Pathfinder 2E no
Brasil:
Entrevistas sobre o andamento
do projeto e seu futuro
Quando
nos deparamos com um RPG traduzido na prateleira de algum loja especializada ou
em algum site de vendas, pode nos escapar todo o trabalho que foi necessário para
sua produção. O logo da editora na capa é muito mais do que uma simples marca
registrada. Ele significa o trabalho árduo de uma numerosa equipe que vai desde
sua administração, com a assinatura dos contratos lá no início, até a equipe de
markting, que trabalha sobre o produto já terminado. No meio de tudo isso temos
muito trabalho e dedicação.
Uma
editora como a New Order, exemplo de empresa dedicada ao RPG nacional, muito de
seu sucesso nos lançamentos de obras principalmente trazidas de fora para o
Brasil se dá pelo esforço e dedicação de sua equipe. Tradutores, revisores,
editores, diagramadores, um sem número de tarefas e profissionais. Todos
dedicando tempo e paixão ao trabalho que resulta naquele livro de RPG na
prateleira da loja especializada ou no site de vendas.
Quando
a New Order anunciou que havia firmado contrato com a Paizo para lançamento das
linhas Starfinder e Pathfinder 2E em português, muitos eram céticos quanto ao
resultado final. O ceticismo não existia por dúvidas quanto ao trabalho da New
Order, mas pelos exemplos recentes com a mesma linha em outra editora que não
agradaram ao público. Quando Starfinder em português começou a chegar às mãos
dos financiadores (ainda em pdf) o ceticismo foi substituído pela grata certeza
de que as linhas da Paizo estavam nas mãos certas. Essa certeza tem aumentado
com a liberação de mais e mais material de Starfinder após seu belíssimo
financiamento coletivo.
Com
esses antecedentes e com o anúncio inédito de lançar Pathfinder 2E em português
no Brasil simultaneamente com seu lançamento nos EUA em 1º de agosto, que a expectativa
quanto ao lançamento deste RPG se traduziu em um financiamento que precisou
apenas de 24 horas para bater sua primeira meta (link para financiamento coletivo de Pathfinder 2E no Brasil). E não só isso. Precisou de apenas
alguns dias para bater todas as metas extras, obrigando a editora à
apressadamente determinar novas metas que, pelo visto, logo serão batidas
também.
Eu
particularmente não duvidava do sucesso de ambas as empreitadas e tenho certeza
que muito desse sucesso passou pelas mãos talentosas da equipe da editora,
equipe essa representadas por algumas de suas peças-chave nessa entrevista – Bruno
Mares (tradutor e coordenador das linhas de produtos da Paizo), Calvin Semião
(tradutor) e Rafael Tschope (diagramador). Eu conversei com os três rapidamente
sobre o projeto, seu trabalho dentro dele e suas expectativas futuras para esse
trabalho incrível que ganhou forma com Starfinder e está se fortalecendo com
Pathfinder 2E.
Vamos pelo
início, apresentem-se amigo!
Bruno Mares: Olá! Sou Bruno
Mares, tradutor e coordenador das linhas dos produtos Paizo (Starfinder,
Pathfinder 2e e futuramente Pathfinder Adventure Card Game) publicados New
Order no Brasil. Também trabalhei em outros títulos de RPG com Symbaroum sendo
um dos mais notáveis.
Uma coisa que
muito me perguntam: consegue-se viver de RPG ou de tradução de RPG no Brasil?
BM: Eu, não;
tradução e RPG não são meu trabalho principal. Faço por amor ao hobby e como
uma diversão (que levo muito a sério, diga-se de passagem). Mas tem muita gente
que é bem mais competente que eu que com certeza vive disso. Mas acredito que
sejam poucos sortudos, pois acredito que ainda temos um mercado limitado em
questão de jogos analógicos aqui no Brasil; cenário esse que felizmente está
mudando. A frase o "RPG está morto" nunca se revirou tanto na tumba. [risos]
E como
conciliar o trabalho 'normal' com esta tarefa de coordenar tradução de RPG?
BM: Ficando sem
dormir. Única explicação possível, porque às vezes nem eu sei como dou conta. [risos]
Sabe aquela história do "o que você faz de meia-noite às seis?!?".
Pois é, RPG. Mas na real, é à noite e um pouco aos finais de semana.
Um projeto tão
amplo quanto as linhas da Paizo exigirão um plus sobre esse esforço ou esse já
é o plus?
BM: Plus, suor,
insônia e às vezes até esquecer de beber água. Quando propus ao Anésio e ao
Manjuba para lançarmos o Livro Básico simultaneamente ao inglês já tinha noção
disso (e ressalto: feito histórico, já que nenhum outro país no mundo fará
isso, e desconheço alguma vez que isso tenha acontecido — pelo menos com
qualquer jogo grande e que apresente tanto conteúdo num único livro). Para você
ter ideia, a Paizo está lançando mais de 1400 páginas de Pathfinder Segunda
Edição em Agosto. Só um esforço sobrenatural para tentar acompanhar isso.
Estamos fazendo o máximo possível, dentro das nossas possibilidades, para
conseguirmos ter tudo isso publicado até dezembro deste ano.
“Aí
foi uma loucura só: de cara, corri pra avisar
todos
meus amigos que eu seria um
dos
responsáveis por traduzir
nosso
jogo favorito (...)”
Sem dúvida
impressionante nem chega perto de definir esse feito! Vamos falar um pouco da
história desse projeto. Como foi o início do projeto em si? Quando chegaram
pela primeira vez para ti com a idéia “cara, vamos trazer o material da
Paizo”... qual foi a tua reação, o sentimento? Como tu participaste desse
movimento inicial?
BM: Rapaz... Senta
que lá vem história, hehe. Quando o Starfinder foi anunciado lá fora, procurei
a Paizo pra ver se tinha como trazer ele pro Brasil. Nas conversas com eles,
descobri que já estava sendo negociado aqui no Brasil. Acabei cruzando caminho
com a New Order, que estava negociando pra trazer ele pra cá. Acabou ficando
com a Devir, que já tinha a licença da 1ª edição do Pathfinder. Depois, com o
fim do contrato da Devir com a Paizo, a New Order — e a Devir foi parceira
nesse contato inicial (obrigado, Devir; por isso e pelos RPGs dos anos 90/2000)
acabou voltando a pleitear a licença do Starfinder e do recém-anunciado
Pathfinder Segunda Edição.
Numa
noite de setembro do ano passado, Anésio me ligou e me pediu para montar pra
ontem um cronograma de lançamentos factível de cumprirmos para negociar com a
Paizo. Tremi de emoção, mas montei um esquema legal e acabamos fechando as duas
licenças. Fizemos o Starfinder, a tradução, revisão e diagramação foram bem
recebidos e o Anésio nos convidou pro PF2 (eu já tinha cantado/me oferecido ano
passado, mas ainda não tava confirmado, [risos]). Aí foi uma loucura só: de
cara, corri pra avisar todos meus amigos que eu seria um dos responsáveis por
traduzir nosso jogo favorito, e depois de passada a euforia busquei todas as
informações necessárias para poder fazer a proposta indecente do lançamento
simultâneo. Deu no que deu, vivemos felizes para sempre.
A montagem da
equipe de tradução passou pela tua mão ou as peças foram sendo juntadas pela
NO?
BM: No Starfinder,
fui convidado e já me integraram à equipe pré-definida (cada um sendo
adicionado ao time em sua fase do processo). Agradeço à New Order por me
apresentar e dar de presente a amizade de Calvin, Thiago Rosa, Alan Rozante,
Alexandre Straube e Tâni Falabello. Só gente fina e competente! Depois, por
conta do prazo que tínhamos de cumprir para o lançamento do Starfinder, insisti
pessoalmente na adição do Rafael Tschope (que eu já conhecia de outros
trabalhos não relacionados a RPG) e ele se encaixou muito bem na equipe para
finalizar o Starfinder na última fase dos trabalhos gráficos.
Para o Pathfinder, já ajudei um pouco mais e tive voto nas escolhas da equipe antes do projeto começar. Nino (nosso revisor ultra competente) e Thiago Rosa (que será adicionado à equipe como tradutor de alguns suplementos) foram nomes que participei na escolha prévia. Mas é importante ressaltar que Anésio e Manjuba sempre consultam a equipe inteira para a maioria das decisões, e isso torna tudo muito mais fácil.
Para o Pathfinder, já ajudei um pouco mais e tive voto nas escolhas da equipe antes do projeto começar. Nino (nosso revisor ultra competente) e Thiago Rosa (que será adicionado à equipe como tradutor de alguns suplementos) foram nomes que participei na escolha prévia. Mas é importante ressaltar que Anésio e Manjuba sempre consultam a equipe inteira para a maioria das decisões, e isso torna tudo muito mais fácil.
Não escondo de
ninguém minha paixão pelo Starfinder. Trazê-lo, pelo que tu disseste, foi uma
convicção de todos vocês, independente do fato do Pathfinder segunda edição
estar programado. Até que ponto ele ter vindo antes ajudou como criação de
knowhow para um projeto ainda maior como é o Pathfinder 2E?
BM: Em todos os
pontos! Por ser um jogo novo, possuir termos muito mais complexos do que a
fantasia medieval e por apresentar uma nova visão e estrutura do que estávamos
acostumados a ver em jogos d20, o Starfinder nos fez aprender MUITO sobre
localização de jogos e a aprimorar toda nossa capacidade de coordenar projetos.
Confesso que, perto do Starfinder, trabalhar no Pathfinder está sendo
"fichinha" em questão de tradução. Entretanto, por ser um jogo mais
antigo e famoso, derivado de outro jogo ainda mais velho, e por ter uma grande
base de fãs, nosso cuidado na escolha dos termos em português está sendo ainda
mais criterioso.
Podemos dizer
então que o Starfinder ter vindo antes foi um dos diferenciais para que a
tradução dessas mais de mil páginas ter avançado tanto em tão pouco tempo. Isso
foi algo programado por vocês ou foi uma grata surpresa que acabou aliviando o
trabalho?
BM: Certeza que o
Starfinder foi um diferencial. Mas não foi surpresa o ritmo de tradução não.
Foi programado, conversado e discutido. Entre nós e com a Paizo, que autorizou
essa empreitada e até divulgou na página deles. A equipe tem uma sintonia
incrível e, o que é combinado e programado, é cumprido. (Exceto por meteoros
inesperados à lá o início da história de Golarion.) [risos]
Ainda dentro
desse tema do trabalho. Houve diferença de estrutura do trabalho da equipe de
tradução entre Starfinder e Pathfinder 2E? Lembro que perguntei para ti na live
da Casa Velha sobre particularidades das duas traduções e perguntei também para
o Calvin, mas pelo visto foi algo ainda mais profundo.
BM: Foi um pouco
diferente. Por conta do prazo curto, o Nino (nosso revisor) teve que começar a
trabalhar sobre o texto em sua primeira versão de tradução, sem correções ou
releituras dos próprios tradutores. No Starfinder, como havia mais tempo, o
Thiago recebeu o texto numa qualidade muito superior. Felizmente, nessa data,
eu e o Calvin já estamos conseguindo rever nossos textos e melhorar a qualidade
deles nos capítulos da metade do livro pra frente. Fora isso, não teve muita
diferença, só mesmo na necessidade de aumentarmos a agilidade. Mas reforço,
Nino está sendo um herói tanto quanto (talvez mais) eu e Calvin para cumprirmos
prazo. Mas como todos somos muito fãs do jogo, todo esse esforço vale a pena.
“Sim,
é nossa vontade maior trazer tudo.
Já
temos 7 outros livros
do
Starfinder traduzidos.”
Uma
curiosidade que acho que todo fã de Pathfinder e Starfinder têm, visto a
quantidade de lançamentos da Paizo e sua regularidade. Pelo visto a New Order
pretende assumir o mesmo ritmo de lançamentos que a Pazio. O mercado consumidor
brasileiro está preparado para consumir esse ritmo e regularidade? Além disso,
uma editora brasileira está preparada para isso pensando em termos de equipe e
de estrutura?
BM: Sim, é nossa
vontade maior trazer tudo. Já temos 7 outros livros do Starfinder traduzidos. E
as metas do financiamento do Pathfinder já mostram essa intenção também.
Acreditamos que o mercado esteja um pouco acima do limite mínimo para
viabilizar isso, então a resposta seria sim. Mas quem vai dizer isso mesmo são
os fãs apoiando os financiamentos coletivos. São eles que vão nos dizer o que
devemos trazer, na real. A New Order está se estruturando cada vez mais, então
temos condições sim. E te garanto que a equipe das linhas da Paizo é competente
e totalmente capaz de dar conta do recado!
Falando então
sobre o financiamento de Pathfinder. Tivemos um avassalador começo do
financiamento coletivo de Pathfinder, sendo financiado em 24 horas e batendo
todas as metas extras previstas em poucos dias. Antes disso o financiamento de
Starfinder havia sido mais lento, embora constante, sendo financiado nos
últimos dias. Havia algum temor quanto ao sucesso do financiamento de
Pathfinder ou vocês conseguiam racionalmente relativizar a diferença dos dois
produtos e tinham certa tranquilidade?
BM: Sabíamos que
os dois bateriam as metas, mas cada um em seu tempo. O Starfinder foi como
prevíamos. O Pathfinder, por outro lado, foi uma boa surpresa; esperávamos que
fosse mais rápido, mas não tanto, confesso. Só nos dá alegria ver o quão
apaixonada e dedicada é essa comunidade, e queremos muito recompensar isso!
E podemos
dizer que a responsabilidade aumenta, não é? É muita pressão, agora que tudo
está com a expectativa nas alturas e previsão de todas as metas extras
(inclusive as novas) batidas?
BM: Essa previsão
é por sua conta, hehe. A gente torce por isso, mas mantemos sempre os pés no
chão. A responsabilidade aumenta sim, mas só dá mais gosto de trabalhar nos
materiais.
Não nego que
sou um fã devoto de Starfinder, Pathfinder e do trabalho de todos vocês. Como
é, para ti, pessoalmente, que já disse ser um grande fã do sistema, estar nessa
empreitada?
BM: Bem resumido:
meu sonho de nerd está sendo realizado. Hahahaha. Mas é muito legal, o trabalho
é divertido (nem sempre, já que às vezes as coisas apertam) e poder dividir
isso com pessoas que possuem sentimentos similares em relação ao jogo é muito
gratificante. Tem vez que a gente esquece de trabalhar porque ficamos batendo
papo sobre isso ou aquilo de Golarion... Hehehe
Trabalho dos
sonhos então, literalmente.... Encaminhando o encerramento... Tem dado tempo
para jogar? Como é essa relação de ter o trabalho dos sonhos nas mãos, a
disposição de um material enorme e incrível e pouco tempo?
BM: Calma, não é
tão dos sonhos assim não. Tem vários problemas de qualquer outro trabalho,
hehe. Mas dá tempo de jogar sim. Pelo menos 3 vezes ao mês. Mas mal posso
esperar mesmo é para jogar o Pathfinder Segunda Edição!!!
“Pathfinder
é caminho!”
Para
encerrar... um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam embarcar
nesse projeto?
BM: Um não, mas
vários motivos:
1)
É a primeira vez na história do Brasil (e arrisco a dizer do mundo também) que
um RPG de tamanho porte (640 páginas!) será publicado traduzido e localizado
simultaneamente à sua versão original em inglês. O esforço para isso acontecer
está sendo monstruoso e acho que ninguém deveria perder a oportunidade de
participar desse momento histórico (que eu duvido que vá acontecer novamente
tão cedo) e de poder, desde o nascimento do sistema, jogar em português, sem
precisar se atrapalhar com o inglês ou de ter que ficar dependendo de algum
amigo ou ferramenta de tradução. É a experiência completa em sua língua nativa
desde o início!
2)
Além disso tudo, é também a primeira vez que temos a oportunidade de manter
aqui no Brasil um jogo dessa qualidade com lançamentos simultâneos (ou pelo
menos muito próximos) à versão em inglês. Mas, pra isso acontecer, é preciso de
apoio dos fãs. Eu JAMAIS deixaria essa oportunidade passar, e convido todos a
refletirem sobre isso, hehe. Um jogo desses, com tanto suporte, e poder ser um
responsável direto? Pulo de cabeça sem dúvidas!
3)
O playtest da segunda edição do Pathfinder já é considerado por muitos
(especialmente por mim hahaha) o melhor RPG de fantasia medieval já feito.
Imagina só a versão final, depois de ouvirem mais de 125 mil jogadores que
jogaram a versão de teste?!?
4)
Menos importante, mas que acho válido reforçar, é que a equipe toda é composta
por quem é muito fã do jogo. Isso aumenta muito o carinho com que o material é
tratado e certamente entrega um jogo melhor para o fã.
5)
Pathfinder é caminho! (Com o perdão do trocadilho!)
Vou começar
com o feijão com arroz. Apresente-se, irmão!
Calvião
Semião:
Meu nome é Calvin Semião Domingues, sou bacharel em direito (não que importe) e
sou um dos tradutores de Starfinder, Knave, Symbaorum e agora, Pathfinder2e.
Sei que não
vives de tradução de RPGs apenas. Como é conciliar tua outra profissão com o
trabalho de tradução em RPG? Quais os desafios?
CS: Acho que o
desafio principal e encontrar tempo pra conciliar um emprego regular, a
tradução e manter um casamento estável... A tradução é encaixada em todo o
tempo livre. Vale aquela máxima do trabalhar com o que gosta nesse caso.
Esse 'encaixe'
com relação à Pathfinder tem sido mais fácil ou mais difícil em comparação com
outros projetos?
CS: Mais difícil.
Muito mais difícil. Creio que pelo tamanho avassalador do projeto e seu prazo
exíguo. Mas também é Pathfinder. Então os sacrifícios valem a pena.
“(...)
sonho meu, vi tudo antes
e
isso é muito maneiro!”
Justamente
tocando no fato de "ser Pathfinder', como é estar dentro de um projeto tão
incrível quanto esse? Como foi quando te convidaram para o projeto e qual teu
papel nessa estrutura toda?
CS: Dado o sigilo
envolvido é menos divertido do que eu imaginava, porque eu vejo as coisas
legais e só podia comentar com o Bruno. Mas isso é contra balanceado porque,
sonho meu, vi tudo antes e isso é muito maneiro! Quanto ao convite, assim que a
tradução do Starfinder teve uma excelente recepção do público, a New Order
perguntou se teríamos interesse. Agarramos a oportunidade com um afinco que
apenas o fanatismo pode fornecer. Bruno e eu ficamos como tradutores e ele
ainda coordena a equipe toda.
Quais as
diferenças entre este projeto, ligado aos materiais da Paizo, e outros que já
trabalhaste com a New Order?
CS: Principalmente
o prazo e o sigilo. No Starfinder, como o produto já estava lançado, podíamos
abrir o texto e pedir opiniões. As pessoas já tinham as imagens e o texto
original. Agora temos um número bem limitado de imagens e não podemos discutir
o texto e as mudanças com os outros. Torna tudo mais complicado. Até 1o de
agosto.
E em
comparação à outros trabalhos (não da Paizo), mas na New Order?
CS: Com a New
Order, só trabalhei com materiais da Paizo. No máximo ajudei no "cotejo
dos fãs" em outras linhas antes de engrenar nas traduções.
Sobre
Starfinder, uma questão que também fiz para o Bruno. Quais foram as
particularidades e dificuldades em traduzir algo como Starfinder, onde
claramente temos uma nomenclatura muito diferente para termos de RPG, fugindo
do usual de fantasia? E mais, essa tradução de Starfinder ajudou de alguma
forma no processo de tradução de Pathfinder segunda edição?
CS: Starfinder
realmente possui muitos termos diferentes. Precisamos mergulhar em Star Wars, Star
Trek e outros livros e materiais de ficção científica para ajudar a "nos
aclimatar". Quanto à ajuda, como já havíamos montado um banco de dados,
uma parte dos termos já havia sido discutido e decidido. O que poupou bastante
tempo, sem dúvidas.
Dá para dizer
que isso foi um dos fatores que propiciaram que a tradução de Pathfidner
segunda edição tenha sido tão rápida?
CS: Provavelmente.
Mas o mérito principal dessa velocidade vai para o Bruno. Acho que ele traduziu
2/3 do livro. Talvez até mais.
Uma perguntar
um tanto pessoal então... Como é trabalhar com o Bruno? Ele teve que usar muito
o chicote em vocês (risos)?
CS: Ele se cobra
muito mais do que cobra os outros. Nunca pede algo que ele mesmo não fosse
fazer e respeita o tempo de cada um. Nem sempre temos o tempo livre necessário
para avançar da forma que desejamos. Ele incentiva muito. Sempre que eu perco a
paciência e tenho vontade de chutar tudo ele me convence que é só o meu mal
humor comum e me passa outra coisa pra fazer... [risos]
“Mas
ainda assim, acreditamos que,
com
o apoio da comunidade,
vamos
conseguir alcançar a Paizo
até
o meio do ano que vem (...)”
Como está
sendo a preparação para levar tudo o que Pathfinder exigirá de vocês visto a
enorme produção da Paizo?
CS: Não vou
enfeitar o pavão. É difícil. É muita coisa. Agora tanto eu quanto o Bruno
estamos revisando textos pra facilitar a vida do Nino. Ninguém merece revisar
texto em 1a versão. É horrível. Mas ainda assim, acreditamos que, com o apoio
da comunidade, vamos conseguir alcançar a Paizo até o meio do ano que vem e, se
houver suporte, manter uma quase paridade com as linhas principais.
São ótimas
notícias... como fã eu não poderia estar mais feliz!!! Outra curiosidade que
acho que todo fã de Pathfinder e Starfinder têm, visto a quantidade de
lançamentos da Paizo e sua regularidade, e que também questionei o Bruno. Na
tua perspectiva pessoal como participante de um projeto tão ousado e como
jogador de RPG, a New Order pretende assumir o mesmo ritmo de lançamentos que a
Pazio e o mercado consumidor brasileiro está preparado para esse ritmo e
regularidade? Além disso, uma editora brasileira está preparada para isso? Como
a equipe de tradução da New Order ligada à esse material da Paizo está se
preparando para isso?
CS: Exatamente a
dúvida. Não sabemos. Queremos tentar. A New Order tem uma equipe boa e
disposta. Ainda estamos estudando como vamos fazer. O ponto principal é o apoio
da comunidade mesmo. Não adianta trazer todas as APs em pdf se não houver em
vendas justifiquem o gasto da editora, por exemplo.
Mais do que
interesse da editora, neste momento o diferencial é a comunidade abraçar o
projeto?
CS: A editora é
uma empresa. Se for rentável, vão trazer. O interesse existe, pois são fãs como
nós. O interesse inicial foi grande. Fiquei até surpreso com a velocidade em
que bateu a meta. Mas no Brasil sempre foi difícil trazer suplementos. Poucos
jogos conseguem vender suplementos de forma que valha a pena um influxo
constante de material. Por isso a importância da comunidade.
Uma pergunta
pessoal e que já falamos entre nós antes... Como é estar dentro de todo esse
projeto grandioso, em contato com todo esse material incrível, e não ter muito
tempo para jogar (risos)?
CS: É bem
complicado. Me perguntam constantemente se eu vou abrir mesa da 2e. E eu mal
tenho tempo pra jogar o que eu já jogo... É quase desesperador... (risos)
“Rpg
é sobre contar histórias e estamos
tentando
contar uma aqui.
A
história do primeiro RPG
lançado
simultaneamente aqui.”
Para
encerrarmos, um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam embarcar
nesse projeto?
CS: Rpg é sobre
contar histórias e estamos tentando contar uma aqui. A história do primeiro rpg
lançado simultaneamente aqui. Uma história onde, pela primeira vez, nos podemos
começar a jogar junto da sede, em vez de olhar invejosamente lançamentos em
outros países. Pathfinder foi o único jogo a ser o mais jogado por anos, além
do D&D. E agora ele volta, melhorado e depois de um playtest onde cada
sugestão e reclamação foi levada em conta. É um novo jogo, familiar e
diferente. É Pathfinder.
Vamos
pelo início, apresentem-se amigo!
Rafale
Tschope: Rafael Tschope, formado em Cinema,
jogo RPG desde os 14 anos. Já trabalhei em várias agências e produtoras de
filme com pós-produção, o que me deu conhecimento de diversos softwares
gráficos. Entre um job e outro, sempre arranjo tempo parar dedicar a
diagramação, RPG principalmente.
Essa
introdução já quase responde a pergunta que ia fazer... se consegue viver de
RPG no Brasil?
RT:
Acho que ainda não. Creio que com um crescimento
do mercado isso possa vir a acontecer. A realidade é que, com tiragens baixas,
os valores são mantidos os mais baixos possíveis para realizar produções a
custos acessíveis. Isso inclui o pagamento das pessoas que trabalham. Na equipe
Paizo, por exemplo, todas as pessoas possuem um emprego primário. Eu mesmo,
cobro coisa de 1/6 do que cobraria normalmente.
Isso
significa conciliar profissão/trabalho com trabalho extra em RPG. Como tu
concilias isso?
RT:
Tenho sorte de ter um trabalho onde possuo um
certo tempo ocioso, então em momentos de corre consigo fazer. Mas normalmente
uso de meu tempo livre, noites, fim de semana...
Como
tu ingressaste nessa barca da Starfinder e Pathfinder? Já trabalhava com a
editora New Order ou foi convidado depois desses projetos terem sido acertados
entre eles e a Paizo?
RT:
Conhecia o Bruno dos fóruns da vida, fui convidado
por ele para fazer revisão gráfica do Starfinder. Após uma quantidade absurda
de feedback, ele convenceu o Anesio a me chamar para rediagramar o livro, o
resto é história.
Tu
já tinhas diagramado livros de RPG antes ou foi tua primeira experiência?
RT:
Sim, mas nada profissionalmente. Geralmente fazia
em trabalhos para uso pessoal em minhas mesas. Primeira coisa que diagramei na
vida foi uma ficha de Gurps, pois não existia PDF dela, rs.... mas existem
alguns catálogos por aí com minha assinatura, hahaha
Então
pegar algo tão 'grande' e rebuscado quanto Starfinder e com a fama de
perfeccionismo da Paizo deve ter sido um impacto num primeiro momento?
RT:
Correndo o risco de soar arrogante, não. Já fiz
outros trabalhos grandes e, o fato de já existir uma identidade visual pronta,
fez com que o nível de dificuldade diminuísse bastante. Teria me intimidado se
eu tivesse que criar uma identidade visual forte como a deles. Acredito que
deve se entrar em um trabalho sem nenhum medo, pois isso só acaba atrapalhando
o processo.
“Se
eu não tivesse tido a experiência do Starfinder,
não
teria como ter feito isso.”
Em
que medida trabalhar na diagramação de Starfinder antes deste projeto do
Pathfinder 2E facilitou o trabalho agora? Ou não fez muita diferença?
RT:
Muita diferença. Os arquivos da Paizo tem algumas
técnicas de trabalho em equipe que não funcionam para o nosso workflow. O fato
de eu ter tentado me adequar a essa forma de trabalho me atrasou um pouco no
processo. Quando os arquivos do Pathfinder chegaram, a primeira coisa que fiz
foi o processo oposto, adequar os arquivos ao nosso workflow. Isso possibilita
que o processo de diagramação seja muito mais eficiente e rápido na nossa
realidade. Se eu não tivesse tido a experiência do Starfinder, não teria como
ter feito isso.
Isso
já me leva para a próxima pergunta que tem ligação direta com essa questão do
ritmo de trabalho. A Paizo tem um produção absurda se comparado com o mercado
brasileiro. Todo o processo deles é contínuo, com uma equipe enorme e sem muito
espaço entre lançamentos, seja de Adventure Paths, seja de suplementos. Tu
diria que temos, com nossa estrutura, como manter esse mesmo ritmo, pensando em
trabalho e desconsiderando por enquanto nessa equação o consumo em si.
RT:
Acredito que um ou dois tradutores no processo
poderia ser necessário. O Anesio, inclusive, já anunciou o Thiago Rosa na
equipe. Como a nossa parte é só tradução, não precisamos de uma série de
profissionais no processo, como desenhistas, designers, game designers,
playtesters, escritores, etc. Isso diminui bastante a equipe necessária. Temos
a sorte do Bruno e do Calvin serem tradutores muito rápidos e eficientes, o que
supre bastante das necessidades. Com todas essas considerações, sim, creio que
por enquanto é possível com a equipe atual.
Até
agora só ótimas notícias! Bom, o Calvin e o Bruno confessaram que têm uma
relação de amor pelo sistema Pathfinder, o que torna o trabalho nesse projeto
ainda mais incrível para eles. Como é tua relação com o sistema e com a
oportunidade em si?
RT:
Acredito que a resposta deles é a mesma, hahah...
adoro os sistemas, sou fanboy e a oportunidade foi de uma fortuidade imensa!
Estou sempre mestrando em eventos e acompanha de perto a Paizo desde o começo
da jornada.
O
trabalho dos sonhos para os três... O que poderia ser melhor [risos] Sendo
assim, o que significa então estar dentro desse projeto que é um verdadeiro
divisor de águas para o RPG do Brasil?
RT:
Muita responsabilidade, rsrsr... de vez em quando
me pego pressionando a equipe para me entregar logo as revisões, hahaha... fico
feliz em poder ser uma pequena parte desse passo importante e faço o possível e
o impossível para que Isso aconteça. E só de lembrar da importância, faz com
que o trabalho seja muito prazeroso.
“Então,
fazer acontecer, mais do que nunca,
está
exclusivamente na mão do fã.”
É
certo dizer que quando todos curtem tanto o que estão fazendo, e principalmente
se cobrando pelo melhor, o resulta só poderá ser incrível. Starfinder já provou
isso e tenho certeza de que Pathfidner 2E também transparecerá isso. Para
encerrar esse bate papo, um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam
embarcar nesse projeto?
RT:
Os fãs devem apoiar para que tudo o que sempre foi
pedido tenha continuidade. Temos livro básico e bestiário, mas cabe unicamente
ao apoio de fãs poderem ter o restante de tudo o que for lançado. Essa
oportunidade deve ser abraçada para podermos dar o que todo rpgista brasileiro
pedia desde os primórdios, lançamentos constantes em datas similares aos
originais. Então, fazer acontecer, mais do que nunca, está exclusivamente na
mão do fã. Não acho que isso já tenha acontecido antes.
Um comentário:
Puts, linda entrevista. Parabéns. Parabéns a equipe da NO. Desejo muitos 20 pra vcs.
Postar um comentário