domingo, 27 de janeiro de 2019

Uma história para Starfinder - Sobrevivência Incerta - Capítulo 3


Uma história para Starfinder
Sobrevivência Incerta

Capítulo 03
Nytta estava logo atrás de Kroan e de frente para a porta de desembarque com suas pistolas apontadas para ela. Tudo estava em silêncio depois do estrondoso disparo das armas de proteção da rampa. Após visualizar o alerta do scanner ela apenas tivera tempo de acionar as defesas e correr ao encontro dos colegas. A capitã Huua tentava distinguir alguma coisa entre a escuridão e a fumaça no pequeno monitor ao lado da porta.

“- Formas orgânicas desconhecidas capitã!” – disse a imediata – “umas dozes pelo menos ao redor do perímetro.”

“- Cobertura!” – sussurrou a capitã. Prontamente Kroan e Nytta se posicionaram agilmente em ambos os lados do corredor, à frente da porta de desembarque. Kroan agachou-se empunhando seu rifle ígneo, olho direito na mira. Nytta estava empunhando suas pistolas e com o rifle às costas. Embora não fosse a mais potente das armas ela as preferia ao invés de armas pesadas. A capitã empunhou o rifle com apenas uma das mãos e acionou a trava da porta com a outra.

A porta deslizou rapidamente para a esquerda e as luzes externas automáticas se acenderam iluminando uma larga faixa de terra. O ar do planeta, embora respirável, era denso e estranho, e o efeito de ozônio dos disparos não ajudavam em nada. Fora isso não havia movimento algum.

A capitã Huua deu dois passos à frente enquanto os outros dois se posicionavam nas laterais da porta. Tudo estava quieto.

“- O que quer que estivesse nos rodeando não está mais” – disse Nytta olhando o pequeno monitor em seu antebraço, por onde acompanha os dispositivos da nave.


A capitã deu mais alguns passos até vislumbrar uma massa disforme alguns metros adiante. Alguma coisa, que estava no alcance das armas de proteção da rampa de acesso, foi alvejada logo que o sistema voltou a funcionar. Huaa baixou a guarda e se aproximou, seguida pelo resto da tripulação.

“- Mas que diabos é isso?” – disse Kroan tentando não vomitar devido ao odor insuportável.

“- Vamos descobrir. Kroan, verifique a estrutura externa da Icarus e comece os reparos necessários” – disse a capitão de forma enfática enquanto escrutinava o ambiente ao redor – “isso aqui não é seguro e quero sair daqui o mais rápido possível!”

O garoto jogou seu rifle nas costas e saiu correndo para debaixo da nave. Por ser pequeno quase conseguia ficar de pé, o que facilitava sua tarefa. Verificando o dispositivo em seu punho e a holotela flutuante à sua frente conseguiu todas as informações necessárias para começar  seu trabalho agora que o sistema havia sido reinicializado. Havia um pequeno rompimento parcial no casco, nada sério, e as medidas automáticas de reparo seriam um ótimo paliativo. Uma solda externa deixaria como novo até chegarem à algum espaçoporto. O maior problema estava em um dos trens de pouso com sua barra central de sustentação avariada, deixando a nave arqueada para um dos lados.

Parece brincadeira, mas com toda a tecnologia existente algumas coisas ainda são regras. Não é possível vencer certas leis da física tais como não se conseguir levantar voo dentro de certo grau de inclinação. A força de empuxo inicial não consegue ser compensada em diferentes áreas por um grau de inclinação errado e simplesmente a nave seria jogada para o lado. Quanto maior a nave, maior o problema. Kroan sabia muito bem disso e arrumar isso seria sua prioridade se desejassem sair dali o mais rápido possível.

Kroan apertou um botão em seu punho e aguardou um instante. Um som abafado e contínuo começou a aumentar até que um cubo metálico pouco maior que um palmo surgiu flutuando, vindo de dentro da nave.

“- Olá amiguinho! O que acha disso?” – perguntou ao drone apontando para o trem de pouco.

“- Acho que precisa melhorar suas aterrissagens! Já pensou em algum curso rápido?” – soou a voz metalizada enquanto aproximava seu dispositivo ocular da peça avariada.

“- Acho que vou apagar suas rotinas de humor de sua IA se continuar assim.”

“- Claro que vai, m-e-s-t-r-e, mas quem lhe traria um pouco de alegria ao seu dia?”

“- Sabe o que fazer, não é Mark?”

“- Pegar a peça sobressalente e auxiliar na troca” – respondeu pronta e entusiasmada a voz forçadamente alegre do drone.

“- Sim, pegue a peça, mas antes solde externamente a fissura no casco enquanto eu começo a soltar essa peça”. Mark esticou seu braço metálico fazendo uma continência exagerada e voou para dentro da Icarus assobiando uma canção que Kroan não lembrava de tê-la gravado em sua memória.

O drone passou rapidamente pela capitã e sua imediata que ainda tentavam entender o que era aquela criatura feita em pedaços. Nytaa estava debruçada sobre os restos manuseando partes com algum instrumento enquanto tentava escanear outra parte com o dispositivo em seu pulso. Huaa prestava atenção no que a amiga fazia, mas não se descuidava das redondezas. As luzes da Icarus eram suficientes para iluminar apenas algumas dezenas metros adiante e ela não gostava disso. Até o amanhecer todos corriam o dobro do perigo.

“- Alguma ideia com que estamos lidando, Nytaa?” – perguntou a capitã se espichando por sobre seu ombro e espiando o que ela cuidadosamente colocava dentro de um dos tantos recipientes que trazia no bolso.

“- Nada ainda, mas espero que o laboratório me ajude. Analisando os restos apenas dá para dizer que são grandes, cerca de dois metros, com seis ou mais patas, todas elas pontiagudas à ponto de serem perigosas, e possuem uma carapaça muito resistente.” Ela dizia isso enquanto mexiam em um pedaço ou outro dos restos.

“- Isso não é bom” – disse a capitã levantando-se e olhando ao redor – “os sensores haviam detectado pelo menos uma dezena ao nosso redor até esse bicho ser destroçado. Quando saímos todos tinham sumido, o que significa que não são estúpidos e que possuem certo grau de inteligência! Isso é ruim... grandes, resistentes, perigosos e inteligentes. Nytaa, mande seu amiguinho dar uma vasculhada no perímetro enquanto continua com seu estudo no laboratório!”

De pronto Nytaa levantou recolocando os frascos de amostras e seu bolso e correu para dentro da nave enquanto usava o comunicador –“hora de acordar baby!”. Ela entrou na nave correndo indo em direção ao laboratório, no final do corredor e não por acaso ao lado de seus aposentos. Quando a porta se abriu, do lado de dentro, seu drone já a aguardava pacientemente. Ao vê-la ele acionou uma série de luzes e sons que ela jurava serem sinais de afeto.

A imediata passou por ele dando tapinhas em sua cabeça, ou seja, no topo daquela esfera enquanto procurava espaço sobre a bancada para colocar suas amostras - “baby, o negócio é o seguinte, perímetro de duzentos metros ao redor da nave, mapeie a região e espalhe alguns sensores e câmeras.”

Ela se abaixou conferindo alguns ajustes de seu amigo esférico e verificando as esteiras laterais. Ela ia como que checando itens de uma lista.

“- Sensores, ok?” - o drone piscou luzes a assobiou.

“- Pernas de escalada?” - o drone esticou suas seis pernas metálicas e as retesou como que espregiçando-se.

“- Câmeras e sensores para instalar?” - o drone abriu um compartimento mostrando os itens.

“- Arma?” - o drone esticou um braço curto com um laser.

“- Cara de mau?” - todas as luzes ficaram vermelhas e ele imitou o som de rosnado.

“- Perfeito. Agora faça a tarefa e me avise qualquer incidente… e mais uma coisa… nada de correr perigo, hein?” - o drone ascendeu algumas luzes rosa e fez um assobio grave. Nytaa abaixou-se e deu um beijo no topo de seu amigo - “agora vá!”

Baby acionou as esteiras e correu para fora com uma destreza difícil de acreditar ser possível para aquele drone.

Do lado de fora Huaa estava distante algumas dezenas de metros, à bombordo da nave, sobre uma elevação de areia e pedra acompanhando as marcas deixadas ao aterrissarem. Realmente Kroan houvera feito um milagre.

Este era ou um enorme asteroide ou um planeta anão, a capitã ainda não tinha decidido. Incrivelmente ele tinha atmosfera, um pouco mais densa, é verdade, mas respirável. A visão até onde enxergava, com os primeiros raios de sol, era de uma terra morta e arenosa, algo semelhante ao que ela vira nos desertos de Plenaluz, em Verces. Elevações e planícies de areia e pedra e nada vivo até onde a vista alcançava.

Uma pequena nuvem de poeira saindo da nave chamou sua atenção, indicando que o drone de Nytaa já estava à caminho, o que a tranquilizou. Finalmente as coisas estavam começando a entrar nos eixos. Ela precisava de um pouco de ordem para se acalmar. Ter a responsabilidade sobre sua tripulação não a incomodava, desde que pudesse fazer bem seu trabalho os mantendo sãos e salvos, e ordem era uma coisa fundamental para isso.

A capitã começou a circundar a posição da nave sem nenhum sinal de movimento além da nuvem de poeira de Baby ao longe e o brilho irregular da solda que vinha debaixo da nave.

Depois de alguns metros ela encontrou um rastro, provavelmente da criatura destroçada. Eram marcas circulares como se dezenas de picaretas tivessem feito pequenos furos no solo. Como Nytaa havia dito, eram várias as pernas, e a quantidade de furos espalhados pelo solo confirmavam a teoria. Elas vinham de uma determinada posição em direção ao topo de uma colina, atrás da nave. Com seu fuzil armado e pronto ela começou a segui-los.

Seu comunicador soou - “fala Nytaa, o que descobriu?”

“- Não muito ainda. Se eu estivesse na base teria mais recursos com meus brinquedinhos. Por enquanto posso dizer que é algum tipo de criatura de fora de nosso sistema. Seu dna não bate com nada registrado ou meramente conhecido.”

“- Hum... Isso não e bom… sem informação, mais perigoso é... pelo menos sabemos que projéteis o ferem!”

“- Outra coisa que percebi, mas pode ser um erro, já que temos pouca informação. Esse bicho tem características semelhantes à insetos conhecidos de uma série de planetas. Corpo segmentado, carapaça, quantidade de pernas, sistema nervoso... Pode ser só coincidência, mas nunca se sabe. É tudo muito novo.”

Huaa continuava seguindo o rastro subindo a pequena colina em direção ao sol nascente.

“- Eles serem insetos é relevante de alguma forma?”

“- Sim, Huaa. Algumas características ou modos de agir são incrivelmente semelhantes mesmo em espécies de planetas diferentes.”

Ela continuava subindo a colina.

“- Algo útil?”

“- Bom, articulações frágeis são alvos bons para ataques, imobilizando-os ou atrasando-os. A carapaça resistente é mais suscetível à ataques de projéteis do que energéticos. Fogo é pouco efetivo, à não ser que seja em grande intensidade. Vivem em colônias numerosas. Possuem subespécies especializadas…” - Nytaa ia listando as características conforme conferia a tela do microscópio digital.

Huaa chegou ao topo da colina justamente quando sol começava a iluminar todo o platô. Ela ficou paralisada.

“- Nytaa, repete a parte da colônia…”




Kroan estava segurando a peça sobressalente do trem de pouso enquanto Mark IV a soldava pairando alguns centímetros do chão.

“- Essa arrumação deve durar até chegarmos à algum lugar onde possamos trocá-la por inteiro, mas faça uma solda dupla só por garantia.”

O drone movia-se com maestria sem produzir quase nenhum som, soldando ora com um dos braços, ora com o outro, ora com os dois. Todas as principais diretrizes de Mark estavam ligadas às tarefas de engenharia ou computação. Kroan, logo que o construiu, tinha a intenção de criar um subordinado que facilitasse seu trabalho na oficina da família. Agregou bancos de dados com tudo o que pode encontrar sobre naves e veículos naquele momento. As melhorias ligadas ao conhecimento computacional vieram um pouco depois. Era para ele ser um ajudante ou mecânico apto quando bem direcionado por ordens diretas e simples. O melhor que ele poderia fazer com dez anos de idade. Mas isso foi além.

A vida na oficina da família, na Estação Absalom, lhe rendeu duas coisas. Muito conhecimento prático e solidão. Embora um receptáculo de todas as culturas dos Mundos do Pacto, o tipo de atividade o mantinha como que dentro de uma bolha de interações. Desde que saíra de sua terra natal, Castrovel, nunca mais teve uma vida normal. Ele se sentia como uma das tantas ferramentas penduradas nas paredes ou nas gavetas da oficina.

Por tudo isso, conforme o tempo foi passando, Kroan começou a ver em Mark não um mero ajudante, mas um companheiro para inconscientemente suprir as relações que não tinha na vida real. Inicialmente ele conversava com o drone mesmo sabendo que não teria resposta alguma ou simplesmente lhe dava a ordem para segui-lo. Pareciam inseparáveis, mesmo que isso fosse apenas uma mera fantasia.

Quando Mark foi destruído em um acidente na oficina, devido à falha no sistema antigravitacional de elevação de uma nave que estavam consertando, Kroan sentiu como se tivesse perdido realmente um amigo. Ele passou os três dias e noites seguintes trabalhando para recuperá-lo. O reparo deu origem à Mark II, embora o garoto o chamasse apenas de Mark. O projeto fora melhorado e seu drone espelhava o crescente talento de Kroan em construir coisas, tendo agora um sistema ainda rudimentar de aprendizado e de resposta empática à estímulos externos de interação, ou seja, ele aprendia um pouco, mas principalmente, tinha a capacidade de responder à interações.

Mark ainda foi destruído outras duas vezes, uma ainda na oficina e outra já quando faziam parte da tripulação da Icarus. À cada nova reconstrução o projeto fica melhor e a inteligência artificial de Mark se torna mais e mais complexa e intuitiva.

Kroan foi trazido a realidade quando percebeu o silêncio. Não havia mais aquele som crepitante do maçarico de Mark. O drone havia terminado o reparo da peça, mas permanecia estranhamente imóvel, pairando no ar na mesma posição. Ele o olhou com atenção imaginando ser mais uma piada da rotina de humor implantada dias atrás e que ele ainda lutava para se acostumar. Só então ele sentiu.

Era algo quase imperceptível. Passaria despercebido pela maioria, mas não por alguém treinado em encontrar mínimas vibrações em cascos e motores de espaçonaves ou veículos de toda a espécie. Ao mesmo tempo que mínimo, também era claramente crescente. Algo estava se movimentando na direção deles.

“- Você sentiu?” - o garoto perguntou aprumando o corpo para enxergar além do casco da Icarus.

“- Uns trezentos metros e se aproximando.”

O garoto saiu debaixo da espaçonave em direção à ponte, seguido do drone flutuante ao seu lado. A frente da nave havia uma planície ampla com alguns quilômetros e depois elevações acentuadas. Curiosamente não havia nada no campo de visão que justificasse as vibrações, muito menos tão próximas.

O comunicador no braço de Kroan soou mostrando ser a capitã.

“- Capitã, tem algo estranho aqui…” - o rapaz foi o interrompido antes que conseguisse terminar a frase.




Momentos antes, quando a capitã conseguiu acostumar sua visão a luz matutina, todo o platô se apresentou como um quadro de terror. Nytaa acabará que reforçar que uma das características dos insetos era a vida em colônias. Huaa não queria acreditar. Ela puxou seu binóculo e o graduou para aumento máximo e todos os seus temores se mostraram verdadeiros.

O platô, à cerca de quinhentos metros da traseira da nave, tinha uma textura curiosa não por uma mera peculiaridade do solo daquele rocha maldita pairando no espaço. Eram pequenos furos. Centenas, milhares, milhões. Todo o platô estava marcado com incontáveis pegadas daquelas sinistras criaturas.

“- Nytaa, quantas criaturas podem ter nessas colônias?” - questionou a capitã pelo comunicador ainda olhando o binóculo.

“- Ah, nada muito significativo, de dez à cem mil espécimes... às vezes mais... se não tiverem um predador natural podem chegar à milhões”. Huaa praguejou mentalmente em todos os idiomas que conhecia. Ela sabia que agora, mais do que nunca, tinham de sair dali o mais rápido possível.

Uma pequena variação no horizonte, além do platô, chamou sua atenção. Era como um nevoeiro, uma neblina, se formando alguns quilômetros além. Mas sua mente estava em modo de alerta máximo. A primeira coisa que pensou foi que para haver algum tipo de neblina era necessário haver algum tipo de umidade e aquela rocha era seca. Lembrou imediatamente de Baby saindo da nave e criando uma pequena nuvem. Só podia ser uma nuvem de poeira. Pior. O vento estava indo naquela direção, mas a nuvem se aproximava. Algo estava vindo.

“- Merda…”

Huaa acionou o comunicador para Kroan.

“- Capitã, tem algo estranho aqui…” começou o garoto, mas ela não tinha tempo - “Diz que estamos prontos para levantar voo!” – ela disse.

“- Preciso de mais algum tempo... meia hora, quem sabe. Mas, tem algo vindo da nossa frente... ainda não consigo ver o que é!”

“- Tem muita coisa vindo de trás de nós... temos que levantar voo AGORA!” – a capitã esperava ter sido enfática o suficiente.

A ordem da capitã pegou Kroan de surpresa. Mas a maior surpresa foi quando o chão começou tremer não mais de forma sutil. Um pequeno terremoto o obrigou a equilibrar seu corpo ao mesmo tempo de Mark subia um pouco mais para ter um melhor visual.

Saindo de um ponto de cobertura, alguns metros à frente, Baby surgiu em velocidade máxima com um som que todos conheciam como sendo de alerta de perigo, fazendo instintivamente Kroan puxar seu rifle. Estranhamente ele não tinha no que mirar. Embora a vibração parecesse de um tanque pesado se aproximando, não havia nada à sua frente.

Baby parou ao seu lado trocando alguns sinais sonoros com Mark – “ele disse que há alvos vindo em nossa direção alguns quilômetros à oeste e sul e disse que a vibração próxima fez seus sensores dispararem, mas não localizou a origem” – disse Mark.

Então tudo aconteceu muito rápido. O chão, algumas dezenas de metros à frente da nave, simplesmente desapareceu ruino. Em meio à poeira algo grande, enorme, começou a sair do buraco. À primeira vista era tão grande quanto uma pequena nave e tão robusto como um hover tank. Ele surgiu inicialmente colocando duas enormes pernas para fora forçando para que seu corpo viesse a superfície. Após estar totalmente fora do buraco ele parecia um besouro superdesenvolvido com quase três metros de altura e uns sete de comprimento, no mínimo.

Kroan estava literalmente paralisado. Mas quando o enorme inseto lançou uma rajada de plasmas em algumas pedras próximo de onde saíra, quase as derretendo, ele retornou à si fazendo a única coisa que poderia – disparando seu arma. Os disparos pareceram não fazer nem cócegas naquele enorme monstro, apenas denunciar uma presa para ele.

“- Isso não vai adiantar” – disse Mark IV saindo do silêncio – “e temos mais companhia!” De trás do enorme inseto outros três, iguais àquele destruído pelas armas automáticas, saltaram da cratera no chão. Enquanto o grande levaria algum tempo para chegar até eles, os outros três, muito ágeis e rápidos, precisariam de apenas alguns segundos.

Do nada Nytaa surgiu por trás de Kroan empunhando um rifle de combate e disparando diretamente para o primeiro dos três insetos menores arrancando duas de suas pernas e deixando-o no chão. Mesmo assim aquela coisa não tinha intenção de parar e continuava se arrastando em direção à nave.

“- KROAN!!! Nos tire daqui AGORA!” – o grito da capitão pelo comunicador o fez agir! Ele não precisou de mais nada para começar a correr em direção à rampa de embarque, seguido de Mark e Baby.

“- Nytaa, aquela coisa grande lança jatos de plasmas. Se pegar na nave já era! Ela não pode se aproximar!” – ele gritou enquanto se afastava por debaixo da nave.

Nytaa escutou as palavras sem perceber o perigo real, se concentrando nos insetos menores que estavam cada vez mais próximos. Apenas quando a enorme coisa lançou um novo jato de plasma ela percebeu todo o risco que corriam. A nave não estava pronta para resistir àquele tipo de dano, pelo menos não parada no chão. Seria catastrófico. Ela tentava pensar em algo enquanto mirava para um novo disparo. Quatro projeteis precisos no dorso do segundo inseto deixando-o, desta vez, inerte. Faltava apenas um. Infelizmente não percebeu o quão rápido ele eram e a criatura já estava quase sobre ela.

Com um salto a criatura escapou de um disparo desajeitado e assustado da imediata, pousando à menos de dois metros dela, fazendo-a cair de costas. As duas patas frontais, em forma de longas e pontiagudas lanças, projetaram-se em sua direção atingindo o solo. Ela escapou de ser empalada mais por sorte do que por agilidade, rolando para lado. Quando o segundo ataque do monstro ia acontecer disparos o impediram vindos da capitão Huaa, que acabara de chegar. Nytaa completou o ataque disparando de baixo e criando uma chuva de sangue verde e mal cheiroso.

Elas nem tiveram tempo de comemorar. Nytaa se pós de pé rapidamente, trocando o cartucho da munição e disparando contra um inseto que avançava correndo, com mais quatro atrás, pelo flanco.

“- Vou cuidar daquela coisa” – disse Huaa, se referindo ao lançador de plasma – “me dê cobertura e vamos sair daqui... tem muitos deles vindo.”

Para quem conhecia mais intimamente a tripulação da Icarus uma coisa era clara – Huaa e Nytaa tinham uma sinergia invejável. Mais do que um par romântico, nos campos de batalha elas lutavam como uma só. Um desavisado poderia dizer que elas tinham alguma espécie de conexão ou interface permanente que lhes permitiam saber uma do movimento da outra, com manobras e ações precisas e letais. A história delas era antiga, mas o ballet mortal que desempenhavam vinha de alguma coisa sem explicação. Elas gostavam do que faziam e principalmente gostavam de fazer juntas.

A capitã correu em direção ao enorme tanque em forma de inseto, jogando o rifle para as costas enquanto preparava algumas granadas unido-as magneticamente. Um lançamento não forte, mas preciso, conseguiu posicionar o dispositivo por sobre o que seria o pescoço do monstro. Uma rajada de plasmas ainda foi lançada em sua direção antes da explosão, a obrigando à se jogar para longe do perigo incandescente, antes da cabeça da besta ser arrancada, fazendo-a tombar.

Um pouco atrás Nytaa revezava entre disparar nos insetos que se aproximavam dela, pelo flanco da nave, e nos novos que saiam da cratera próxima de Huaa. Ele usava com precisão a economia de recursos necessária no uso de cartuchos com apenas doze projeteis, disparando nas pernas apenas duas vezes para atrasá-los. Isso permitia que atingisse seis antes de cada recarregamento. Mas mesmo com sua pontaria, que incrivelmente não estava lhe faltando hoje, ela tinha que esperar eles se aproximarem um pouco para não ter perigo de desperdiçar munição. Isso estava fazendo surgirem cada vez mais insetos de todos os lados.

A capitã recuou para o lado da imediata e ambas dispararam incessantemente, ora trocando de posição, ora uma dando cobertura para a outra recarregar seu fuzil. O som dos motores quando foram acionados foi uma benção já que o número de insetos estava se tornando impossível de conter. Huaa fez um sinal para Nytaa e ambas recuaram rapidamente, mas mantendo os disparos nos insetos mais próximos. Quando chegaram à rampa de embarque a nave começou a subir e ambas se posicionaram na plataforma à tempo de ver um mar de insetos que estavam chegando por sua retaguarda. Mais alguns segundos e teriam sido enterradas vivas.


...


A nave atingiu uma altitude baixa, mas constante. Os motores pareciam se esforçar ao máximo, mas a nave não conseguia subir mais. Quando a porta externa fechou Huaa correu para a ponte se jogando para sua poltrona, ao lado da do piloto, ocupada por Kroan. Muitas luzes erradas piscavam e sinais sonoros eram disparados com alarmes diversos.

“- Eu disse que precisava de mais algum tempo” – bufou Kroan não como uma reclamação, mas como uma explicação frente ao esforço que ele fazia com o manche da Icarus.

“- Alguma notícia de Sakesk ou Target?” – perguntou Huaa.

“- Eu mandei uma nova mensagem no meio do combate” – disse Nytaa – “espero que tenham recebido!”

“- Capitã... os motores não têm potência para sair da atmosfera... na verdade não conseguiremos subir mais do que isso... mas posso nos afastar muito desses monstros até achar um local para pousar com um pouco mais de segurança!” – disse Kroan.

“- Nos deixe no ar o máximo que puder!” – disse a capitã levantando e sendo substituída por Mark IV, que pousou em seu assento esticando seus braços metálicos acionando botões e alavancas.

O voo durou cerca de duas horas antes que Kroan fosse obrigado a escolher um lugar para pousar. O topo de uma elevação foi a escolha possível. Pouca área ao redor para aquelas coisas escavarem e atacarem sorrateiramente, ampla visibilidade de monstros se aproximando e um ótimo ângulo para disparos se necessário. Huaa recomendou que pousassem com ajuda dos dispositivos de antigravidade para a menor indicação possível de vibração. Nytaa suspeitava que aquelas coisas poderiam se guiavam pelas vibrações. A ordem era de silêncio absoluto dentro da nave, o mínimo possível de movimentação e velocidade nas tarefas.

Os três se encontraram na mesa de refeições, junto com Mark e Baby. Os estômagos roncando era um indicativo de que passaram quase um dia sem se alimentarem, além de que precisavam relaxar pelo menos um pouco.

“- O que faremos agora?” – perguntou Kroan em um tom baixo entre uma dentada e outra.



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Capítulo 4




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