Warhammer no Brasil
- Entrevista com a
Tria -
Tivemos
uma semana agitadíssima em termos de RPG após a Tria editora realizar uma live
com os lançamentos para o primeiro semestre de 2026. Editora já não tão
recente, mas em constante evolução e alicerçado em um trabalho maduro e sólido,
a Tria nos presenteou com algo que muitos achavam impossível – Warhammer. E não
apenas uma linha, mas as duas linhas de Warhammer, a Fantasy Fantasy Roleplay e
a 40k.
Por
enquanto temos apenas uma data – à princípio em maio de 2026 -, mas isso já é
um ponto focal para nossa atenção, e vamos aproveitar para preparar o caminho
para sua chegada. É certo que ao mesmo tempo que este era um título
aguardadíssimo, a comunidade se renova constantemente e muitos podem não ter
noção do que é Warhammer. Abaixo temos um pequeno histórico informativo sobre
ele. Acompanhe e se delicie...
Mas o que é Warhammer?
Para
quem não conhece, ele é o nome genérico de vários jogos de guerra e RPGs de
mesa lançados e comercializados pela empresa britânica Games Workshop.
Inicialmente, em 1983, ele era um verdadeiro jogo de batalha de mesa (wargame),
conhecido na época como Warhammer Fantasy Battle (WHFB).
O
jogo de guerra de mesa gerou em 1986 um RPG chamado Warhammer Fantasy Roleplay
(WFRP), que não chegava a ser diferente de uma versão low fantasy de
D&D. Inicialmente ele saiu como um livro de regras em volume único, seguido
por inúmeros suplementos. A editora independente Hogshead obteve os direitos
para publicar o WFRP em 1995, embora a GW tenha mantido o
controle editorial para garantir que qualquer material original permanecesse
fiel ao seu cânone.
A
Hogshead reverteu a licença para a GW em 2002, quando eles ficaram sob nova
propriedade, e em 2005 a Games Workshop publicou uma segunda edição das regras
desenvolvidas pela editora Green Ronin. Em 2009, após obter a licença, a
Fantasy Flight Games lançou uma terceira edição um tanto controversa; o
suporte para isso terminou em 2014.
Em
maio de 2017, foi anunciado que uma quarta edição do jogo seria lançada pela
britânica Cubicle 7 onde os livros de regras principais foram lançados no final
do primeiro semestre de 2018.
Dito
por muitos como sendo parte D&D, parte Paranoia, parte Chamado de Cthulhu, WFRP compartilha
da desolação de seu cenário original. Um cenário solidamente cinza à sombrio,
sendo inflexível em sua crueldade.
Sobre o cenário
De
forma curta, se Dark Souls, Berserk e histórias de caça às bruxas tivessem um
filho, ele seria Warhammer Fantasy Roleplay. WFRP se passa em um planeta
sem nome que tem uma semelhança impressionante com a nossa Terra, com
continentes dispostos em um padrão semelhante, embora não exatamente com o
mesmo formato... e um ambiente sujo, frio e sanguinário.
A
maior parte da ação se passa no "Velho Mundo", algo análogo à Europa
do século XVI. O continente é dominado pelo Império do Homem, um governo
dominado por humanos, baseado no Sacro Império Romano da vida real e presidido
por um Imperador eleito e uma Militante e dogmática, centrada na adoração
ao fundador do Império – o Rei guerreiro bárbaro Sigmar. O vizinho ocidental (e
rival) é o Reino da Bretanha, um uma espécie de França empobrecida e atrasada
com pitadas de história arturiana. Existem outros reinos humanos no Velho
Mundo, incluindo a misteriosa e chuvosa ilha de Albion, o reino sombrio e
gélido de Kislev, o estado livre da Cidade Mercante de Marienburg e os reinos
mercantilizados e cosmopolitas de Estalia e Tilea, mas estes geralmente são
mantidos fora do foco na narrativa mais ampla e não são representados por
exércitos oficiais no jogo.
Há
também "O Novo Mundo", que tem dois continentes: Naggaroth, ao norte,
um deserto congelado e inóspito, lar de todos os tipos de monstros terríveis,
incluindo os cruéis e xenófobos Elfos Negros, e Lustria, ao sul, uma selva
sufocante ao sul, lar dos Homens-lagarto e outros perigos. Há ainda um terceiro
continente chamado de Ulthuan, o lar dos Altos Elfos. No polo norte do mundo,
encontram-se os Desertos do Caos, um reino de pesadelos de onde se originam os
maiores males do mundo.
Os
não iniciados podem pensar que Warhammer não é tão ruim assim e que é uma terra
de fantasia heroica. Ledo engano. Como eu já disse anteriormente, ele é frio,
sombrio, perigoso e sanguinário.
Do
outro lado, temos Warhammer 40k.
Se
Duna, Alien, O Exterminador do Futuro e arquitetura gótica tivessem um filho
ultra-violento… isso seria Warhammer 40k. Warhammer 40k é o primo distante,
poderoso e totalmente ensandecido do Fantasy. Em vez de masmorras e
medievalismo, o cenário se passa no 41º milênio, um futuro tão sombrio que
virou sinônimo: No grimdark futuro, só existe guerra.
Neste
cenário temos um futuro distópico onde o Império da Humanidade vive em guerra
eterna. De um lado, temos a Humanidade decadente vivendo de fanatismo religioso
e tecnologia mal compreendida. Do outro, alienígenas assassinos, máquinas
ancestrais despertando do sono cósmico, raças psíquicas agonizantes e demônios
surgidos do Warp. Tudo em escala épica, exagerada e propositalmente absurda. Os
protagonistas não são aventureiros tentando sobreviver. São Space Marines
geneticamente aprimorados, orkz berrando por destruição, Tyranids devorando
planetas inteiros, Necrons despertando para reconquistar a galáxia e por aí
vai.
O
40k gerou vários filhos rpgísticos. Dark Heresy, você é um acólito da
Inquisição investigando cultos, heresias e ameaças xenos... é como Arquivo X no
espaço, só que com inquisidores fanáticos. Rogue Trader, onde você é parte da
tripulação de um comerciante espacial com licença imperial para explorar,
negociar e conquistar, repleto de exploração, política e lucro.
Em Deathwatch você joga como um Space Marine, onde o tom é ação militar
épica. Black Crusade te coloca literalmente a favor do caos, onde o foco está na
corrupção e no poder, deixando o lado sombrio ainda mais sombrio. Por fim, Wrath
& Glory, principalmente em sua versão mais nova, com um sistema mais
flexível, permitindo grupos mistos (Guardas Imperiais, Eldar, Space Marines
etc.). Neste último o foco é em ação heroica grimdark, com ritmo mais rápido e
acessível.
Entrevista
Agora
que você já tem uma noção básica do que esperar com Warhammer em uma mesa de
RPG, vamos ver o que e a Tria editora tem para nos falar. Essa entrevista foi realizada
duas semanas atrás (sim, nós tínhamos informações privilegiadas... Obrigado
pela confiança, Tria) e complementada hoje. Não postamos antes por razões
óbvias, mantendo todo hype na live da Tria.
Vamos começar pelo
básico... por que Warhammer?
Tria: Embora possa ser uma resposta tão
simples como "porque Warhammer é uma das maiores e mais adoradas marcas de
jogos do planeta das últimas quatro décadas", é claro que é possível uma
resposta mais objetiva. Warhammer não é um título que está chegando aos seus 40
anos por acaso. Com um cenário irreverentemente sombrio e perigoso, ele oferece
uma brutalidade, tanto física quanto social, que força os jogadores a todo
tempo tomarem decisões estratégicas, muitas vezes para evitar o maior mal, e
nenhum jogo consegue igualar essa proposta nem de perto. Além disso, seu
sistema tem regras e nuances que facilitam aos jogadores realmente vivenciarem
a proposta do jogo, com mecânicas práticas, mas que oferecem profundidade.
A Tria já tem um
tamanho e visibilidade notáveis, se comparado ao seu tempo de vida, e o
lançamento de Cosmere é um indicativo disso. Qual o peso ou importância que um
Warhammer trará para a Tria num mercado de RPG como o do Brasil?
Tria: Para ser bem sincero, esse tipo de
perspectiva nunca foi nosso objetivo. Aqui, sem demagogia nenhuma, nossa missão
é trazer jogos bons, que satisfaçam o gosto da comunidade nacional e
possibilitar expandir e melhorar para os jogadores brasileiros a experiência
com esses jogos. Isso está escrito no nosso site e nas nossas redes desde o dia
1, na fundação da editora, e trazer Warhammer reforça esse nosso compromisso e
atenção com a comunidade. O ganho e importância não é para a editora, é para os
jogadores brasileiros. Claro, a gente está possibilitando isso, mas é só. O
importante é a galera poder jogar o que quer, na sua língua nativa.
A Tria não deve ter
sido a única editora que tentou trazer Warhammer, mas é a única que conseguiu.
Como foram as tratativas para trazer Warhammer para o Brasil?
Tria: A gente brinca
que é o charme do nosso mineiro e os três fios de cabelo dourado do nosso
Galadriel, mas a verdade é que foi um processo super tranquilo, tratado com
muita seriedade e profissionalismo por ambas as partes. Um pouco lento, porque
como se pode imaginar, a licença é complexa e envolve muitas partes diferentes
e diversos detalhes, mas no geral bem tranquilo.
O que podem nos dizer
sobre a publicação que chegará ao Brasil em si: qual edição, ordem de
lançamento? Como a Tria pretende trabalhar com ele?
Tria: A novíssima 5ª edição, recém-anunciada!
Vai ser ótimo poder lançar uma edição bem no momento do lançamento dela!
Pretendemos trazer o livro básico no menor tempo possível dentro do que for
possível, mas a meta é um lançamento simultâneo ou o mais próximo possível da
edição em inglês.
Cada publicação de um
RPG “de fora” no Brasil tem suas peculiaridades de produção. Do que vocês já
sabem, quais os maiores cuidados que Warhammer necessitará em seu processo de
produção?
Tria: A comunidade de Warhammer no Brasil é
gigantesca. Então, teremos todo o cuidado com a localização do texto, e iremos
utilizar algumas pessoas chave da comunidade para participar do processo de
decisão dos termos e poderem opinar naquilo que for viável, para termos o maior
cuidado possível com o texto.
A forma de jogar RPG
hoje tem suas peculiaridades onde eu acredito que as mesas online (via discord
e plataformas de jogos) já sejam infinitamente a maioria. Sabendo que lá fora
plataformas como Foundry e Roll20 já tem suporte para mesas de Warhammer, a Tria
pretende proporcionar algum suporte para as mesas em português?
Tria: O suporte vtts
é algo que ainda está sendo discutido internamente a possibilidade e
viabilidade, então por mais que tenhamos vontade de fazer as coisas, nem sempre
poderemos.
A Tria se valerá do
financiamento coletivo para concretizar o lançamento de Warhammer ou farão como
com Cosmere, usando a pré-venda? O que já podem nos adiantar sobre isso?
Tria: Assim como o
Cosmere RPG, Warhammer é gigante demais, e merece ter uma pré-venda direto no
nosso site. O que podemos adiantar é que, para essa pré-venda, trabalharemos
com PDF na hora para quem adquirir o livro.
Na live, em seu
vídeo final onde é anunciado Warhammer, temos ali duas marcas. Tanto o
Warhammer Fantasy Roleplay, quanto o Warhammer 40k. São duas naturezas de RPGs
bem distintas, embora irmãs. Quanto ao Warhammer 40k sabemos que há pelo menos cinco
linhas diferentes - Dark Heresy, Rogue Trader, Deathwatch, Black Crusade e Wrath
& Glory. Não ter sido anunciado uma linha específica do 40k pode nos dar a
esperança de vermos todas as linhas em português pela Tria?
Tria: Boa parte das
linhas mencionadas já estão descontinuadas e não pertencem à Cubicle 7, com
quem firmamos a parceria. Dito isso, ainda não é o momento de precisar
exatamente qual das linhas será trabalhada.
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