quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Resenha: Legend of the Five Rings - 5ª Edição



Resenha: Legend of the Five Rings - 5ª Edição
Por Calvin Semião

A Lenda dos Cinco Anéis. Rokugan. O Império Esmeralda. Aqui no Brasil nós tivemos apenas a 4ª Edição pela New Order, embora alguns (eu mesmo inclusive) lembremos com sentimentos conflituosos sobre a versão para o sistema D20 no Aventuras Orientais, pela Devir.

Enquanto a 4ª Edição mostrava um império com a recente dinastia Iweko, dois clãs maiores extras e uma imensa bagagem advinda de anos de torneios de Card Game, com os fãs acompanhando ansiosamente os acontecimentos que eram anualmente atualizados, a Fantasy Flight trouxe inquietação quando anunciou um novo card game após adquirir os direitos sobre o L5R.

Este card game trazia o mesmo cenário, porém no passado. Ainda com a dinastia Hantei forte, sem o peso de anos e decisões tomadas pelos jogadores, mas prometendo que o mundo continuaria evoluindo com os tradicionais torneios. Esta novidade foi recebida novamente com inquietação e reclamações, mas não houveram surpresas ao se anunciar um novo RPG. Era o próximo passo lógico.


Sobre o RPG
A 5a Edição da Lenda dos Cinco Anéis chegou há algum tempo nos EUA, como o Star Wars: Fronteira do Império e outros RPGs da Fantasy Flight, é baseado no Genesys Roleplaying System e, como tal, usa um sistema próprio de dados (d12 e d6) com marcações que indicam sucesso, sucesso explosivo, oportunidade e conflito. O livro inclui uma “tabela de conversão” permitindo que você use seus d12 e d6 normais, embora isso adicione uma consulta em cada rolagem e desacelere bastante o jogo. A empresa fornece também um aplicativo de celular para você não precisar comprar os dados. É claro que tal aplicativo é pago, de forma que a editora ganhe de qualquer forma. Se você acha que é só usar os seus dados de Fronteiras do Império (único RPG do Sistema Genesys lançado e abandonado no país), ledo engano. Não é possível usá-los por ostentarem faces diferentes em diferentes combinações e, no caso do conflito, sem correspondente. Soa como uma interessante estratégia para obrigar o consumidor a comprar dados para cada novo sistema lançado, o que não seria tão ruim para o brasileiro se dados não fossem taxados ao entrar no país. 


Superado este problema, vamos ao sistema em si. Ele usa o Sistema Genesys e a mecânica de “rolar e manter” similar à 4ª Edição (o roll and keep). Você usa um anel de acordo com o modo como vai realizar algo e uma perícia de acordo com o que está realizando. Os dados possuem as seguintes faces:

Sucesso: Ajuda a conseguir realizar a tarefa em si. É necessário um número de sucessos de acordo com a dificuldade da tarefa, e sucessos extras normalmente fornecem bônus.

Sucesso Explosivo: Conta como um sucesso e fornece outro dado a ser rolado que pode ou não ser mantido.

Oportunidade: Não ajuda a realizar a tarefa em si, mas permite realizar outras coisas, como oportunidades narrativas ou pequenas penalidades para os inimigos.

Conflito: Este símbolo adiciona conflito, estresse ao seu personagem. Quando acumulado, isto causa penalidades ao personagem. Este símbolo nunca aparece sozinho, por motivos óbvios, sempre sendo acompanhado de algum outro.

Sempre que um personagem precisa realizar algo, ele deve selecionar o modo como fará e isto indica o anel usado na rolagem. Cada anel possui características próprias que ajudam a definir como o personagem é e como tende a se comportar.

As vantagens e desvantagens foram planificadas. Todas possuem um efeito em regra extremamente semelhante - escolhem e rerrolam dois dados, à escolha do jogador de for uma vantagem ou que tenham mostrado um símbolo de sucesso se for uma desvantagem.


Ao contrário da 4ª Edição, onde cada escola era completamente diferente uma da outra, na 5ª elas são mais semelhantes entre si, permitindo que se escolha técnicas dentre seis listas e possuindo um “Currículo” próprio, incentivando o jogador a escolher perícias e técnicas específicas, espelhando o treinamento especializado de cada escola, porém, ao contrário das edições anteriores, em que a cada “Rank” ou Graduação na escola o jogador recebia novos poderes característicos, na 5ª isto não ocorre. Ele recebe uma técnica específica no início e no final, apenas. O meio é inteiramente definido pelo jogador, embora seja incentivado pelo Currículo.

Joguei poucas vezes, e o narrador teve a excelente ideia de imprimir uma tabela de correspondência de resultados de dados para cada jogador, o que diminui a perda de velocidade, embora ela ainda ocorra.

O maior ponto positivo no sistema é que ele resolveu o grande problema do L5R, que era sua parte de conflito social. Agora ele funciona exatamente da mesma forma que o conflito físico.

Outro ponto positivo é que nenhuma escola faz apenas uma coisa, o que aumenta a utilidade do personagem em múltiplas frentes. As técnicas dos cortesãos, Shuji, normalmente possuem utilidade não apenas em conflitos sociais, mas em conflitos em massa ou até em conflitos marciais menores, permitindo que os cortesãos funcionem como uma espécie de suporte limitado.

Embora ele possua pontos positivos, a 4ª edição fornece mais individualidade e personalização em regras, com cada escola possuindo técnicas próprias dentro de cada graduação e com as vantagens e desvantagens sendo muito diferentes entre si. A 5ª edição é mais amigável ao jogador, mais fácil de aprender e jogar, embora os dados específicos (que parecem muito caça-níquel) apague uma boa parte desta vantagem até que os jogadores de acostumem o suficiente com o que eles podem fazer com suas oportunidades e como gerenciar seu conflito.

O livro é uma obra de arte e aproveita imensamente as artes do Card Game, ajudando a manter uma mesma estética e facilitando a imersão. O cenário está seguindo a cronologia do card game, que está caminhando para a Guerra dos Clãs. Se a história vai se repetir ou não, depende dos jogadores do card game que, no Brasil, recebe atenção marginal de sua responsável.



E quanto ao Brasil?

Como um jogo da Fantasy Flight, os direitos da 5ª Edição (assim como o Card Game que parece ter sido abandonado) são da Galápagos, a representante da FF no Brasil. Enquanto D&D está avançando, mesmo com seus atrasos e críticas, e a promessa do Vampiro 5ª Edição e do ainda não lançado no exterior Lobisomem 5ª Edição pairam no ar a cada apresentação da Galápagos sobre RPG, não há qualquer notícia sobre o L5A ou uma possível retomada do Star Wars que foi abandonado após um único livro. Como até mesmo o Card Game do L5R carece de notícias e parece, cada vez mais, abandonado, o prospecto para o RPG não é animador.

Se você é um amante do cenário, infelizmente vai ser necessário adquirir o produto em inglês.


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