sábado, 14 de janeiro de 2023

Vamos entender a polêmica do OGL da Wizard e seus desdobramentos

  
Vamos entender a polêmica do
OGL da Wizard e seus desdobramentos

 
Tivemos um início de ano e tanto na esfera do RPG. Tudo graças à nova OGL (Open Game License) que “vazou” dia 5 de janeiro e foi noticiado pelo site Gizmodo. As idas e vindas que ocorreram são equiparáveis à melhores aventuras de RPG de algum mestre extremamente criativo. Mas vamos voltar alguns dias e ver as coisas pausadamente.

Dia 5 de janeiro de 2023, o site Gizmodo relatou pela primeira vez sobre a nova OGL pretendida pela Wizard of the Coast (subsidiária da Hasbro) para seus produtos, em especial D&D. para quem não sabe o que significa OGL, ou Open Game License, é um documento que permite a um vasto grupo de editores independentes como usar as regras básicas e outros elementos do jogo criadas pela Wizards of the Coast – no caso para D&D.

Por este documento é tão importante? O OGL original é o que muitos editores de RPG usam para criar seus produtos dentro dos limites do conteúdo reproduzível de D&D. Muito da OGL original é dedicada á recursos de sistema e inclui espécies de personagens, classes, equipamentos e, o mais importante, estruturas gerais de jogo, incluindo as regras e mecânicas para combate, magias e criaturas. A criação da versão OGL 1.0, que foi publicada originalmente em 2000, permitiu que uma série de designers e editores externos, amadores e profissionais, fizessem novos produtos para D&D. Embora esse arranjo às vezes criasse produtos que competiam diretamente com as publicações da WotC, também permitia que o jogo florescesse e crescesse graças aos recursos criados pela comunidade mais ampla de D&D.

Se pensarmos que D&D tem uma estimativa de treze milhões de jogadores pelo mundo, sendo o RPG mais disseminado e conhecido, sua OGL atingiu e ajudou, desde o ano 2000, uma infindável gama de criações.

No ano passado, quando a WotC anunciou que estava desenvolvendo uma versão atualizada e revisada da quinta edição de D&D – chamada de One D&D – também informou que atualizaria sua OGL. Isso não era uma novidade. Desde o lançamento da OGL em 2000 muitas foram as alterações e atualizações que ela sofreu. Toda a comunidade recebeu a notícia com naturalidade, pois passando por todas as atualizações ela nunca mudou sua essência. Até agora.

A nova versão da OGL da WotC acabou “vazando” e se tornando pública. O antigo documento que possuía não mais do que noventa palavras, possui agora mais de nove mil, ou seja, muito minucioso para listar todas as “novas” regras. A nova OGL, popularizada como OGL 1.1, por um lado se atualiza à elementos contemporâneos como blockchain e NFTs e traça palavras fortes contra conteúdo preconceituoso (ameaçando de rescisão).

Mas, por outro lado, muita radicalmente sua relação com os criadores que passem a se utilizar dela ou que utilizavam a OGL original. O documento afirma que a OGL original não seria mais um contrato de licença autorizado. Ou seja, revogam o que estava acordado antes e agora todos teriam que se adequar à nova versão da OGL.  Ao encerrar o OGL original, muitos editores licenciados terão que reformular completamente seus produtos e distribuição para cumprir as regras atualizadas. Muitas editoras que se concentram quase exclusivamente em produtos baseados no OGL original foram pegos de surpresa. A justificativa da WofC, em seu documento era “a Open Game License sempre foi destinada a permitir que a comunidade ajudasse a crescer D&D e expandi-lo de forma criativa. A intenção não era subsidiar os principais concorrentes, especialmente agora que o PDF é de longe a forma mais comum de distribuição. (...) A OGL não tinha a intenção de financiar grandes concorrentes e não tinha a intenção de permitir que as pessoas fizessem aplicativos de D&D, vídeos ou qualquer coisa que não fosse materiais impressos (ou imprimíveis) para uso durante o jogo. Estamos atualizando o OGL em parte para deixar isso bem claro.”

De uma hora para a outra a WotC simplesmente desejava deixar a OGL original não passível de uso, afetando à todos. De forma sutil o documento dizia que qualquer um pode usar qualquer licença autorizada, mas, o mesmo documento deixa claro que a OGL original não será mais um documento autorizado.

Não só isso. O documento deixa as garantias nebulosas quando diz que “este contrato rege Seu uso do Conteúdo Licenciado e, salvo indicação em contrário neste contrato, quaisquer acordos anteriores entre Nós e Você não estão mais em vigor”.

Então, se a licença original não for mais viável, todos os editores licenciados serão afetados pelo novo contrato, porque todos os criadores comerciais serão solicitados a relatar seus produtos, novos e antigos, à Wizards of the Coast. Além disso, embora a OGL original não delineasse especificamente que tipo de conteúdo os criadores que se valem da OGL poderiam disponibilizar e lucrar, a OGL atualizado é muito específica, restringindo de forma direta o que pode ser produzido: “permite apenas a criação de jogos de RPG e suplementos em mídia impressa e estática. Não permite mais nada, incluindo, entre outros, coisas como vídeos, tabletops virtuais ou campanhas VTT, jogos de computador, romances, aplicativos, graphic novels, música, canções, danças e pantomimas. Você pode se envolver nessas atividades apenas na medida permitida pela Política de Conteúdo para Fãs da Wizards of the Coast ou acordado separadamente entre Você e Nós.”

Atrelado à tudo isso ainda haviam outros elementos importantes. Um deles era a garantia assegurada pela OGL 1.1 à WofC de cancelar qualquer acordo com terceiro ao seu próprio gosto com um limite de trinta dias de antecedência. Outro item bizarro era de que todo o material que se valesse da OGL 1.1 precisaria distinguir clara e deliberadamente a diferença entre o ‘seu criado’ do ‘conteúdo licenciado’. Ou seja, o novo documento diz que isso deveria ser feito “de uma maneira que permita ao leitor de Seu trabalho licenciado entender a distinção sem verificar nenhum outro documento.”

Por fim, uma mudança significativa estava ligada ao pagamento de royalties. A menos que aquele que faça uso da OGL 1.1 esteja ganhando mais de $ 750.000, os licenciados ficam com o dinheiro que ganham. Passando desse limite, uma porcentagem de 25% deve ser paga à WotC/Hasbro, tendo você lucrado ou não.

Essa avalanche de informações assustadoras caiu sobre todos de forma inesperada e a WotC fez questão de não dar tempo à qualquer um que fazia uso da OGL original - “se você deseja publicar conteúdo baseado em SRD a partir de 13 de janeiro de 2023 e comercializá-lo, sua única opção é concordar com o OGL: Comercial.” Imaginando que a previsão do lançamento da nova OGL seria para dia 5 de janeiro, todos teriam cerca de uma semana para se adequar e seus produtos à ela.

A reação foi imediata e avassaladora.

A comunidade de D&D e de todos os que seriam afetados pela nova OGL tomou as redes sociais reclamando do novo documento. Termos como ‘traição’, ‘vergonha’ e ‘injustiça’ foram usando de muitas formas e muitas conotações para descrever a nova OGL da WotC/Hasbro.

Mais de 66.000 fãs assinaram uma carta aberta endereçada à Hasbro, D&D Beyond e WoTC, expressando sua repulsa pelas mudanças propostas. Para eles as mudanças são nada além de uma corrida por mais lucro e uma tentativa de esmagar pequenos criadores que não representam uma ameaça séria para a Hasbro.

Centenas de vídeos surgiram em plataformas como Youtube e Twitch analisando e principalmente reclamando das novas mudanças propostas. Muitos depoimentos foram lançados sobre o assunto. Steve Williams, desenvolvedor independente do Dungeon Master’s Toolkit disse ao site Vice: “Como alguém que faz parte da comunidade de criação de conteúdo e sabe como isso afetaria outros criadores, acho que essas mudanças seriam o fim da minha jornada no lançamento de produtos para o sistema D&D”. Mesma opinião de HeavyArms Press: “Os termos estabelecidos na atualização 1.1 vazada são um fardo sob o qual nenhuma empresa pode operar razoavelmente e, portanto, duvido muito que continuaria a apoiar o D&D se a licença vazada se tornasse a única maneira de fazê-lo”.

A Wizard of the Coast, ao perceber a crescente polêmica e indignação, tentou acalmar os ânimos com um comunicado em suas plataformas sociais, mas não adiantou anda. A onda contrária à nova OGL tomou proporções inimagináveis. A comunidade de D&D acabou não ficando apenas na arrecadação de assinaturas. Eles partiram para o confronto e começaram um campanha bem-sucedida de cancelamentos de assinaturas no D&D Beyond, da WotC/Hasbro, uma verdadeira comunidade de jogadores, fãs e criadores. 

De uma hora para a outra milhares, cerca de setenta por cento da comunidade do D&D Beyond cancelou suas contas na plataforma. A iniciativa foi tão grande e repentina que deixou o site instável por várias vezes nos últimos dias obrigando inclusive que os administradores da plataforma mudassem o procedimento para dificultar o cancelamento. Muitos produtores de conteúdo de RPG chegaram a fazer campanhas premiando com brindes todos aqueles que mostrassem um print de seu cancelamento.

A polêmica tomou proporções que saíram do quadrado do RPG. O caso virou manchete meios de comunicação que nem sempre estão vinculadas ao RPG. Tivemos reportagens em meios como The Guardian, Forbes, Vice (já citada), Financial Times e Law Insider.

Mas como tudo em RPG possui uma reviravolta inesperada, dia 12 de janeiro nos trouxe uma dessas gratas surpresas.

A Paizo (de Pathfinder e Starfinder) postou em seu blog um anúncio que virou de cabeça para baixo a comunidade rpgística. Foi anunciado o Open RPG Creative License (carinhosamente apelidado de ORC), uma resposta às incertezas e temores gerados pela OGL 1.1. Na perspectiva da WotC lançar essa nova licença “desautoriznado” a OGL original e criando algo mais restritivo, a Paizo revelou que começou a trabalhar em uma licença própria que será “aberta, perpétua e irrevogável”.

A nova licença aberta anunciada pela Paizo será “independente de sistema”, permitindo que criadores de RPG de todos os tipos forneçam documentos de referência de regras que “abrem seus sistemas de jogo individuais para o mundo”. Várias editoras já concordaram em se envolver, incluindo Chaosium, Green Ronin, Legendary Games e Kobold Press e ganhando mais e mais adeptos com o passar adas horas. Erik Mona, em sua conta no twitter, estava celebrando hoje (13/01): “Centenas e centenas de editores de jogos, desde grandes nomes que datam dos primeiros dias do negócio de RPG até pessoas em seus primeiros dias de suas carreiras, já se inscreveram para apoiar a Open RPG Creative License. A lista completa é impressionante.

Em um comunicado, o presidente da Chaosium, Michael O'Brien, disse: “Embora a Chaosium nunca tenha usado o WotC OGL, estamos muito felizes em trabalhar com o restante da indústria para criar um OGL de todo o sistema que qualquer pessoa possa usar.”

Você pode ler o comunicado completo da Paizo traduzido em nossa outra postagem AQUI!

No anúncio da Paizo, a editora, que tem muitos ex-funcionários da Wizards of the Coast, afirma que o D&D OGL nunca teve a intenção de ser revogável. O documento claramente declara “Nós estávamos lá”, como quem diz “nós estávamos lá e sabemos que as coisas não eram para ocorrer dessa forma que vocês [WotC/Hasbro] querem fazer agora”. A certeza é tão vivaz que ainda é dito “estamos preparados para discutir esse ponto em um tribunal, se necessário”.

A licença não terá uma editora como dona. Para evitar que a nova licença aberta mude no futuro, a Paizo não pretende ser dona do ORC, “nem será de nenhuma empresa que ganha dinheiro publicando RPGs”. Em vez disso, pretende encontrar “uma organização sem fins lucrativos com um histórico de valores de código aberto para possuir esta licença”. Não à toa que a palavra irrevogável é utilizada três vezes durante o texto, para deixar bem claro o teor e peso dele.

Em entrevista que reproduziremos ao final dessa postagem, o presidente da Paizo, Jim Butler, informa que o desejo é que em fevereiro próximo uma primeira versão da ORC esteja pronta.

Com todo o desenrolar dessas duas primeiras semanas de 2023 a grande derrotada foi, sem dúvida, a Wizard of the Coast/Hasbro. Os desdobramentos pós vazamento do OGL 1.1, o não esclarecimento adequado por parte da WotC - que acaba por desencadear uma perda gigantesca para a franquia (tanto financeira como de simbologia) - e o clímax do anúncio da ORC, obrigou a editora de D&D a se pronunciar neste dia 13/01.

Claramente com a intenção de tentar apaziguar os ânimos da comunidade de fãs e editores, a WotC tentou desmentir coisas que o documento vazado afirmava. Eles abordaram as reclamações dos fãs sobre o documento, fornecendo uma espécie de atualização do que pretendem com a OGL 1.1. É certo que eles perderam o time para essa declaração e, ao deixar passar uma semana se viram com perdas que não serão reparadas tão facilmente.

Foram prometidas algumas mudanças em seus rascunhos iniciais (como eles mesmo chamam o documento vazado). Primeiramente eles estão descartando a estrutura de royalties, o que exigiria que os editores terceirizados de D&D mais lucrativos entregassem uma parte de sua receita. Segundo o comunicado “Nossos rascunhos incluíam linguagem de royalties projetada para ser aplicada a grandes corporações que tentavam usar o conteúdo OGL. Nunca foi nossa intenção impactar a grande maioria da comunidade”, diz o comunicado, claramente tentando desmentir algo que estava claro no documento vazado, até mesmo com um certo ar arrogante transparecendo.

Outro desmentido da WotC tem relação à licença anterior, onde agora eles dizem que o conteúdo lançado sob a licença existente não será afetado pela mudança que poderá vir com a OGL 1.1. Além disso, disseram que removeram a “disposição de devolução de licença”.

A grande pergunta que fica, então, é: o que raios restou do que foi originalmente planejado para a nova OGL? Segundo a própria WotC a nova OGL “conterá as disposições que nos permitem proteger e cultivar o ambiente inclusivo que estamos tentando construir e especificar que abrange apenas conteúdo para TTRPGs, permitindo que a Wizards tome medidas contra conduta discriminatória e odiosa enquanto também esclarece quais tipos de produtos são abrangidos pela OGL”.

A WotC tenta se proteger, agora, declarando que não pretendia lançar a OGL 1.1 agora e que buscava feedback da comunidade. Realmente algo que não condiz com tudo o que estava claramente escrito em seu “rascunho vazado”.

O comunicado da WotC não é de forma alguma algo seguro e realmente tranquilizador. Depois do que vimos neste início de ano a única perspectiva que temos quanto à eles é que não se tem certeza do que realmente eles pretendem com sua nova OGL a partir de agora. Podemos confiar neles? Não foram suficientemente enfáticos em solucionar às preocupações geradas por eles mesmos e creio que a comunidade terá dificuldade de confiar plenamente numa nova OGL depois de uma tentativa de simplesmente apagar tudo o que existia de “acordos” anteriormente firmados.

Mais do que palavras e documentos, a WotC terá que reconquistar todo seu patrimônio de relação com sua comunidade de fãs e editores que literalmente foi jogado no lixo. Conseguiram acabar com um simples documento “vazado” algo que levaram décadas para conquistar.

Com isso quem sai ganhando é todo o resto da comunidade. Por um lado a comunidade de fãs de D&D demonstrou uma força que muitos consideravam inexistente, deixando claro que por mais que tenhamos livros e mais livros de sistemas de regras e cenário, isso só vale algo pela existência dos fãs.

Por outro lado também saem ganhando as editoras e criadores de conteúdo de todos os tipos e naturezas, que capitaneados (pelo menos nesse início) pela Paizo, oportunizaram um dos grandes acontecimentos da história do RPG – uma licença nunca antes vista. Aliado à isso, todos que consomem RPG também saem ganhando com a ORC e a possibilidade, de uma forma segura, de produzirem material relevante e disponibilizar para a maior parcela de jogadores.

Por fim, o outro grande ganhador, ao meu ver pelo menos, é a própria Paizo, que com sua iniciativa de encabeçar uma luta onde muitos acharam que a derrota já seria certa, conseguiram mostra um rumo novo, alentador e promissor. Como eles mesmo disseram em seu anúncio, para a Paizo isso não faria diferença, pois já estavam salvaguardados, mas era algo importante para a comunidade como um todo que algo fosse feito.

Há muito mais RPG do a simples WotC ou mesmo D&D...

...sim, existe a ORC!

o  O  o

Abaixo leia na íntegra a entrevista do presidente da Paizo, Jim Butler, ao site IO9 sobre a ORC e seus desdobramentos.


Linda Codega, io9: Há quanto tempo o ORC está em andamento?

Jim Butler, presidente da Paizo: Começamos a nos mover nessa direção anos atrás, com o desenvolvimento da Segunda Edição do Pathfinder Roleplaying Game. Em vez de basear esse jogo nas expressões mecânicas específicas dos Documentos de Referência do Sistema abertos pela Open Gaming License, começamos nossa nova edição com uma lousa em branco, separando nossa mecânica de jogo dos materiais protegidos por direitos autorais em SRDs anteriores para traçar um novo caminho.

Publicamos o Pathfinder Second Edition sob a OGL porque a OGL provou ser, por mais de 20 anos, um porto seguro para os editores colaborarem e desenvolverem o trabalho uns dos outros, e queríamos ter certeza de que todos na comunidade seria capaz de inovar fora de nossos projetos.

A controvérsia da mídia em torno dos planos da Wizards de mudar o OGL deixou claro que qualquer porto seguro que pudesse ter existido antes estava em perigo. Começamos então a discutir nossas opções com nossos advogados da Azora Law e um ORC nasceu.


io9: O ORC será anexado a algum documento de referência do sistema específico ou será uma estrutura maior?

Butler: A licença Open RPG Creative é concebida como uma estrutura mais ampla, nos moldes do GNU ou Creative Commons, na qual as empresas podem depositar independentemente seus próprios Documentos de Referência do Sistema. Nesse sentido, não está vinculado a um único sistema ou a um pequeno conjunto de sistemas (e, mais importante, não pertence a um único editor de RPG).

Já existem várias grandes empresas inscritas para a licença ORC, portanto, não será lançada sem conteúdo. E o mais importante, esse conteúdo crescerá com o tempo, protegido de influências externas.


io9: Quanto tempo você acha que levará para estabelecer o ORC finalizado em sua primeira edição?

Butler: Membros de nossa equipe de liderança, bem como nosso consultor jurídico, estiveram envolvidos na criação da Open Gaming License original, portanto, embora este seja um esforço significativo - especialmente porque pretendemos tornar a própria licença permanente, perpétua e irrevogável alinhado com a intenção original do próprio OGL - temos muita experiência no assunto e estamos avançando rapidamente.

Sentimos que no ambiente atual, a velocidade é necessária. Existem equipes criativas e de suporte em nosso setor que dependem da publicação de jogos para sobreviver. Eles investiram em carreiras e empresas com base em declarações e promessas explícitas de executivos da Wizards nos últimos 22 anos, incluindo várias edições e mudanças SRD na Wizards. Esses criadores precisam de um porto seguro, assim como nós. As carreiras foram construídas pela promessa do Open Gaming. Esses não devem ser extintos em um momento devido à mudança de interesse próprio de uma empresa.

Então, quanto tempo vai demorar? Esperamos que um primeiro rascunho seja lançado para feedback em fevereiro, e a iteração final depende do feedback do editor que recebermos, encontrando ou estabelecendo a base certa para proteger o ORC, estabelecendo alguns padrões aceitáveis para todos os editores e outros elementos vitais para a saúde a longo prazo do ORC. Em última análise, a linha do tempo será conduzida por Azora Law, e eles não lançarão a versão final até que esteja pronta.


io9: Que tipo de contribuição da comunidade você está procurando durante as iterações?

Butler: Nosso objetivo é garantir que a Open RPG Creative License seja flexível o suficiente para abranger todos os tipos de RPGs e ser protegida de qualquer tentativa de alterar sua missão principal. Para isso, estamos buscando feedback de outros editores para garantir que a licença final cubra suas necessidades e que cobrimos quaisquer possíveis armadilhas. Não queremos que um futuro proprietário de uma determinada empresa ou uma nova teoria jurídica apareça para tentar desfazer essa intenção clara e inequívoca. Evitar isso requer atenção aos detalhes e feedback de nossos colegas editores para garantir que a licença funcione para todos.


io9: Você tem mais algum comentário sobre a atualização OGL da Wizards of the Coast?

Butler: A Open Gaming License foi criada para beneficiar todas as empresas de jogos no espaço de jogos de hobby. Como líder nesse espaço, a Wizards tem a maior rede de jogadores e, portanto, é mais beneficiada positivamente pela OGL. Estamos perplexos com a lógica de negócios que levou ao vazamento do OGL 1.1 e o impacto negativo em toda a indústria de hobby que sua perda criaria.


io9: Por que o ORC é importante para o futuro dos jogos?

Butler: Mesmo uma empresa de médio porte como a Paizo não pode produzir produtos que cubram a ampla gama de interesses de jogos existentes nos mundos Pathfinder e Starfinder. Editores menores e até de médio porte criaram uma incrível variedade de materiais de origem, mundos de campanha, romances e muito mais que dão suporte aos nossos jogos. Eles criaram essas extensões para Pathfinder e Starfinder por meio dos programas “Infinite” hospedados por licenças de compatibilidade OneBookShelf, Pathfinder e Starfinder que abriram ainda mais jogos da Paizo, nossa Política de Uso da Comunidade, além de uma variedade de licenciados incríveis como Foundry VTT, Fantasy Grounds, Roll20, Hero Lab, Demiplane, WizKids e mais do que posso listar aqui. Isso sem contar todos os nossos incríveis parceiros internacionais que publicam nossos jogos em francês, alemão, italiano, espanhol, russo e português do Brasil.

A OGL abriu isso para todos e é vital que a licença ORC faça o mesmo para a miríade de editores criativos que dão vida aos seus sonhos. A Paizo acredita veementemente que todos os jogos prosperam em uma atmosfera de cooperação e colaboração, mesmo entre editores que são concorrentes. Esse espírito guiou o movimento Open Gaming por mais de duas décadas e fez dos jogos o que são hoje.


io9: Como o ORC permitirá maior acessibilidade ao espaço TTRPG?

Butler: O ORC não se limitará apenas a imprimir livros e PDFs estáticos. À medida que a tecnologia muda, os editores terão o poder de aproveitar a mesma licença e divulgar seus trabalhos por toda parte. De AR/VR a mesas virtuais; de leitores de tela a romances narrados; a licença Open RPG Creative permitirá que os editores tracem seu próprio curso e abram seus trabalhos para legiões de fãs que de outra forma não teriam a oportunidade de conhecê-los.

Um comentário:

Fernando Hax disse...

A Hasbro já vem fazendo uma bagunça no Magic, inundando o mercado com produtos que resultou num aumento expressivo do lucro deste setor. Para mim ficou clara a intenção de monetizar o D&D.
Graças a Deus abandonei esse sistema na 3 edição mas estava preocupado com a OGL.
Como será que ficará o Mutantes & Malfeitores? Sei que a Green Ronin deverá apoiar a ORC e vejo que na 3ª edição eles se distanciaram ainda mais da OGL. Nesta confusão, este é meu único temor.
Excelente postagem como sempre.
Não é a toa que a Confraria é meu site de RPG favorito!
Parabéns!