quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Warhammer no Brasil - Entrevista com a Tria

 Warhammer no Brasil
- Entrevista com a Tria -

 

Tivemos uma semana agitadíssima em termos de RPG após a Tria editora realizar uma live com os lançamentos para o primeiro semestre de 2026. Editora já não tão recente, mas em constante evolução e alicerçado em um trabalho maduro e sólido, a Tria nos presenteou com algo que muitos achavam impossível – Warhammer. E não apenas uma linha, mas as duas linhas de Warhammer, a Fantasy Fantasy Roleplay e a 40k.

Por enquanto temos apenas uma data – à princípio em maio de 2026 -, mas isso já é um ponto focal para nossa atenção, e vamos aproveitar para preparar o caminho para sua chegada. É certo que ao mesmo tempo que este era um título aguardadíssimo, a comunidade se renova constantemente e muitos podem não ter noção do que é Warhammer. Abaixo temos um pequeno histórico informativo sobre ele. Acompanhe e se delicie...

Mas o que é Warhammer?
Para quem não conhece, ele é o nome genérico de vários jogos de guerra e RPGs de mesa lançados e comercializados pela empresa britânica Games Workshop. Inicialmente, em 1983, ele era um verdadeiro jogo de batalha de mesa (wargame), conhecido na época como Warhammer Fantasy Battle (WHFB).

O jogo de guerra de mesa gerou em 1986 um RPG chamado Warhammer Fantasy Roleplay (WFRP), que não chegava a ser diferente de uma versão low fantasy de D&D. Inicialmente ele saiu como um livro de regras em volume único, seguido por inúmeros suplementos. A editora independente Hogshead obteve os direitos para publicar o WFRP em 1995, embora a GW tenha mantido o controle editorial para garantir que qualquer material original permanecesse fiel ao seu cânone.

A Hogshead reverteu a licença para a GW em 2002, quando eles ficaram sob nova propriedade, e em 2005 a Games Workshop publicou uma segunda edição das regras desenvolvidas pela editora Green Ronin. Em 2009, após obter a licença, a Fantasy Flight Games lançou uma terceira edição um tanto controversa; o suporte para isso terminou em 2014.

Em maio de 2017, foi anunciado que uma quarta edição do jogo seria lançada pela britânica Cubicle 7 onde os livros de regras principais foram lançados no final do primeiro semestre de 2018.

Dito por muitos como sendo parte D&D, parte Paranoia, parte Chamado de Cthulhu, WFRP compartilha da desolação de seu cenário original. Um cenário solidamente cinza à sombrio, sendo inflexível em sua crueldade.

Sobre o cenário
De forma curta, se Dark Souls, Berserk e histórias de caça às bruxas tivessem um filho, ele seria Warhammer Fantasy Roleplay. WFRP se passa em um planeta sem nome que tem uma semelhança impressionante com a nossa Terra, com continentes dispostos em um padrão semelhante, embora não exatamente com o mesmo formato... e um ambiente sujo, frio e sanguinário.


A maior parte da ação se passa no "Velho Mundo", algo análogo à Europa do século XVI. O continente é dominado pelo Império do Homem, um governo dominado por humanos, baseado no Sacro Império Romano da vida real e presidido por um Imperador eleito e uma Militante e dogmática, centrada na adoração ao fundador do Império – o Rei guerreiro bárbaro Sigmar. O vizinho ocidental (e rival) é o Reino da Bretanha, um uma espécie de França empobrecida e atrasada com pitadas de história arturiana. Existem outros reinos humanos no Velho Mundo, incluindo a misteriosa e chuvosa ilha de Albion, o reino sombrio e gélido de Kislev, o estado livre da Cidade Mercante de Marienburg e os reinos mercantilizados e cosmopolitas de Estalia e Tilea, mas estes geralmente são mantidos fora do foco na narrativa mais ampla e não são representados por exércitos oficiais no jogo.


Há também "O Novo Mundo", que tem dois continentes: Naggaroth, ao norte, um deserto congelado e inóspito, lar de todos os tipos de monstros terríveis, incluindo os cruéis e xenófobos Elfos Negros, e Lustria, ao sul, uma selva sufocante ao sul, lar dos Homens-lagarto e outros perigos. Há ainda um terceiro continente chamado de Ulthuan, o lar dos Altos Elfos. No polo norte do mundo, encontram-se os Desertos do Caos, um reino de pesadelos de onde se originam os maiores males do mundo.

Os não iniciados podem pensar que Warhammer não é tão ruim assim e que é uma terra de fantasia heroica. Ledo engano. Como eu já disse anteriormente, ele é frio, sombrio, perigoso e sanguinário.

Do outro lado, temos Warhammer 40k.


Se Duna, Alien, O Exterminador do Futuro e arquitetura gótica tivessem um filho ultra-violento… isso seria Warhammer 40k. Warhammer 40k é o primo distante, poderoso e totalmente ensandecido do Fantasy. Em vez de masmorras e medievalismo, o cenário se passa no 41º milênio, um futuro tão sombrio que virou sinônimo: No grimdark futuro, só existe guerra.

Neste cenário temos um futuro distópico onde o Império da Humanidade vive em guerra eterna. De um lado, temos a Humanidade decadente vivendo de fanatismo religioso e tecnologia mal compreendida. Do outro, alienígenas assassinos, máquinas ancestrais despertando do sono cósmico, raças psíquicas agonizantes e demônios surgidos do Warp. Tudo em escala épica, exagerada e propositalmente absurda. Os protagonistas não são aventureiros tentando sobreviver. São Space Marines geneticamente aprimorados, orkz berrando por destruição, Tyranids devorando planetas inteiros, Necrons despertando para reconquistar a galáxia e por aí vai.


O 40k gerou vários filhos rpgísticos. Dark Heresy, você é um acólito da Inquisição investigando cultos, heresias e ameaças xenos... é como Arquivo X no espaço, só que com inquisidores fanáticos. Rogue Trader, onde você é parte da tripulação de um comerciante espacial com licença imperial para explorar, negociar e conquistar, repleto de exploração, política e lucro.

Em Deathwatch você joga como um Space Marine, onde o tom é ação militar épica. Black Crusade te coloca literalmente a favor do caos, onde o foco está na corrupção e no poder, deixando o lado sombrio ainda mais sombrio. Por fim, Wrath & Glory, principalmente em sua versão mais nova, com um sistema mais flexível, permitindo grupos mistos (Guardas Imperiais, Eldar, Space Marines etc.). Neste último o foco é em ação heroica grimdark, com ritmo mais rápido e acessível.
 

Entrevista
 
Agora que você já tem uma noção básica do que esperar com Warhammer em uma mesa de RPG, vamos ver o que e a Tria editora tem para nos falar. Essa entrevista foi realizada duas semanas atrás (sim, nós tínhamos informações privilegiadas... Obrigado pela confiança, Tria) e complementada hoje. Não postamos antes por razões óbvias, mantendo todo hype na live da Tria.

Vamos começar pelo básico... por que Warhammer?

Tria: Embora possa ser uma resposta tão simples como "porque Warhammer é uma das maiores e mais adoradas marcas de jogos do planeta das últimas quatro décadas", é claro que é possível uma resposta mais objetiva. Warhammer não é um título que está chegando aos seus 40 anos por acaso. Com um cenário irreverentemente sombrio e perigoso, ele oferece uma brutalidade, tanto física quanto social, que força os jogadores a todo tempo tomarem decisões estratégicas, muitas vezes para evitar o maior mal, e nenhum jogo consegue igualar essa proposta nem de perto. Além disso, seu sistema tem regras e nuances que facilitam aos jogadores realmente vivenciarem a proposta do jogo, com mecânicas práticas, mas que oferecem profundidade.


A Tria já tem um tamanho e visibilidade notáveis, se comparado ao seu tempo de vida, e o lançamento de Cosmere é um indicativo disso. Qual o peso ou importância que um Warhammer trará para a Tria num mercado de RPG como o do Brasil?

Tria: Para ser bem sincero, esse tipo de perspectiva nunca foi nosso objetivo. Aqui, sem demagogia nenhuma, nossa missão é trazer jogos bons, que satisfaçam o gosto da comunidade nacional e possibilitar expandir e melhorar para os jogadores brasileiros a experiência com esses jogos. Isso está escrito no nosso site e nas nossas redes desde o dia 1, na fundação da editora, e trazer Warhammer reforça esse nosso compromisso e atenção com a comunidade. O ganho e importância não é para a editora, é para os jogadores brasileiros. Claro, a gente está possibilitando isso, mas é só. O importante é a galera poder jogar o que quer, na sua língua nativa.


A Tria não deve ter sido a única editora que tentou trazer Warhammer, mas é a única que conseguiu. Como foram as tratativas para trazer Warhammer para o Brasil?

Tria: A gente brinca que é o charme do nosso mineiro e os três fios de cabelo dourado do nosso Galadriel, mas a verdade é que foi um processo super tranquilo, tratado com muita seriedade e profissionalismo por ambas as partes. Um pouco lento, porque como se pode imaginar, a licença é complexa e envolve muitas partes diferentes e diversos detalhes, mas no geral bem tranquilo.


O que podem nos dizer sobre a publicação que chegará ao Brasil em si: qual edição, ordem de lançamento? Como a Tria pretende trabalhar com ele?

Tria: A novíssima 5ª edição, recém-anunciada! Vai ser ótimo poder lançar uma edição bem no momento do lançamento dela! Pretendemos trazer o livro básico no menor tempo possível dentro do que for possível, mas a meta é um lançamento simultâneo ou o mais próximo possível da edição em inglês.


Cada publicação de um RPG “de fora” no Brasil tem suas peculiaridades de produção. Do que vocês já sabem, quais os maiores cuidados que Warhammer necessitará em seu processo de produção?

Tria: A comunidade de Warhammer no Brasil é gigantesca. Então, teremos todo o cuidado com a localização do texto, e iremos utilizar algumas pessoas chave da comunidade para participar do processo de decisão dos termos e poderem opinar naquilo que for viável, para termos o maior cuidado possível com o texto.


A forma de jogar RPG hoje tem suas peculiaridades onde eu acredito que as mesas online (via discord e plataformas de jogos) já sejam infinitamente a maioria. Sabendo que lá fora plataformas como Foundry e Roll20 já tem suporte para mesas de Warhammer, a Tria pretende proporcionar algum suporte para as mesas em português?

Tria: O suporte vtts é algo que ainda está sendo discutido internamente a possibilidade e viabilidade, então por mais que tenhamos vontade de fazer as coisas, nem sempre poderemos.


A Tria se valerá do financiamento coletivo para concretizar o lançamento de Warhammer ou farão como com Cosmere, usando a pré-venda? O que já podem nos adiantar sobre isso?

Tria: Assim como o Cosmere RPG, Warhammer é gigante demais, e merece ter uma pré-venda direto no nosso site. O que podemos adiantar é que, para essa pré-venda, trabalharemos com PDF na hora para quem adquirir o livro.


Na live, em seu vídeo final onde é anunciado Warhammer, temos ali duas marcas. Tanto o Warhammer Fantasy Roleplay, quanto o Warhammer 40k. São duas naturezas de RPGs bem distintas, embora irmãs. Quanto ao Warhammer 40k sabemos que há pelo menos cinco linhas diferentes - Dark Heresy, Rogue Trader, Deathwatch, Black Crusade e Wrath & Glory. Não ter sido anunciado uma linha específica do 40k pode nos dar a esperança de vermos todas as linhas em português pela Tria?

Tria: Boa parte das linhas mencionadas já estão descontinuadas e não pertencem à Cubicle 7, com quem firmamos a parceria. Dito isso, ainda não é o momento de precisar exatamente qual das linhas será trabalhada.

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