas
uma pergunta pode vir à mente – quando os coadjuvantes morrem eles têm de
esperar as várias sessões que o filme dura. Sim e não. Quando os coadjuvantes morrem,
seus jogadores se tornam “diretores assistentes”. Isso mesmo, quando nosso ator
sai de cena porque seu personagem morreu no filme, eles não precisam esperar
até a próxima produção. Ele assume o papel de assistente de direção:
coreógrafos de lutas marciais, coordenadores de pirotecnia, auxiliar de som,
etc. Seu trabalho é auxiliar o fluxo do jogo, sugerindo elementos, mais
violentos e emocionantes para as cenas de luta e sequências de ação. Ou seja,
ele será o palpiteiro oficial auxiliar do mestre!
Isso
tudo sobre a condução de nossos personagens é sensacional por muitos motivos. Nós,
como jogadores, vamos interpretar o mesmo “ator” em uma variedade de filmes.
Isso nos libera, como jogadores, para colocar um novo conceito em jogo a cada
vez que estamos no set de filmagem para uma nova produção. À cada novo
filme teremos um novo ‘eu’ por trás de um novo personagem. Você pode até criar
um rótulo para si, daquele tipo que todos já sabem sobre o que será o filme
simplesmente porque seu nome está no cartaz... mas isso é uma opção sua, como
jogador. É uma liberdade estonteante, uma flexibilidade muito bem-vinda.
Quanto
ao nosso personagem/ator, criamos ele dentre uma série de Manuais de Ator (os
conhecidos playbooks de outros PbtAs). Você pode ser um Agente Sedutor, um
Escandaloso, um Lutatirador (assim mesmo, tudo junto), um Melodramático, um
Musculoso e outros. Cada um possui seus próprios movimentos para a hora de ação
na telona, que somamos aos movimentos básicos que todos têm acesso. Além disso,
há movimentos que cada ator pode escolher (um apenas) no início de cada filme –
os Movimentos de Roteiro. Isso auxilia a demonstrar o personagem de seu ator
como que treinado e preparado para a ação específica daquela produção. Assim,
nosso personagem ator é alguém que já tem um estilo (manual do ator) que o
deixe mais preparado para certas produções, e mesmo assim ele tem acesso à um
preparo prévio para cada nova produção (movimentos de roteiro).
E
o Mestre? Ele é o diretor, o mediador dos desejos dessas figuras famosas que
vai conduzir a produção. Como diz no capítulo ao Diretos, “Como Diretor, seu
papel é facilitar a conversa que está ocorrendo à mesa. Você descreverá as
coisas e fará perguntas. Você também colocará obstáculos no caminho dos
jogadores. Eles interpretam os heróis de ação, e você interpreta os vilões,
ninjas e amores.” Você, como Diretor, não rolará dados, mas poderá usar
movimentos específicos conforme a ação ou resultado das rolagens dos
personagens de seu grupo.
Isso
tudo é uma visão geral do que encontraremos no Action Movie World. A leitura é
gostosa, rápida e divertida. Ao longo do livro, os autores demonstram que
entendem como os filmes de ação daquela época funcionavam e como irão terminar
- o herói mata o bandido. O objetivo deste RPG é gerar entusiasmo na
jornada durante as produções que a longa carreira de seu personagem/ator até a
aposentadoria. AMW faz a proposta dessa jornada de forma muito lúcida. Ele não
tenta torná-lo mais do que é. Ele tem presente de que é apenas um caminho para diversão,
contagem de corpos e não gastar muito tempo pensando.
Só
queremos nos divertir e aguardar os créditos subindo com aquele gosto de
satisfação. É ou não um RPG especial?
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