Seriados na Confraria
Resenha
de Fear the Walking Dead
[com spoilers]
Depois
de muita espera tivemos a apresentação do piloto do spin-off de The Walking
Dead. O seriado é tudo o que eu esperava, o que para alguns pode ser ruim ou
não. Com um sucesso avassalador no universo dos seriados e trazendo à tona os
zumbis como os novos queridinhos dentre os monstros de nossas mídias, The
Walking Dead com uma proposta contraditória. O seriado era um seriado de terror
sobre a vida em um mundo pós-apocalíptico onde os zumbis haviam exterminado
quase que toda a população do planeta. Mas, paradoxalmente, os protagonistas do
horror em si não eram esses monstros, mas os humanos.
Todo
o sucesso do primeiro seriado veio ancorado nas relações pessoais e seus dramas
em um mundo beirando a extinção. Os protagonistas, ainda antes dos humanos e
suas relações, são seus sentimentos e modo de agir frente à pressão extrema e
constante.
Dentro
disso, podemos dizer que Fear the Walking Dead apresentou em seu piloto o mesmo
enfoque. Os protagonistas são uma típica família de classe média americana da
costa oeste, com seus típicos esteriótipos – empregos estáveis, casamentos
desfeitos e famílias refeitas em novas relações, adolescentes em crises
existenciais e drogas. Em meio à tudo isso explodirá o horror.
O
primeiro ponto que vou salientar é que a produção do seriado não está
preocupada em criar algo novo novamente, como quando criou TWD. Eles
aparentemente mantiveram a mesma fórmula vencedora do seriado de origem com o
foco nas relações pessoais. Sei que ainda é cedo para um veredito final sobre
isso, visto que assistimos apenas ao piloto, mas não parece que teremos outro
foco, pelo menos por enquanto. E não vou dizer que isso me incomoda, pois gosto
mui to dessa visão, onde o ser humano e sua relação esta acima da simples ação
e fuga de zumbis. A disfuncionalidade aparente de uma família formada de
pedaços de duas outras dá o tom do piloto. Madison (Kim Dickens) possui dois
filhos de um primeiro relacionamento Nick (Frank Dilane), típico drogado, e
Alicia (Alycia Debnam-Carey), esteriótipo da nerd certinha mas revoltada. Ela
está em um relacionamento sério mas recente com Travis (Cliff Curtis), também
divorciado e com um filho (que mora com mãe). Ambos professores, dividem seu
tempo entre as atividades profissionais e a complicada relação familiar. Neste
ambiente é que tudo acontecerá.
O
segundo ponto, e que muito me agrada em FWD, é que o começo de tudo, pelo menos
como vimos até agora, não se preocupará com explicações de origem. Em nenhum
momento fala-se sobre como tudo começou. Algumas menções sobre uma virose, como
de uma gripe, atacando muitas pessoas surge de forma recorrente em diálogos
paralelos ou mesmo dos protagonistas. Mas nada é falado além disso. Não se
desenvolveram comentários sobre outros lugares do país ou do mundo, nem coisas
mais específicas. Tudo começa de forma gradual, incrédula e lenta. Um
incidente, um vídeo vazado na internet, o som constante de helicópteros e
sirenes em quase todas as cenas e pequenos comentários entre eles. Isso torna
tudo ainda mais real e palpável, demonstrando que a aparente intenção dos
produtores e mostrar tudo pelos olhos da pessoa comum e assustada, assim como
foram as duas primeiras temporadas de TWD.
O
ritmo do seriado não é avassalador como das últimas temporadas de TWD. Ele
começa lento e cadenciado, no mesmo ritmo dos acontecimentos, mas para aqueles
que já estão acostumados, não é nada que desanime em demasia. Eu
particularmente prefiro algo que vá pouco à pouco criando um ambiente de tensão
até o culminar do final do episódio. Para nós, como para os protagonistas, as
coisas são tomando forma, como se nosso cérebro fosse se acostumando à algo que
já percebemos, mas que não queremos acreditar.
Quanto
às atuações pudemos ver pouco até agora, mas com certeza a atuação de Frank
Dilane, o filho drogado, me agradou muito. Ele foi o foco do piloto e ele
conseguiu demonstrar muito bem a confusão mental de um viciado frente à
acontecimentos que ele não sabe se são reais ou pura alucinação. Do resto do
elenco, precisamos de mais episódios para verificar a qualidade e abrangência.
Eu
gostei muito do primeiro episódio de Fear the Walking Dead e acho que ele
facilmente cairá no gosto do público, mesmo que agora esteja um pouco mais
distante do dinamismo das últimas temporadas de TWD.
Nota: 8 de 10
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