Pathfinder 2e –
Presságios Perdidos
Contos - Encontro
Icônico: Saindo da Escuridão
A
vila estava assustada, Grimmyr podia sentir isso. Embora já estivesse
acostumado com muitos dos habitantes de Golarion se intimidando com sua figura
imponente, esse medo não tinha nada a ver com ele. Claramente, ele já havia se
infiltrado na comunidade muito antes de sua chegada. Os rostos dos habitantes
da cidade estavam pálidos e cansados. Seus movimentos eram lentos e lânguidos,
como se um peso enorme os pressionasse. Parecia até afetar a atmosfera — nuvens
escuras se acumulavam no céu, e as flores que circundavam o pequeno pedestal de
pedra no centro do gramado da vila estavam murchas e morrendo. O coração de
Grimmyr doía ao ver tamanha angústia.
Grimmyr
se abaixou sob uma placa pendurada pintada com uma caneca de cerveja e abriu a
porta do que esperava ser uma taverna ou estalagem. Embora seu povo não tivesse
espaços formais para reuniões na Batalha, ele aprendera que esses
estabelecimentos eram bons lugares para coletar informações. Lá dentro, ele
atraiu o olhar de vários moradores e de dois indivíduos tão armados e
protegidos por armaduras quanto ele.
“Um
colega mercenário!” gritou a figura mais alta das duas, acenando para
Grimmyr. Sua pele estava bronzeada pelas longas horas de sol, seu cabelo loiro
estava cortado de forma grosseira e seu sorriso amigável revelava mais de um
dente faltando. “Veio proteger o bom povo de Northfork dos monstros?”,
perguntou ela.
“Claro
que sim, Aliss”, disse o outra. Ele era robusto e barbudo, os longos pelos
ruivos presos em duas tranças perfeitas. Suas sobrancelhas estavam menos
aparadas, como se tivessem sido deixadas para cobrir a falta de cabelo. “Olha
o tamanho dele.”
“Monstros?”,
perguntou Grimmyr, com a voz surpreendentemente suave.
“É”,
disse a que se chamava Aliss. “São uns bichinhos escamosos que saem do poço
nos arredores da cidade de vez em quando. Ninguém sabe o que os está deixando
em frenesi, mas Sua Santidade Mordruk e eu só estamos sendo pagos para
matá-los.” Ela piscou para um Mordruk carrancudo.
“Só
estou aqui há uma semana”, disse Mordruk. “Mas está piorando e...”
ele foi interrompido pelo toque de um sino lá fora e gritos de “Eles
chegaram!”.
Com
uma risada, Aliss pegou a espada longa encostada na parede e caminhou em
direção à porta. “Melhor prender a respiração, novato”, disse ela.
Mordruk levantou o capuz de sua capa branca e o seguiu sem dar nenhuma
explicação.
Lá
fora, o pânico tomou conta da cidade. Atrás das portas fechadas, Grimmyr ouvia
crianças chorando e móveis sendo movidos para formar barricadas improvisadas.
Aliss e Mordruk correram para o leste, ao lado de fazendeiros armados com
forcados e pás, em direção ao som de rosnados guturais. Ao passar pelo
pedestal, Grimmyr sentiu um arrepio na espinha ao ver a flora moribunda.
Grimmyr
sentiu o cheiro das criaturas antes de vê-las. Era um odor terrível e mofado de
suor e ar viciado que penetrava nas narinas e descia pelo fundo da garganta.
Ele engasgou brevemente, mas resistiu à náusea. Alguns fazendeiros não tiveram
tanta sorte, pois pararam para vomitar. Aliss e Mordruk já haviam dobrado uma
esquina à sua frente e, enquanto Grimmyr o seguia, ficou surpreso com a
quantidade de criaturas emergindo do poço além dos limites da cidade. Será
que não haveria fim para elas?, pensou. Mordruk proferiu uma prece
desesperada em voz baixa, e Grimmyr sentiu que ele e Aliss ainda não haviam
enfrentado uma força desse tamanho ali.
As
criaturas eram humanoides reptilianos com peles cinzentas e escamosas,
saliências ósseas ao longo da espinha, que se tornavam mais proeminentes devido
à postura curvada. Suas cabeças e caudas assemelhavam-se às de lagartos das
cavernas, e usavam peles rudimentares e empunhavam clavas simples, se é que
carregavam alguma arma. Todos exalavam aquele fedor terroso. Muitos usavam
colares de pedaços de pedra presos a cordões de couro; Grimmyr os achou
familiares, mas não conseguia entender o porquê.
A
hora seguinte foi uma luta extenuante contra todas as probabilidades. Os
habitantes da cidade lutaram o melhor que puderam, contendo a maré monstruosa,
mas estava claro que acabariam sendo subjugados. Aliss cortava torsos com sua
lâmina, sorrindo o tempo todo até que Grimmyr pudesse ver seus braços ficando
cansados. Mordruk invocou magia divina para manter ela e os fazendeiros de pé,
embora até Grimmyr soubesse que tal poder não duraria para sempre. Por sua vez,
Grimmyr avançou no meio da multidão de criaturas, brandindo seu mangual em
amplos movimentos e confiando em sua armadura para desviar garras, dentes e
clavas. O campo ficou coberto de pilhas de cadáveres das criaturas... e,
infelizmente, de vários aldeões.
Um
rugido atraiu a atenção de todos de volta para o poço, de onde algo lutava para
emergir. Embora essa nova criatura compartilhasse algumas semelhanças com
aquelas com as quais eles lutavam, sua pele era vermelha como argila fresca e
se elevava sobre as outras, apenas 30 a 60 centímetros mais baixa que Grimmyr.
Ela arrastava um martelo de pedra enquanto avançava em direção a um aldeão.
“Não!
Encare-me!” berrou Grimmyr, sabendo que um golpe daquele martelo poderia
esmagar um crânio. Isso chamou a atenção da criatura, e ela avançou em sua
direção. Ele bloqueou o primeiro golpe com o cabo da própria arma, mas o
segundo o acertou em cheio no peito, quase o deixando sem fôlego. Com um
grunhido, Grimmyr balançou seu mangual em um movimento ascendente contra o
queixo da criatura, quebrando seu pescoço. O mangual caiu no chão, e a grama ao
redor da ponta da arma começou a ficar marrom quase instantaneamente.
Grimmyr
sabia o que precisava fazer em seguida.
Ele
correu de volta para a cidade, em direção ao gramado da vila. Com um poderoso
golpe de seu mangual, ele estilhaçou o pedestal de pedra. Uma pequena explosão
de força o fez cambalear para trás. Ele perdeu o equilíbrio e caiu, batendo a
cabeça contra um toco de árvore e o nocauteando.
Quando
acordou, Aliss e Mordruk estavam parados acima dele. “O que você fez,
novato?”, perguntou Aliss.
“A
pedra. Ela os chamava.”
“A
luta os abandonou assim que você a destruiu”, disse Mordruk. “Os
moradores devem tê-la resgatado do poço. Como você sabia?”
Grimmyr
deu um sorriso fraco, as dores da batalha o alcançando. “Ah, eu não te
contei? Estou aqui para manter todos vocês em segurança.”
-
Jason Keeley
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