quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Resenha: Gravidade, o filme onde o silêncio é a trilha sonora


Gravidade
A trilha sonora é o silêncio

Gravidade era um filme muito aguardado desde suas primeiras notícias e do primeiro trailer. Lembro que na SDCC 2013 o painel do filme teve uma grande participação do público e muita expectativa embora todos ficassem com um certo ‘que’ de desconfiança tanto pelo diretor quanto pela história.

O diretor Alfoso Cuarón, mexicano, não pode ser considerado ainda como um grande nome do cinema. Suas principais obras até hoje, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” (2004) e “Filhos da Esperança” (2006), são interessantes e bem feitas, mas não traziam segurança sobre o resultado de Gravidade e sua premissa. Com um orçamento de 100 milhões de dólares e dois pesos pesados do cinema americano – Sandra Bullock e George Clooney – Cuarón tentou dar algo novo ao espectador que fosse ao cinema. E conseguiu.

Cuarón criou um filme com profundidade na medida certa e sem cair na mesmice e nos clichês. Lidando com um dos principais medos do ser humano, a solidão, ele faz uma obra memorável

O filme conta a história de uma operação rotineira de reparo no telescópio espacial Hubble onde cinco astronautas realizam suas tarefas específicas. Ryan Stone (Sandra Bullock) é a técnica responsável pelo reparo do telescópio e Matt Kowalsky (George Clooney) é um astronauta realizando um passeio pelo espaço. A tarefa simples é interrompida por uma chuva de destroços de um satélite destruído que causam um acidente grave e totalmente inesperado. Com este acidente os dois astronautas ficam à deriva no espaço.

Até aqui temos a receita certa para um fracasso. O filme poderia ter caído no senso comum de um simples blockbuster onde os heróis sairiam ilesos e vitoriosos após solucionarem os problemas quase impossíveis. O típico final feliz de filme senso comum.

Mas não foi isso que tivemos.


Um dos grandes diferenciais do filme está em colocar os personagens numa posição de total impossibilidade de influenciar o meio. Após o acidente eles são jogados em uma rede de eventos onde eles são simples espectadores que não podem fazer nada além de simplesmente serem levados. Esta impossibilidade de influenciar o meio e ter seu destino jogado ao vento é apenas o início do processo de tensão que o espectador vive ao assistir Gravidade. Quando isso acontece no espaço somos levados à vivenciar a possibilidade real e palpável da solidão. E não só uma solidão pessoal, mas uma solidão de referenciais onde não recebemos qualquer tipo de estímulo, principalmente som. Somos nós e nossa respiração apenas.

Aqui sobressai o impecável cuidado com o som da produção e sua trilha sonora. Tomo o cuidado inclusive de afirmar que trilha sonora do filme é o silêncio. Os momentos no espaço são vivenciados de forma impressionante com os longos períodos de silêncio absoluto nos levando à uma imersão completa no horror que a solidão toma em uma situação como essa.

Outro elemento que completa este conjunto é o jogo de câmeras (responsabilidade de Emmanuel Lubezki) que viaja por todo o cenário como se fosse uma partícula livre no espaço, sem referências, sem pontos de apoio, simplesmente solta. A tomada inicial é longa e silenciosa. Viajamos com a câmera tal qual um astronauta perdido indo e vindo por entre os objetos e astronautas, sem cortes, sem referências, sem som. É apenas a imagem, o silêncio e a conversa despretensiosa dos astronautas.

O filme é ousado já que procura esta jornada usando apenas dois atores e algumas vozes. Com isso sobressai a atuação dos personagens, cativando os espectadores e fazendo-nos torcer por uma saída para Bullock e Clooney.


Tudo pode ser resumido em um simbolismo do renascimento onde somos levados à renascer com a personagem por todo o filme. As faltas de referenciais e a solidão aparente ficam escancaradas quando Ryan (Bullock) consegue chegar na estação espacial russa em um momento de estase e calmaria, colocando-se em posição fetal tal qual uma criança no ventre de sua mãe. E encerra-se com a analogia do nascimento e de sua dificuldade quando Sandra Bullock tenta chegar a superfície saindo da cápsula espacial dentro de um lago. Ela atinge a margem como uma criança que não sabe andar e seu primeiro contato com o que enxerga faz tudo parecer novo.

Gravidade é um belo filme que consegue divertir sem ser um blockbuster, ao mesmo tempo que consegue ser uma experiência para o espectador sem ser pedante e chato.


O filme está sendo o sucesso do momento. A grande maioria dos sites e blogs sobre cinema nacionais e americanos colocaram o filme como a grande produção de 2013. Foi uma estréia avassaladora no mercado internacional, arrecadando, só nos Estados Unidos, quase 56 milhões de dólares apenas entre sexta e sábado. No Brasil ainda não tenho os dados oficiais, mas o movimento foi muito bom por aqui também.

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