Resenha: A Deusa no
Labirinto
Por Calvin Semião
O mais recente livro oficial no
cenário de Tormenta, “A Deusa no Labirinto”, é em formato brochura, 512 folhas.
Ele parece intimidador a princípio, porém a fonte possui um tamanho grande e o
livro acaba não sendo tão extenso quanto aparenta.
A Deusa no Labirinto é uma
leitura rápida e fácil que mostra claramente o desenvolvimento da autora, se
comparado com seu outro livro no cenário, A Jóia da Alma. A autora Karen Soarele
parece mais confortável não apenas com a escrita em si, mas também dentro de
Tormenta. As cenas de lutas estão vibrantes e detalhadas, transportando o
leitor para dentro do livro, como se estivesse em uma mesa de RPG. Karen mostra
uma atenção especial à conjuração clerical, mostrando não apenas um talento
para o romance e o enredo, mas também para a poesia. Nada mais justo, já que a
personagem principal é uma sacerdotisa de Tanna-Toh.
É importante ressaltar que,
embora não sejam histórias conectadas, A Jóia da Alma e A Deusa no Labirinto
partilham personagens e protagonistas. Desta forma, embora a leitura do
primeiro não seja necessária para entender este livro, ajuda a apreciar ainda
mais a obra, pois você vê uma clara evolução entre os dois livros. Os
personagens estão mais poderosos, a escrita está mais bem feita. Karen evoluiu
junto com seus personagens. Ganhou experiência e novas técnicas. Me pergunto se
podemos aguardar para Karen o mesmo final de Gwen.
O desenvolvimento do livro se
passa inteiramente em Tiberus, na capital do Império de Tauron. Karen mostra a
sociedade dos minotauros e tem o cuidado de mostrar tanto os pontos positivos
quanto os negativos dos minotauros. Mostra os taurinos como indivíduos e não
apenas como monstros escravagistas. Mostra como o dogma de Tauron pode ser
usado tanto para o bem quanto para o mau. Mostra o motivo de uma divindade que
prega a submissão do fraco não ser meramente maligna. Ela tem o cuidado de
demonstrar esta dicotomia aparentemente paradoxal e ainda nos brinda com um
olhar sensível quanto ao machismo esperado de uma sociedade que não possui
fêmeas.
A Deusa no Labirinto possui
claramente Gwen como personagem principal, mas os outros personagens d’A Joia
da Alma são extremamente importantes. Porém, não só de personagens antigos se
faz o livro. Temos personagens novos e personagens antigos no cenário, mas
inéditos na obras literárias. Temos personagens que pela primeira vez são
retratados com maior profundidade. Temos mudanças imensas no cenário que,
conforme anunciado, são as últimas grandes mudanças a entrarem nesta nova era
de Tormenta. Com a Flecha de Fogo e A Deusa no Labirinto, Arton é remexido como
nunca antes, me remetendo fortemente às mudanças de edição de D&D, quando
Faerun, por exemplo, passa por mudanças imensas (nem sempre boas) e Mystra
morre.
Neste livro, Karen nos mostra
que mesmo no centro do reino dos minotauros, mesmo no lugar que teoricamente é
o mais seguro do mundo, a aventura pode surgir e existem vilões a se combater.
Karen também mostra que nem todos os minotauros são vilões e que nem só de
Aliança Negra e Puristas vive o cenário.
O único “defeito” que eu
consegui ver no livro mal é perceptível lendo apenas este livro. O arco de uma
personagem importante parece incompleto. Suas ações ao longo da narrativa, são
imensamente importantes e fazem certo sentido dentro da obra isolada (e por
isso as aspas em defeito), porém ao se analisar o material oficial de Tormenta,
principalmente a Trilogia de Caldela, o comportamento desta personagem não
parece condizente. Parece forçado. Sei que dez anos se passaram dentro do
cenário, a personagem pode, de fato, ter evoluído para este caminho, mas ao
contrário dos outros, não é mostrada sua evolução. Não é comentada. O motivo
principal de seu comportamento é meramente sugerido e não claramente mostrado,
nem mesmo como memória.
Claro que isso pode ser um
gancho (qual RPGista não gosta de ganchos) para um livro desta personagem em
específico. Ela merece! (Inclusive, quero… Fica a sugestão. Ela ainda possui
fãs!) Vimos a decadência da personagem. Gostaria de ver sua ascensão ou, pelo
menos, mais sobre ela.
Com todas as qualidades e os
poucos defeitos, esse é um livro que merece ser lido e que acrescenta muito ao
cenário e, embora possua um final previsível, é a própria previsibilidade que o
torna ímpar. Nós sabíamos há anos que isto ia acontecer. Karen nos mostra como.
2 comentários:
O cenário de Tormenta foi por muito tempo deixado no esquecimento, só ficando na Revista Dragão Brasil com pouquíssimo conteúdo. Agora com a nova atualização do cenário temos novos romance. Como a Joia da Alma, a Flecha etc. e agora mais esse que nos mostra o mundo dos minotauros. Leitura obrigatória para os fãs de Tormenta.
A principal dúvida que eu tive do livro é se ele se passa antes, durante ou depois dos acontecimentos da flecha de fogo
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