segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Resenha: A Deusa no Labirinto


Resenha: A Deusa no Labirinto
Por Calvin Semião


O mais recente livro oficial no cenário de Tormenta, “A Deusa no Labirinto”, é em formato brochura, 512 folhas. Ele parece intimidador a princípio, porém a fonte possui um tamanho grande e o livro acaba não sendo tão extenso quanto aparenta.

A Deusa no Labirinto é uma leitura rápida e fácil que mostra claramente o desenvolvimento da autora, se comparado com seu outro livro no cenário, A Jóia da Alma. A autora Karen Soarele parece mais confortável não apenas com a escrita em si, mas também dentro de Tormenta. As cenas de lutas estão vibrantes e detalhadas, transportando o leitor para dentro do livro, como se estivesse em uma mesa de RPG. Karen mostra uma atenção especial à conjuração clerical, mostrando não apenas um talento para o romance e o enredo, mas também para a poesia. Nada mais justo, já que a personagem principal é uma sacerdotisa de Tanna-Toh.

É importante ressaltar que, embora não sejam histórias conectadas, A Jóia da Alma e A Deusa no Labirinto partilham personagens e protagonistas. Desta forma, embora a leitura do primeiro não seja necessária para entender este livro, ajuda a apreciar ainda mais a obra, pois você vê uma clara evolução entre os dois livros. Os personagens estão mais poderosos, a escrita está mais bem feita. Karen evoluiu junto com seus personagens. Ganhou experiência e novas técnicas. Me pergunto se podemos aguardar para Karen o mesmo final de Gwen.

O desenvolvimento do livro se passa inteiramente em Tiberus, na capital do Império de Tauron. Karen mostra a sociedade dos minotauros e tem o cuidado de mostrar tanto os pontos positivos quanto os negativos dos minotauros. Mostra os taurinos como indivíduos e não apenas como monstros escravagistas. Mostra como o dogma de Tauron pode ser usado tanto para o bem quanto para o mau. Mostra o motivo de uma divindade que prega a submissão do fraco não ser meramente maligna. Ela tem o cuidado de demonstrar esta dicotomia aparentemente paradoxal e ainda nos brinda com um olhar sensível quanto ao machismo esperado de uma sociedade que não possui fêmeas.

A Deusa no Labirinto possui claramente Gwen como personagem principal, mas os outros personagens d’A Joia da Alma são extremamente importantes. Porém, não só de personagens antigos se faz o livro. Temos personagens novos e personagens antigos no cenário, mas inéditos na obras literárias. Temos personagens que pela primeira vez são retratados com maior profundidade. Temos mudanças imensas no cenário que, conforme anunciado, são as últimas grandes mudanças a entrarem nesta nova era de Tormenta. Com a Flecha de Fogo e A Deusa no Labirinto, Arton é remexido como nunca antes, me remetendo fortemente às mudanças de edição de D&D, quando Faerun, por exemplo, passa por mudanças imensas (nem sempre boas) e Mystra morre.

Neste livro, Karen nos mostra que mesmo no centro do reino dos minotauros, mesmo no lugar que teoricamente é o mais seguro do mundo, a aventura pode surgir e existem vilões a se combater. Karen também mostra que nem todos os minotauros são vilões e que nem só de Aliança Negra e Puristas vive o cenário.

O único “defeito” que eu consegui ver no livro mal é perceptível lendo apenas este livro. O arco de uma personagem importante parece incompleto. Suas ações ao longo da narrativa, são imensamente importantes e fazem certo sentido dentro da obra isolada (e por isso as aspas em defeito), porém ao se analisar o material oficial de Tormenta, principalmente a Trilogia de Caldela, o comportamento desta personagem não parece condizente. Parece forçado. Sei que dez anos se passaram dentro do cenário, a personagem pode, de fato, ter evoluído para este caminho, mas ao contrário dos outros, não é mostrada sua evolução. Não é comentada. O motivo principal de seu comportamento é meramente sugerido e não claramente mostrado, nem mesmo como memória.

Claro que isso pode ser um gancho (qual RPGista não gosta de ganchos) para um livro desta personagem em específico. Ela merece! (Inclusive, quero… Fica a sugestão. Ela ainda possui fãs!) Vimos a decadência da personagem. Gostaria de ver sua ascensão ou, pelo menos, mais sobre ela.

Com todas as qualidades e os poucos defeitos, esse é um livro que merece ser lido e que acrescenta muito ao cenário e, embora possua um final previsível, é a própria previsibilidade que o torna ímpar. Nós sabíamos há anos que isto ia acontecer. Karen nos mostra como.

Encontre o livro AQUI

2 comentários:

Eduardo Lima disse...

O cenário de Tormenta foi por muito tempo deixado no esquecimento, só ficando na Revista Dragão Brasil com pouquíssimo conteúdo. Agora com a nova atualização do cenário temos novos romance. Como a Joia da Alma, a Flecha etc. e agora mais esse que nos mostra o mundo dos minotauros. Leitura obrigatória para os fãs de Tormenta.

Erickvfarias disse...

A principal dúvida que eu tive do livro é se ele se passa antes, durante ou depois dos acontecimentos da flecha de fogo