terça-feira, 9 de julho de 2019

Pathfinder 2E no Brasil: entrevistas sobre o andamento do projeto e seu futuro


Pathfinder 2E no Brasil:
Entrevistas sobre o andamento
do projeto e seu futuro

Quando nos deparamos com um RPG traduzido na prateleira de algum loja especializada ou em algum site de vendas, pode nos escapar todo o trabalho que foi necessário para sua produção. O logo da editora na capa é muito mais do que uma simples marca registrada. Ele significa o trabalho árduo de uma numerosa equipe que vai desde sua administração, com a assinatura dos contratos lá no início, até a equipe de markting, que trabalha sobre o produto já terminado. No meio de tudo isso temos muito trabalho e dedicação.

Uma editora como a New Order, exemplo de empresa dedicada ao RPG nacional, muito de seu sucesso nos lançamentos de obras principalmente trazidas de fora para o Brasil se dá pelo esforço e dedicação de sua equipe. Tradutores, revisores, editores, diagramadores, um sem número de tarefas e profissionais. Todos dedicando tempo e paixão ao trabalho que resulta naquele livro de RPG na prateleira da loja especializada ou no site de vendas.

Quando a New Order anunciou que havia firmado contrato com a Paizo para lançamento das linhas Starfinder e Pathfinder 2E em português, muitos eram céticos quanto ao resultado final. O ceticismo não existia por dúvidas quanto ao trabalho da New Order, mas pelos exemplos recentes com a mesma linha em outra editora que não agradaram ao público. Quando Starfinder em português começou a chegar às mãos dos financiadores (ainda em pdf) o ceticismo foi substituído pela grata certeza de que as linhas da Paizo estavam nas mãos certas. Essa certeza tem aumentado com a liberação de mais e mais material de Starfinder após seu belíssimo financiamento coletivo.


Com esses antecedentes e com o anúncio inédito de lançar Pathfinder 2E em português no Brasil simultaneamente com seu lançamento nos EUA em 1º de agosto, que a expectativa quanto ao lançamento deste RPG se traduziu em um financiamento que precisou apenas de 24 horas para bater sua primeira meta (link para financiamento coletivo de Pathfinder 2E no Brasil). E não só isso. Precisou de apenas alguns dias para bater todas as metas extras, obrigando a editora à apressadamente determinar novas metas que, pelo visto, logo serão batidas também.

Eu particularmente não duvidava do sucesso de ambas as empreitadas e tenho certeza que muito desse sucesso passou pelas mãos talentosas da equipe da editora, equipe essa representadas por algumas de suas peças-chave nessa entrevista – Bruno Mares (tradutor e coordenador das linhas de produtos da Paizo), Calvin Semião (tradutor) e Rafael Tschope (diagramador). Eu conversei com os três rapidamente sobre o projeto, seu trabalho dentro dele e suas expectativas futuras para esse trabalho incrível que ganhou forma com Starfinder e está se fortalecendo com Pathfinder 2E.



Vamos pelo início, apresentem-se amigo!

Bruno Mares: Olá! Sou Bruno Mares, tradutor e coordenador das linhas dos produtos Paizo (Starfinder, Pathfinder 2e e futuramente Pathfinder Adventure Card Game) publicados New Order no Brasil. Também trabalhei em outros títulos de RPG com Symbaroum sendo um dos mais notáveis.


Uma coisa que muito me perguntam: consegue-se viver de RPG ou de tradução de RPG no Brasil?

BM: Eu, não; tradução e RPG não são meu trabalho principal. Faço por amor ao hobby e como uma diversão (que levo muito a sério, diga-se de passagem). Mas tem muita gente que é bem mais competente que eu que com certeza vive disso. Mas acredito que sejam poucos sortudos, pois acredito que ainda temos um mercado limitado em questão de jogos analógicos aqui no Brasil; cenário esse que felizmente está mudando. A frase o "RPG está morto" nunca se revirou tanto na tumba. [risos]


E como conciliar o trabalho 'normal' com esta tarefa de coordenar tradução de RPG?

BM: Ficando sem dormir. Única explicação possível, porque às vezes nem eu sei como dou conta. [risos] Sabe aquela história do "o que você faz de meia-noite às seis?!?". Pois é, RPG. Mas na real, é à noite e um pouco aos finais de semana.


Um projeto tão amplo quanto as linhas da Paizo exigirão um plus sobre esse esforço ou esse já é o plus?

BM: Plus, suor, insônia e às vezes até esquecer de beber água. Quando propus ao Anésio e ao Manjuba para lançarmos o Livro Básico simultaneamente ao inglês já tinha noção disso (e ressalto: feito histórico, já que nenhum outro país no mundo fará isso, e desconheço alguma vez que isso tenha acontecido — pelo menos com qualquer jogo grande e que apresente tanto conteúdo num único livro). Para você ter ideia, a Paizo está lançando mais de 1400 páginas de Pathfinder Segunda Edição em Agosto. Só um esforço sobrenatural para tentar acompanhar isso. Estamos fazendo o máximo possível, dentro das nossas possibilidades, para conseguirmos ter tudo isso publicado até dezembro deste ano.


“Aí foi uma loucura só: de cara, corri pra avisar
todos meus amigos que eu seria um
dos responsáveis por traduzir
nosso jogo favorito (...)”



Sem dúvida impressionante nem chega perto de definir esse feito! Vamos falar um pouco da história desse projeto. Como foi o início do projeto em si? Quando chegaram pela primeira vez para ti com a idéia “cara, vamos trazer o material da Paizo”... qual foi a tua reação, o sentimento? Como tu participaste desse movimento inicial?

BM: Rapaz... Senta que lá vem história, hehe. Quando o Starfinder foi anunciado lá fora, procurei a Paizo pra ver se tinha como trazer ele pro Brasil. Nas conversas com eles, descobri que já estava sendo negociado aqui no Brasil. Acabei cruzando caminho com a New Order, que estava negociando pra trazer ele pra cá. Acabou ficando com a Devir, que já tinha a licença da 1ª edição do Pathfinder. Depois, com o fim do contrato da Devir com a Paizo, a New Order — e a Devir foi parceira nesse contato inicial (obrigado, Devir; por isso e pelos RPGs dos anos 90/2000) acabou voltando a pleitear a licença do Starfinder e do recém-anunciado Pathfinder Segunda Edição.

Numa noite de setembro do ano passado, Anésio me ligou e me pediu para montar pra ontem um cronograma de lançamentos factível de cumprirmos para negociar com a Paizo. Tremi de emoção, mas montei um esquema legal e acabamos fechando as duas licenças. Fizemos o Starfinder, a tradução, revisão e diagramação foram bem recebidos e o Anésio nos convidou pro PF2 (eu já tinha cantado/me oferecido ano passado, mas ainda não tava confirmado, [risos]). Aí foi uma loucura só: de cara, corri pra avisar todos meus amigos que eu seria um dos responsáveis por traduzir nosso jogo favorito, e depois de passada a euforia busquei todas as informações necessárias para poder fazer a proposta indecente do lançamento simultâneo. Deu no que deu, vivemos felizes para sempre.


A montagem da equipe de tradução passou pela tua mão ou as peças foram sendo juntadas pela NO?

BM: No Starfinder, fui convidado e já me integraram à equipe pré-definida (cada um sendo adicionado ao time em sua fase do processo). Agradeço à New Order por me apresentar e dar de presente a amizade de Calvin, Thiago Rosa, Alan Rozante, Alexandre Straube e Tâni Falabello. Só gente fina e competente! Depois, por conta do prazo que tínhamos de cumprir para o lançamento do Starfinder, insisti pessoalmente na adição do Rafael Tschope (que eu já conhecia de outros trabalhos não relacionados a RPG) e ele se encaixou muito bem na equipe para finalizar o Starfinder na última fase dos trabalhos gráficos.

Para o Pathfinder, já ajudei um pouco mais e tive voto nas escolhas da equipe antes do projeto começar. Nino (nosso revisor ultra competente) e Thiago Rosa (que será adicionado à equipe como tradutor de alguns suplementos) foram nomes que participei na escolha prévia. Mas é importante ressaltar que Anésio e Manjuba sempre consultam a equipe inteira para a maioria das decisões, e isso torna tudo muito mais fácil.


Não escondo de ninguém minha paixão pelo Starfinder. Trazê-lo, pelo que tu disseste, foi uma convicção de todos vocês, independente do fato do Pathfinder segunda edição estar programado. Até que ponto ele ter vindo antes ajudou como criação de knowhow para um projeto ainda maior como é o Pathfinder 2E?

BM: Em todos os pontos! Por ser um jogo novo, possuir termos muito mais complexos do que a fantasia medieval e por apresentar uma nova visão e estrutura do que estávamos acostumados a ver em jogos d20, o Starfinder nos fez aprender MUITO sobre localização de jogos e a aprimorar toda nossa capacidade de coordenar projetos. Confesso que, perto do Starfinder, trabalhar no Pathfinder está sendo "fichinha" em questão de tradução. Entretanto, por ser um jogo mais antigo e famoso, derivado de outro jogo ainda mais velho, e por ter uma grande base de fãs, nosso cuidado na escolha dos termos em português está sendo ainda mais criterioso.


Podemos dizer então que o Starfinder ter vindo antes foi um dos diferenciais para que a tradução dessas mais de mil páginas ter avançado tanto em tão pouco tempo. Isso foi algo programado por vocês ou foi uma grata surpresa que acabou aliviando o trabalho?

BM: Certeza que o Starfinder foi um diferencial. Mas não foi surpresa o ritmo de tradução não. Foi programado, conversado e discutido. Entre nós e com a Paizo, que autorizou essa empreitada e até divulgou na página deles. A equipe tem uma sintonia incrível e, o que é combinado e programado, é cumprido. (Exceto por meteoros inesperados à lá o início da história de Golarion.) [risos]


Ainda dentro desse tema do trabalho. Houve diferença de estrutura do trabalho da equipe de tradução entre Starfinder e Pathfinder 2E? Lembro que perguntei para ti na live da Casa Velha sobre particularidades das duas traduções e perguntei também para o Calvin, mas pelo visto foi algo ainda mais profundo.

BM: Foi um pouco diferente. Por conta do prazo curto, o Nino (nosso revisor) teve que começar a trabalhar sobre o texto em sua primeira versão de tradução, sem correções ou releituras dos próprios tradutores. No Starfinder, como havia mais tempo, o Thiago recebeu o texto numa qualidade muito superior. Felizmente, nessa data, eu e o Calvin já estamos conseguindo rever nossos textos e melhorar a qualidade deles nos capítulos da metade do livro pra frente. Fora isso, não teve muita diferença, só mesmo na necessidade de aumentarmos a agilidade. Mas reforço, Nino está sendo um herói tanto quanto (talvez mais) eu e Calvin para cumprirmos prazo. Mas como todos somos muito fãs do jogo, todo esse esforço vale a pena.


“Sim, é nossa vontade maior trazer tudo.
Já temos 7 outros livros
do Starfinder traduzidos.”
  


Uma curiosidade que acho que todo fã de Pathfinder e Starfinder têm, visto a quantidade de lançamentos da Paizo e sua regularidade. Pelo visto a New Order pretende assumir o mesmo ritmo de lançamentos que a Pazio. O mercado consumidor brasileiro está preparado para consumir esse ritmo e regularidade? Além disso, uma editora brasileira está preparada para isso pensando em termos de equipe e de estrutura?

BM: Sim, é nossa vontade maior trazer tudo. Já temos 7 outros livros do Starfinder traduzidos. E as metas do financiamento do Pathfinder já mostram essa intenção também. Acreditamos que o mercado esteja um pouco acima do limite mínimo para viabilizar isso, então a resposta seria sim. Mas quem vai dizer isso mesmo são os fãs apoiando os financiamentos coletivos. São eles que vão nos dizer o que devemos trazer, na real. A New Order está se estruturando cada vez mais, então temos condições sim. E te garanto que a equipe das linhas da Paizo é competente e totalmente capaz de dar conta do recado!


Falando então sobre o financiamento de Pathfinder. Tivemos um avassalador começo do financiamento coletivo de Pathfinder, sendo financiado em 24 horas e batendo todas as metas extras previstas em poucos dias. Antes disso o financiamento de Starfinder havia sido mais lento, embora constante, sendo financiado nos últimos dias. Havia algum temor quanto ao sucesso do financiamento de Pathfinder ou vocês conseguiam racionalmente relativizar a diferença dos dois produtos e tinham certa tranquilidade?

BM: Sabíamos que os dois bateriam as metas, mas cada um em seu tempo. O Starfinder foi como prevíamos. O Pathfinder, por outro lado, foi uma boa surpresa; esperávamos que fosse mais rápido, mas não tanto, confesso. Só nos dá alegria ver o quão apaixonada e dedicada é essa comunidade, e queremos muito recompensar isso!


E podemos dizer que a responsabilidade aumenta, não é? É muita pressão, agora que tudo está com a expectativa nas alturas e previsão de todas as metas extras (inclusive as novas) batidas?

BM: Essa previsão é por sua conta, hehe. A gente torce por isso, mas mantemos sempre os pés no chão. A responsabilidade aumenta sim, mas só dá mais gosto de trabalhar nos materiais.


Não nego que sou um fã devoto de Starfinder, Pathfinder e do trabalho de todos vocês. Como é, para ti, pessoalmente, que já disse ser um grande fã do sistema, estar nessa empreitada?

BM: Bem resumido: meu sonho de nerd está sendo realizado. Hahahaha. Mas é muito legal, o trabalho é divertido (nem sempre, já que às vezes as coisas apertam) e poder dividir isso com pessoas que possuem sentimentos similares em relação ao jogo é muito gratificante. Tem vez que a gente esquece de trabalhar porque ficamos batendo papo sobre isso ou aquilo de Golarion... Hehehe


Trabalho dos sonhos então, literalmente.... Encaminhando o encerramento... Tem dado tempo para jogar? Como é essa relação de ter o trabalho dos sonhos nas mãos, a disposição de um material enorme e incrível e pouco tempo?

BM: Calma, não é tão dos sonhos assim não. Tem vários problemas de qualquer outro trabalho, hehe. Mas dá tempo de jogar sim. Pelo menos 3 vezes ao mês. Mas mal posso esperar mesmo é para jogar o Pathfinder Segunda Edição!!!


“Pathfinder é caminho!”
  


Para encerrar... um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam embarcar nesse projeto?

BM: Um não, mas vários motivos:

1) É a primeira vez na história do Brasil (e arrisco a dizer do mundo também) que um RPG de tamanho porte (640 páginas!) será publicado traduzido e localizado simultaneamente à sua versão original em inglês. O esforço para isso acontecer está sendo monstruoso e acho que ninguém deveria perder a oportunidade de participar desse momento histórico (que eu duvido que vá acontecer novamente tão cedo) e de poder, desde o nascimento do sistema, jogar em português, sem precisar se atrapalhar com o inglês ou de ter que ficar dependendo de algum amigo ou ferramenta de tradução. É a experiência completa em sua língua nativa desde o início!

2) Além disso tudo, é também a primeira vez que temos a oportunidade de manter aqui no Brasil um jogo dessa qualidade com lançamentos simultâneos (ou pelo menos muito próximos) à versão em inglês. Mas, pra isso acontecer, é preciso de apoio dos fãs. Eu JAMAIS deixaria essa oportunidade passar, e convido todos a refletirem sobre isso, hehe. Um jogo desses, com tanto suporte, e poder ser um responsável direto? Pulo de cabeça sem dúvidas!

3) O playtest da segunda edição do Pathfinder já é considerado por muitos (especialmente por mim hahaha) o melhor RPG de fantasia medieval já feito. Imagina só a versão final, depois de ouvirem mais de 125 mil jogadores que jogaram a versão de teste?!?

4) Menos importante, mas que acho válido reforçar, é que a equipe toda é composta por quem é muito fã do jogo. Isso aumenta muito o carinho com que o material é tratado e certamente entrega um jogo melhor para o fã.

5) Pathfinder é caminho! (Com o perdão do trocadilho!)




Vou começar com o feijão com arroz. Apresente-se, irmão!

Calvião Semião: Meu nome é Calvin Semião Domingues, sou bacharel em direito (não que importe) e sou um dos tradutores de Starfinder, Knave, Symbaorum e agora, Pathfinder2e.


Sei que não vives de tradução de RPGs apenas. Como é conciliar tua outra profissão com o trabalho de tradução em RPG? Quais os desafios?

CS: Acho que o desafio principal e encontrar tempo pra conciliar um emprego regular, a tradução e manter um casamento estável... A tradução é encaixada em todo o tempo livre. Vale aquela máxima do trabalhar com o que gosta nesse caso.


Esse 'encaixe' com relação à Pathfinder tem sido mais fácil ou mais difícil em comparação com outros projetos?

CS: Mais difícil. Muito mais difícil. Creio que pelo tamanho avassalador do projeto e seu prazo exíguo. Mas também é Pathfinder. Então os sacrifícios valem a pena.


“(...) sonho meu, vi tudo antes
e isso é muito maneiro!”
  


Justamente tocando no fato de "ser Pathfinder', como é estar dentro de um projeto tão incrível quanto esse? Como foi quando te convidaram para o projeto e qual teu papel nessa estrutura toda?

CS: Dado o sigilo envolvido é menos divertido do que eu imaginava, porque eu vejo as coisas legais e só podia comentar com o Bruno. Mas isso é contra balanceado porque, sonho meu, vi tudo antes e isso é muito maneiro! Quanto ao convite, assim que a tradução do Starfinder teve uma excelente recepção do público, a New Order perguntou se teríamos interesse. Agarramos a oportunidade com um afinco que apenas o fanatismo pode fornecer. Bruno e eu ficamos como tradutores e ele ainda coordena a equipe toda.


Quais as diferenças entre este projeto, ligado aos materiais da Paizo, e outros que já trabalhaste com a New Order?

CS: Principalmente o prazo e o sigilo. No Starfinder, como o produto já estava lançado, podíamos abrir o texto e pedir opiniões. As pessoas já tinham as imagens e o texto original. Agora temos um número bem limitado de imagens e não podemos discutir o texto e as mudanças com os outros. Torna tudo mais complicado. Até 1o de agosto.


E em comparação à outros trabalhos (não da Paizo), mas na New Order?

CS: Com a New Order, só trabalhei com materiais da Paizo. No máximo ajudei no "cotejo dos fãs" em outras linhas antes de engrenar nas traduções.


Sobre Starfinder, uma questão que também fiz para o Bruno. Quais foram as particularidades e dificuldades em traduzir algo como Starfinder, onde claramente temos uma nomenclatura muito diferente para termos de RPG, fugindo do usual de fantasia? E mais, essa tradução de Starfinder ajudou de alguma forma no processo de tradução de Pathfinder segunda edição?

CS: Starfinder realmente possui muitos termos diferentes. Precisamos mergulhar em Star Wars, Star Trek e outros livros e materiais de ficção científica para ajudar a "nos aclimatar". Quanto à ajuda, como já havíamos montado um banco de dados, uma parte dos termos já havia sido discutido e decidido. O que poupou bastante tempo, sem dúvidas.


Dá para dizer que isso foi um dos fatores que propiciaram que a tradução de Pathfidner segunda edição tenha sido tão rápida?

CS: Provavelmente. Mas o mérito principal dessa velocidade vai para o Bruno. Acho que ele traduziu 2/3 do livro. Talvez até mais.


Uma perguntar um tanto pessoal então... Como é trabalhar com o Bruno? Ele teve que usar muito o chicote em vocês (risos)?

CS: Ele se cobra muito mais do que cobra os outros. Nunca pede algo que ele mesmo não fosse fazer e respeita o tempo de cada um. Nem sempre temos o tempo livre necessário para avançar da forma que desejamos. Ele incentiva muito. Sempre que eu perco a paciência e tenho vontade de chutar tudo ele me convence que é só o meu mal humor comum e me passa outra coisa pra fazer... [risos]


“Mas ainda assim, acreditamos que,
com o apoio da comunidade,
vamos conseguir alcançar a Paizo
até o meio do ano que vem (...)”
  


Como está sendo a preparação para levar tudo o que Pathfinder exigirá de vocês visto a enorme produção da Paizo?

CS: Não vou enfeitar o pavão. É difícil. É muita coisa. Agora tanto eu quanto o Bruno estamos revisando textos pra facilitar a vida do Nino. Ninguém merece revisar texto em 1a versão. É horrível. Mas ainda assim, acreditamos que, com o apoio da comunidade, vamos conseguir alcançar a Paizo até o meio do ano que vem e, se houver suporte, manter uma quase paridade com as linhas principais.


São ótimas notícias... como fã eu não poderia estar mais feliz!!! Outra curiosidade que acho que todo fã de Pathfinder e Starfinder têm, visto a quantidade de lançamentos da Paizo e sua regularidade, e que também questionei o Bruno. Na tua perspectiva pessoal como participante de um projeto tão ousado e como jogador de RPG, a New Order pretende assumir o mesmo ritmo de lançamentos que a Pazio e o mercado consumidor brasileiro está preparado para esse ritmo e regularidade? Além disso, uma editora brasileira está preparada para isso? Como a equipe de tradução da New Order ligada à esse material da Paizo está se preparando para isso?

CS: Exatamente a dúvida. Não sabemos. Queremos tentar. A New Order tem uma equipe boa e disposta. Ainda estamos estudando como vamos fazer. O ponto principal é o apoio da comunidade mesmo. Não adianta trazer todas as APs em pdf se não houver em vendas justifiquem o gasto da editora, por exemplo.


Mais do que interesse da editora, neste momento o diferencial é a comunidade abraçar o projeto?

CS: A editora é uma empresa. Se for rentável, vão trazer. O interesse existe, pois são fãs como nós. O interesse inicial foi grande. Fiquei até surpreso com a velocidade em que bateu a meta. Mas no Brasil sempre foi difícil trazer suplementos. Poucos jogos conseguem vender suplementos de forma que valha a pena um influxo constante de material. Por isso a importância da comunidade.


Uma pergunta pessoal e que já falamos entre nós antes... Como é estar dentro de todo esse projeto grandioso, em contato com todo esse material incrível, e não ter muito tempo para jogar (risos)?

CS: É bem complicado. Me perguntam constantemente se eu vou abrir mesa da 2e. E eu mal tenho tempo pra jogar o que eu já jogo... É quase desesperador... (risos)

“Rpg é sobre contar histórias e estamos
tentando contar uma aqui.
A história do primeiro RPG
lançado simultaneamente aqui.”



Para encerrarmos, um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam embarcar nesse projeto?

CS: Rpg é sobre contar histórias e estamos tentando contar uma aqui. A história do primeiro rpg lançado simultaneamente aqui. Uma história onde, pela primeira vez, nos podemos começar a jogar junto da sede, em vez de olhar invejosamente lançamentos em outros países. Pathfinder foi o único jogo a ser o mais jogado por anos, além do D&D. E agora ele volta, melhorado e depois de um playtest onde cada sugestão e reclamação foi levada em conta. É um novo jogo, familiar e diferente. É Pathfinder.



 
Vamos pelo início, apresentem-se amigo!

Rafale Tschope: Rafael Tschope, formado em Cinema, jogo RPG desde os 14 anos. Já trabalhei em várias agências e produtoras de filme com pós-produção, o que me deu conhecimento de diversos softwares gráficos. Entre um job e outro, sempre arranjo tempo parar dedicar a diagramação, RPG principalmente.


Essa introdução já quase responde a pergunta que ia fazer... se consegue viver de RPG no Brasil?

RT: Acho que ainda não. Creio que com um crescimento do mercado isso possa vir a acontecer. A realidade é que, com tiragens baixas, os valores são mantidos os mais baixos possíveis para realizar produções a custos acessíveis. Isso inclui o pagamento das pessoas que trabalham. Na equipe Paizo, por exemplo, todas as pessoas possuem um emprego primário. Eu mesmo, cobro coisa de 1/6 do que cobraria normalmente.


Isso significa conciliar profissão/trabalho com trabalho extra em RPG. Como tu concilias isso?

RT: Tenho sorte de ter um trabalho onde possuo um certo tempo ocioso, então em momentos de corre consigo fazer. Mas normalmente uso de meu tempo livre, noites, fim de semana...


Como tu ingressaste nessa barca da Starfinder e Pathfinder? Já trabalhava com a editora New Order ou foi convidado depois desses projetos terem sido acertados entre eles e a Paizo?

RT: Conhecia o Bruno dos fóruns da vida, fui convidado por ele para fazer revisão gráfica do Starfinder. Após uma quantidade absurda de feedback, ele convenceu o Anesio a me chamar para rediagramar o livro, o resto é história.


Tu já tinhas diagramado livros de RPG antes ou foi tua primeira experiência?

RT: Sim, mas nada profissionalmente. Geralmente fazia em trabalhos para uso pessoal em minhas mesas. Primeira coisa que diagramei na vida foi uma ficha de Gurps, pois não existia PDF dela, rs.... mas existem alguns catálogos por aí com minha assinatura, hahaha


Então pegar algo tão 'grande' e rebuscado quanto Starfinder e com a fama de perfeccionismo da Paizo deve ter sido um impacto num primeiro momento?

RT: Correndo o risco de soar arrogante, não. Já fiz outros trabalhos grandes e, o fato de já existir uma identidade visual pronta, fez com que o nível de dificuldade diminuísse bastante. Teria me intimidado se eu tivesse que criar uma identidade visual forte como a deles. Acredito que deve se entrar em um trabalho sem nenhum medo, pois isso só acaba atrapalhando o processo.


“Se eu não tivesse tido a experiência do Starfinder,
não teria como ter feito isso.”



Em que medida trabalhar na diagramação de Starfinder antes deste projeto do Pathfinder 2E facilitou o trabalho agora? Ou não fez muita diferença?

RT: Muita diferença. Os arquivos da Paizo tem algumas técnicas de trabalho em equipe que não funcionam para o nosso workflow. O fato de eu ter tentado me adequar a essa forma de trabalho me atrasou um pouco no processo. Quando os arquivos do Pathfinder chegaram, a primeira coisa que fiz foi o processo oposto, adequar os arquivos ao nosso workflow. Isso possibilita que o processo de diagramação seja muito mais eficiente e rápido na nossa realidade. Se eu não tivesse tido a experiência do Starfinder, não teria como ter feito isso.


Isso já me leva para a próxima pergunta que tem ligação direta com essa questão do ritmo de trabalho. A Paizo tem um produção absurda se comparado com o mercado brasileiro. Todo o processo deles é contínuo, com uma equipe enorme e sem muito espaço entre lançamentos, seja de Adventure Paths, seja de suplementos. Tu diria que temos, com nossa estrutura, como manter esse mesmo ritmo, pensando em trabalho e desconsiderando por enquanto nessa equação o consumo em si.

RT: Acredito que um ou dois tradutores no processo poderia ser necessário. O Anesio, inclusive, já anunciou o Thiago Rosa na equipe. Como a nossa parte é só tradução, não precisamos de uma série de profissionais no processo, como desenhistas, designers, game designers, playtesters, escritores, etc. Isso diminui bastante a equipe necessária. Temos a sorte do Bruno e do Calvin serem tradutores muito rápidos e eficientes, o que supre bastante das necessidades. Com todas essas considerações, sim, creio que por enquanto é possível com a equipe atual.


Até agora só ótimas notícias! Bom, o Calvin e o Bruno confessaram que têm uma relação de amor pelo sistema Pathfinder, o que torna o trabalho nesse projeto ainda mais incrível para eles. Como é tua relação com o sistema e com a oportunidade em si?

RT: Acredito que a resposta deles é a mesma, hahah... adoro os sistemas, sou fanboy e a oportunidade foi de uma fortuidade imensa! Estou sempre mestrando em eventos e acompanha de perto a Paizo desde o começo da jornada.


O trabalho dos sonhos para os três... O que poderia ser melhor [risos] Sendo assim, o que significa então estar dentro desse projeto que é um verdadeiro divisor de águas para o RPG do Brasil?

RT: Muita responsabilidade, rsrsr... de vez em quando me pego pressionando a equipe para me entregar logo as revisões, hahaha... fico feliz em poder ser uma pequena parte desse passo importante e faço o possível e o impossível para que Isso aconteça. E só de lembrar da importância, faz com que o trabalho seja muito prazeroso.


“Então, fazer acontecer, mais do que nunca,
está exclusivamente na mão do fã.”



É certo dizer que quando todos curtem tanto o que estão fazendo, e principalmente se cobrando pelo melhor, o resulta só poderá ser incrível. Starfinder já provou isso e tenho certeza de que Pathfidner 2E também transparecerá isso. Para encerrar esse bate papo, um recado para os fãs de Pathfinder - Por que deveriam embarcar nesse projeto?

RT: Os fãs devem apoiar para que tudo o que sempre foi pedido tenha continuidade. Temos livro básico e bestiário, mas cabe unicamente ao apoio de fãs poderem ter o restante de tudo o que for lançado. Essa oportunidade deve ser abraçada para podermos dar o que todo rpgista brasileiro pedia desde os primórdios, lançamentos constantes em datas similares aos originais. Então, fazer acontecer, mais do que nunca, está exclusivamente na mão do fã. Não acho que isso já tenha acontecido antes.


Um comentário:

Leonam disse...

Puts, linda entrevista. Parabéns. Parabéns a equipe da NO. Desejo muitos 20 pra vcs.