domingo, 14 de maio de 2023

Action Movie World – Resenha - finalmente chegando em português

 Action Movie World – Resenha
- finalmente chegando em português -

 

A Tria Editora já havia anunciado no ano passado que traria o RPG Action Movie World em português. Agora tivemos o anúncio oficial do início de seu financiamento coletivo para o dia 16 de maio próximo. Então era óbvio que tínhamos que trazer uma resenha dessa grande e aguardada novidade. Como o livro já está pronto - traduzido e diagramado – gentilmente recebemos um exemplar da editora para a resenha e vamos nos aprofundar e entender do que se trata!

O que torna o Action Movie World especial? Qualquer um que não conheça o RPG original e se deparou com a notícia do início do seu financiamento coletivo pode estar se perguntando isso. Em resumo podemos colocar que é impossível não ser incrível um RPG onde literalmente jogadores interpretam atores que interpretam personagens em um filme de ação típico dos anos oitenta! Em que mundo isso não seria incrível? Pois é isso que temos em AMW, uma incrível e divertida experiência.

Todo o RPG que se preze precisa de uma introdução que evoque tudo ao que ele se propõe e em AMW não fugimos disso. As páginas da introdução nos levam à um recordatório de muitas das produções cinematográficas que nos acompanharam pelos anos setenta, oitenta e noventa. Aqueles filmes que chamávamos de “enlatados americanos” repletos de ação, testosterona, tiros de metralhadora e suor másculo. Há pilhas de referências à filmes e atores (sarados e com tanquinho) para todos os gostos nessas primeiras páginas para dar o tom exato do que teremos neste RPG!

A introdução vai apresentando sua proposta, ao mesmo tempo em que mostra onde estamos nos metendo e também divertidamente criticando a visão machista e excludente das obras cinematográficas daquela época. Ora, vamos jogar um RPG que simula filmes de um determinado estilo datados pela visão de uma determinada época, mas não precisamos ser babacas como os personagens originais.


Quanto ao RPG em si, AMW bebeu a essência de obras anteriores como Feng Shui, Hong Kong Action Theatre e Apocalypse World. Já somos crescidinhos o suficiente para entendermos que novidades, seja em RPG ou qualquer outra coisa de cultura pop, vem sempre inspiradas em trabalhos anteriores, e não há mal algum nisso. Inclusive temos claramente nesta introdução a clara noção de como esses criadores trocam ideias entre si e um acaba ativamente estimulando o outro.

Como eu já disse, a proposta é até certo ponto simples de entender – os jogadores interpretarão atores interpretando personagens em uma obra cinematográfica do estilo típico dos “bombadões” daquele período. Você pode ser Sylvester Stallone interpretando Marion Cobretti no filme Cobra (1986). Você pode ser Kurt Russell interpretando Snake Plissken no filme Fuga de Nova Iorque (1981). Você pode ser Arnold Schwarzenegger interpretando John Matrix no filme Comando para Matar (1985). Todos eles vão ao set, vivem uma aventura e, mesmo que o personagem morra no filme, como Mac, interpretado por Bill Duke em Predador (1987), no fim do dia voltam para casa para receber a proposta do próximo filme no qual atuarão.


Levando isso em consideração AMW divertidamente desafia o normal dos RPGs usuais e, ao invés de termos uma narrativa compartilhada onde todos são protagonistas, há um ator principal cercado de coadjuvantes em cada filme (que pode durar de uma a cinco sessões, segundo o livro). Isso mesmo. À cada novo arco os jogadores participam da escolha de um Enredo para seus personagens/atores participarem no qual terá um protagonista... e isso parece funcionar muito bem. Os holofotes não podem estar em todos os atores, mas se você é coadjuvante hoje, poderá ser um protagonista amanhã.

E isso nos leva à máxima: o protagonista não pode morrer, mas os personagens coadjuvantes recebem XP por morrer. Simplesmente adoro essa máxima. Mas você pode se perguntar como assim morrer. No próprio livro de regras temos uma passagem que nos dá a definição perfeita que precisamos para ter claro o conjunto deste RPG - “É importante compreender que, enquanto você jogar com um ator interpretando um personagem, os eventos dentro de um filme são “reais” no sentido de que a ficção do mundo do filme possui prevalência sobre as preocupações do mundo real da indústria de filmes. Se o grupo estiver interpretando um filme de bárbaros, ninguém deve sair do personagem para representar seus atores discutindo com o Diretor sobre luzes ou contratos”. Então sim, ô personagem interpretado pelo seu personagem/ator pode morrer no filme, pois ele estará vivendo os acontecimentos do filme... e isso será sensacional. Nada de drama ou sofrimento para fazer uma nova ficha de personagem. O personagem de seu personagem morreu... viva... seu personagem/ator passa bem para o próximo filme. E não só isso... o XP que ganhamos por morrer como coadjuvantes é normalmente maior do que se nosso personagem coadjuvante não morrer! E se tudo isso não fosse suficiente para dizer que morrer é incrível, neste jogo, quando seu personagem coadjuvante morre em um filme você possibilita que seus companheiros ativem o movimento Vingança contra um vilão para vingar sua morte!


Mas uma pergunta pode vir à mente – quando os coadjuvantes morrem eles têm de esperar as várias sessões que o filme dura. Sim e não. Quando os coadjuvantes morrem, seus jogadores se tornam “diretores assistentes”. Isso mesmo, quando nosso ator sai de cena porque seu personagem morreu no filme, eles não precisam esperar até a próxima produção. Ele assume o papel de assistente de direção: coreógrafos de lutas marciais, coordenadores de pirotecnia, auxiliar de som, etc. Seu trabalho é auxiliar o fluxo do jogo, sugerindo elementos, mais violentos e emocionantes para as cenas de luta e sequências de ação. Ou seja, ele será o palpiteiro oficial auxiliar do mestre!

Isso tudo sobre a condução de nossos personagens é sensacional por muitos motivos. Nós, como jogadores, vamos interpretar o mesmo “ator” em uma variedade de filmes. Isso nos libera, como jogadores, para colocar um novo conceito em jogo a cada vez que estamos no set de filmagem para uma nova produção. À cada novo filme teremos um novo ‘eu’ por trás de um novo personagem. Você pode até criar um rótulo para si, daquele tipo que todos já sabem sobre o que será o filme simplesmente porque seu nome está no cartaz... mas isso é uma opção sua, como jogador. É uma liberdade estonteante, uma flexibilidade muito bem-vinda.


Quanto ao nosso personagem/ator, criamos ele dentre uma série de Manuais de Ator (os conhecidos playbooks de outros PbtAs). Você pode ser um Agente Sedutor, um Escandaloso, um Lutatirador (assim mesmo, tudo junto), um Melodramático, um Musculoso e outros. Cada um possui seus próprios movimentos para a hora de ação na telona, que somamos aos movimentos básicos que todos têm acesso. Além disso, há movimentos que cada ator pode escolher (um apenas) no início de cada filme – os Movimentos de Roteiro. Isso auxilia a demonstrar o personagem de seu ator como que treinado e preparado para a ação específica daquela produção. Assim, nosso personagem ator é alguém que já tem um estilo (manual do ator) que o deixe mais preparado para certas produções, e mesmo assim ele tem acesso à um preparo prévio para cada nova produção (movimentos de roteiro).

E o Mestre? Ele é o diretor, o mediador dos desejos dessas figuras famosas que vai conduzir a produção. Como diz no capítulo ao Diretos, “Como Diretor, seu papel é facilitar a conversa que está ocorrendo à mesa. Você descreverá as coisas e fará perguntas. Você também colocará obstáculos no caminho dos jogadores. Eles interpretam os heróis de ação, e você interpreta os vilões, ninjas e amores.” Você, como Diretor, não rolará dados, mas poderá usar movimentos específicos conforme a ação ou resultado das rolagens dos personagens de seu grupo.


Isso tudo é uma visão geral do que encontraremos no Action Movie World. A leitura é gostosa, rápida e divertida. Ao longo do livro, os autores demonstram que entendem como os filmes de ação daquela época funcionavam e como irão terminar - o herói mata o bandido. O objetivo deste RPG é gerar entusiasmo na jornada durante as produções que a longa carreira de seu personagem/ator até a aposentadoria. AMW faz a proposta dessa jornada de forma muito lúcida. Ele não tenta torná-lo mais do que é. Ele tem presente de que é apenas um caminho para diversão, contagem de corpos e não gastar muito tempo pensando.

Só queremos nos divertir e aguardar os créditos subindo com aquele gosto de satisfação. É ou não um RPG especial?



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