terça-feira, 26 de maio de 2009

Diário de um Escudeiro - 24

Sexto dia de Salizz

Estamos chegando à fronteira entre Yuden e Bielefield. A pressão de estar dentro deste território tão parecido e, ao mesmo tempo, tão diferente de tudo no Reinado, faz com que imaginemos estar sendo permanentemente vigiados. E não duvido disso. As sobras parecem espreitar cada movimento nosso.

De qualquer modo acho que em um ou dois dias estaremos fora daqui.

Nestes últimos dias as coisas estão mais leves entre Sir Constant e mim. Aquele ar nebuloso de seu rosto sumiu aos poucos. A viajem tem sido mais tranqüila sem aquela chuva todo do início de nossa entrada em Yuden. Os dias têm sido ensolarados e quentes, mesmo com a proximidade do inverno.

Nossas conversas estão mais frequentes, mas nunca comentando aquele período do Dia do Duelo. Apenas uma vez eu me arrisquei a perguntar sobre aqueles dias, mas sem qualquer resposta direta por parte dele. Ele mudava de assunto rapidamente e mostrava-se muito irritado. Daí trocávamos de assunto e tudo voltava a normalidade.

Mas algo estranho aconteceu na última noite. Depois de eu ter me recolhido, após a refeição, fiquei um bom tempo tentando dormir, mas permaneci com os olhos fechados pensando na nossa jornada até aqui. De repente percebi uma movimentação e quando olhei de forma sutil, notei que Sir Constant havia levantado em silêncio e saído do acampamento, se embrenhando pela mata. Eu o segui sem dificuldade pois a lua estava em pleno escudo clareando meus passos.

Ele não andou mais do que uma centena de metros quando vi uma luminosidade adiante alguns metros dele. Permaneci em segurança alguns metros à atrás para não chamar a atenção de meu senhor.

Ele se dirigiu na direção à luz. Parecia ser um acampamento. Era uma pequena clareira com uma fogueira em seu centro. Mudei de posição para tentar saciar minha curiosidade indo mais para a esquerda do caminho que havia seguido. De uma posição melhor consegui ver o acampamento.

Haviam três soldados yudeanos e um cavaleiro sentados ao redor de uma pequena fogueira e duas barracas muito simples de panos cinza. Sir Constant também estava sentado ao redor da fogueira como os demais. Todos bebiam algo em canecos de madeira. Estava numa posição demasiado longe para poder compreender o que conversavam. Apenas Sir Constant e o cavaleiro yudeano falavam um com o outro sob atento olhar dos soldados. Mas pareciam estar tendo uma conversa amigável.

Este encontro durou mais ou menos um quarto de hora. Depois eles se levantaram, trocaram um comprimento e se despediram. Quando Sir Constant se virou para voltar consegui discernir apenas uma a parte final da conversa - “Não se esqueça de nos encontrar na noite em que for atravessar a fronteira. Eu trarei o que aguarda!”. Sir Constant fez um aceno com a cabeça e começou o caminho de volta.

Prontamente comecei à voltar também. Meus anos vivendo junto da Grande Mãe Allihanna, deusa da natureza, me concedeu parco conhecimento sobre como ser silencioso no meio do mato, mas o suficiente para esconder minha jornada daqueles que não estão acostumados.

Cheguei alguns instantes antes dele e postei como se nunca tivesse saído de meu lugar. Ele chegou vagarosamente e deitou-se sem dizer palavra alguma.

Logo adormeci.

Não posso mentir dizendo que não fiquei perturbado com isso. O que aquilo tudo queria dizer? Qual a relação de meu senhor com os yudeanos?

Terei de responde-las por conta.

Nenhum comentário: