Resenha de Quadrinhos
na Confraria #1
- A Saga dos Novos
Titãs – vol. 1 -
De
vez em quando fico procurando alguma coisa nova para fazer na Confraria. Já são
mais de quinze anos de vida do blog e quase oito mil postagens, então não é
fácil começar algo realmente novo. Mas neste caso, uma resenha sobre
quadrinhos, era algo que realmente nunca tinha feito. Quem me acompanha deve
saber que amo tudo relacionado à super e coleciono quadrinhos da Marvel e da DC
desde 1979. Não chego a ser um super-colecionador, mas me orgulho muito do que
possuo.
Já
comprei muito neste meio tempo e tive uma coleção enorme. Também já perdi muito
mais de uma vez... são coisas da vida. Atualmente colecionar HQs se tornou um
hobby extremamente caro e elitizado e vou levando como dá, mas percebo que
estamos colocando as novas gerações de leitores fora ao não proporcionarmos
condições deles ingressarem nesse mundo. Nos últimos tempos, um daqueles amigos
que são quase um irmão desgarrado, em incentivava a começar uma série de resenhas
ou matérias sobre quadrinhos de supers. Sempre ficava em dúvida de iniciar esse
tipo de coisa. Não me considero um grande conhecedor. Sou sim um curioso e
adoro pesquisar sobre o tema. Então, consigo perceber nessas resenhas uma
pequena contribuição para, quem sabe, manter uma porta aberta para algum
desgarrado iniciante que precise de um pequeno empurrãozinho para entrar nessa
vida maravilhosa das HQs de supers.
Então
vamos ver no que isso vai me levar.
Para
inaugurar essas resenhas escolhi um velho novo. Isso mesmo. Será um exemplar da
linha Saga, da Panini... e não por acaso. Primeiro vamos à algumas palavras sobre
essa linha. Na linha Saga a editora Panini republica as edições de um
personagem ou grupo, desde um determinado ponto, de forma cronológica (seja do
título ou da história), em tamanho de hq americana (o comum de hoje), encadernado
com capa cartonada e com papel offset. No meu ver é o melhor exemplo de custo
benefício dos atuais títulos da editora, além de ser um excelente ponto de
partida para novos leitores.
A
série de títulos da Saga começou com duas linhas lançadas em março de 2021 - A
Saga do Superman e a Saga do Batman, ambas republicando as histórias e arcos da
segunda metade da década de oitenta em diante (ainda falarei delas). Essa linha
é uma oportunidade barata (na medida do possível) para termos acesso (de novo)
à incríveis arcos em formato americano – já que na época que foram lançados por
aqui elas vinham em formatinho pela editora Abril e muito recortada
(literalmente). O sucesso dessa linha fez a família de publicações crescer.
Atualmente temos A Saga do Demolidor, A Saga dos X-Men, A Saga do Homem-Aranha
e A Saga dos Vingadores, pela Marvel. Pela DC tivemos a Saga do Superman, e continuamos
com A Saga do Batman, A Saga da Liga da Justiça, A Saga do Flash e A Saga dos
Novos Titãs... e justamente está última é que será meu alvo para inaugurar
minhas resenhas.
Por
que começar com os Novos Titãs? Particularmente eu curto muito personagens
jovens ou grupos de super-heróis jovens. Todo aquele drama dos novatos se
descobrindo, mais errando do que acertando, drama, tentando se mostrar para os
mais velhos, mais drama, tentando ganhar o direito a ser considerado um
verdadeiro super-herói, um pouquinho mais de drama... Seja Marvel ou DC curto
isso. Jovens Vingadores, Justiça Jovem, os Campeões com Miles Morales e Kamala,
o Robin de Damien, os Novos Mutantes, entre outros. Todos eles trazem muitos
elementos, além do simples heroísmo e raios destruidores, para as páginas das
suas revistas. São personagens mais humanos. Mais críveis. É um pouco do que
cativou os leitores na década de sessenta quando nos apresentou Peter
“Homem-Aranha” Parker e sua crise juvenil e contas para pagar, enquanto salvava
o mundo. Então eu pensei: por que não começar com A Saga dos Novos Titãs?
A edição
#1 da A Saga dos Novos Titãs é o mais novo título da linha Saga da editora
Panini. Ela chegou às bancas menos de um mês atrás, em julho de 2023 (não sei
quando você está lendo isso hehehehe) e, como não poderia deixar de ser, foi
uma compra certa. Em suas 144 páginas, ao custo de R$ 39,90, temos cinco
edições originalmente lançadas pela Panini nas páginas da revista Novos Titãs,
edições #1 a #4, entre julho e outubro de 2004. É a sensacional fase escrita
por Geoff Johns, com artes de Mike MsKone, além da participação na arte de
Carlo Barberi e do brasileiro Ivan Reis.
Antes
de ingressar nas páginas das revistas que estão contidas nela, vamos falar
sobre a introdução. Essas edições históricas – seja Marvel ou DC – chamam a
atenção por editoriais e materiais informativos extras, e aqui não foi
diferente. Temos duas páginas de uma introdução escrita pelo próprio Geoff Johns.
Esse texto é um daqueles pequenos tesouros, ou melhor, um verdadeiro mapa do
tesouro. Nela, Johns faz um esclarecedor e apaixonado resumo para conhecermos todo
o legado dos Titãs desde a década de 60, com seus membros originais, até
chegarmos ao que temos em mãos neste momento. Há contextualização para a
história por trás da criação do grupo e de seu desenvolvimento nos levando até
os Novos Titãs. São duas páginas primorosas que permite que, ao virarmos a
página e ingressarmos na HQ em si, tenhamos um conhecimento básico adequado
para não nos perdermos. Como eu disse, um ótimo ponto de partida para novos
leitores.
Como
ainda estou entendendo (ou aprendendo) como farei essas resenhas, incialmente
vou comentar uma a uma as edições que compões esse volume de A Saga dos Novos
Titãs.
[Spoilers
daqui em diante]
Teen Titans/Outsiders: Secret Files And Origins (2003) #1
Abrimos
o volume com esta edição e já com muita tensão. Ela é um one-shot que vem logo
após uma tragédia envolvendo Titãs E Justiça Jovem onde no crossover das duas
equipes eles enfrentam uma versão robô maligna do Superman, resultando na morte
de Dona Troy (mostrado em Titans/Young Justice: Graduation Day vol 1 #3,
lançado no Brasil pela Panini em Titãs/Justiça Jovem: Dia de Formatura #3, em
maio de 2004).
O
nome sugestivo “Um dia depois...” dá bem o tom deste início, tal qual os
primeiros passos de alguém traumatizado. Em suas trinta páginas ela mostra
personagens em luto, doloridos, angustiados, com raiva e sem saber para onde
ir, e principalmente que não tem com quem contar. É como se estivesse
procurando algum farol que lhes mostrasse o caminho. Por um lado temos um
Arsenal focando sua dor em raiva, ao mesmo tempo que a conversa de Robin e Asa
Noturna, resume bem que estão sozinhos. Robin pergunta “O que vamos fazer
agora, Dick?” como um pedido de socorro. Asa Noturna apenas responde,
enquanto se afasta: “Não sei, mas seja o que for, acho melhor fazermos
separados.” É assim que cada um deles, ao seu jeito, se sente.
Está
a forma brilhante como Johns nos diz – Ok, eles estão sozinhos, mas ainda assim
eles têm uns aos outros... apenas precisa descobrir novamente isso.
Teen Titans volume 3
(2003) #1
Este
é o típico volume do os legados vão mostrar o caminho aos seus pupilos para
justificar esse novo título... e não tem nada errado com isso. Na verdade é
um ponto de partida sólido para a proposta da revista. O primeiro volume é
dedicado ao farol sendo ligado e direcionando o caminho aos jovens, mas onde
eles mesmos precisam decidir seguir.
São
duas ou três páginas para cada personagem onde vemos Superman, Batman e Flash
entre entendendo o que se passa com os jovens heróis e, ao mesmo tempo,
tentando mostrar uma alternativa de caminho que eles mesmos precisam decidir
tomar. Ciborgue está remontando a equipe e eles estão convidados. Convidados
assim como Cassie, que recebe a visita de Estelar e onde nas páginas seguintes,
na jornada até a Torre Titã, vai nos apresentando o local e o que esperar.
Robin, Superboy, Impulso e Moça-Maravilha estão juntos novamente.
Como
de se esperar a o reencontro é difícil, mas mesmo incomodados eles percebem que
pelos menos aquelas pessoas ali conseguem entender o que está acontecendo na
cabeça deles. Para encerrar com chave de ouro temos a apresentação de um
elemento que acabará por permear as aventuras da equipe por anos,
principalmente a vida do clone Superboy. É jogado na nossa cara, e dos
personagens também, que o Connor, o clone do Superman, tem metade do seu DNA do
próprio Clark, mas a outra metade pertencendo à ninguém menos que Lex Luthor.
Teen Titans volume 3
(2003) #2
Esta
segunda edição vem com a intenção de começar a definir e apresentar o perfil
dos personagens centrais para que o leitor possa, então, entender a construção
que se dará na continuação da equipe. Connor quer provar que sua identidade não
pode ser definida pelo DNA que recebeu. Robin não consegue ficar longe da
verdade, quase como um vício, e fará o que for preciso para descobri-la, mesmo
que isso significa ir contra a vontade de Connor. Impulso enxerga no grupo uma
família, ou o mais próximo disso que ele encontrará para que não se sinta tão
deslocado no tempo. A Moça-Maravilha se sente perdida entre dois mundos, entre
dois pontos de pressão, e precisa de uma bote salva-vidas.
Em
meio à tudo isso temos ação. Esse momento surge para mostrar que eles sabem
trabalhar junto, que eles têm o que é preciso para serem heróis. Mesmo com a
coordenação de Estelar e Mutano, eles sabem o que fazer quando vidas precisam
ser salvas. Ao mesmo tempo temos a apresentação do vilão da equipe – o
Exterminador, em toda a sua frieza e violência. O corte final da edição, com o
covarde tiro no joelho do Impulso apenas para passar um recado, como
ele mesmo diz, nos faz sentir a dor e agonia do momento.
É
um final perfeito para a edição, principalmente porque ele deixa escancarada
mais uma característica básica que teremos com Geoff Johns. Ao contrário do que tínhamos anteriormente,
há muito menos comédia aqui e sim uma narrativa bem mais dramática. Isso já
estava sendo construído desde o one-shot nesta edição de A Saga dos Novos
Titãs. Temos a crise interna dos personagens, depois a busca por uma
identidade, a revelação sobre o DNA de Connor e agora o cruel ataque ao Impulso...
e isso era só o início. Imagino
a ansiedade de quem, em 2003, teve que suportar um longo mês até o lançamento
da edição seguinte.
Teen Titans volume 3
(2003) #3 e #4
A
sequência dessas duas edições começa frenética, claramente como se a anterior
não tivesse terminado (e realmente não terminou para os leitores) e num
crescendo interessante. Nos dois focos da história que se forma, um centrado em
Impulso no hospital, junto de Cyborg e Mutano, e outro com o restante da equipe,
junto de Estelar na base dos Titãs, a busca é pelo desenvolvimento sutil da
equipe. A equipe ganha mais elementos sobre como querem agir e o que realmente
importa, agora que se juntaram. Cada página é uma informação nova.
Ao
mesmo tempo começamos ter um vilão mais delineado, com explicação da motivação
e a crueza de receber algo impactante. Revelações sobre ele são feitas e o
envolvimento de um ex-integrante supostamente morto impactam e chocam. O ponto que
já havia comentado de que temos menos piadas e mensagens mais diretas ressurge
com a espada do Exterminador crava na cabeça do Cyborg destruindo seu olho
biônico e o deixando paralisado.
Na
segunda metade da edição #4 temos um salto no desenvolvimento de dois
personagens. A Moça-Maravilha aparece ganhando um equipamento diretamente de
Ares através de um espelho, nos levando a imaginar (quem ainda não conhecia da
leitura da época) o que estaria por vir. Logo depois, em meio à um combate
mortal entre Exterminador e Robin, que está prestes a literalmente receber um
tiro no rosto, temos o desenvolvimento do outro personagem. Não Robin, mas Kid
Flash.
Ele
teve alguma espécie de catarse ao ter seu joelho destruído e passou por uma
mudança radical que passa ao largo do que estava acontecendo. Ao sair do
hospital, graças ao seu fator de cura acelerado, ele simplesmente lê uma
biblioteca inteira. Isso fecha o círculo mostrado rapidamente na primeira
edição (Teen Titans #1), quando ele dizia que tinha estímulo para ler. Na sua
reconstrução da identidade, após o trauma do tiro que recebera, ele percebe que
precisa de informação, que precisa amadurecer, crescer. E ele o faz. As duas
páginas onde é apresentado o Exterminador fazendo seu discurso, apontando a
arma para o rosto do Robin e o disparo, com a intervenção providencial de
Impulso no último instante simplesmente segurando o projétil e aprestando
informações que só foram possíveis graças a ele ter deixado de ser quem era. Ele
se apresenta, agora, como Kid Flash, como quem diz que não existe mais Impulso.
Conclusão Final
Vale
à pena? Muito. Temos o início de uma grande fase dos Novos Titãs e, quem sabe,
a fase que mais fortaleceu eles no Brasil. Ele diminui a pegada de humor e
aumenta a tensão. Não que eu não curta humor. Gosto muito da fase recente da
Justiça Jovem – justamente com esses mesmos personagens – lançado recentemente
no Brasil pela Panini em três encadernados. Por falar nisso, uma crítica. Falta
a Panini lançar no Brasil justamente a fase da Justiça Jovem (ainda inédito no
Brasil) que antecede o arco Dia de Formatura, que acaba por ser o ponto de partida
psicológico dos personagens aqui. Seria muito interessante termos lançado a
Justiça Jovem e depois, na sequência, essa fase dos Novos Titãs... seria mais
proveitoso para apreciarmos e entendermos melhor como os personagens chegaram
aqui. Mas ainda assim a A Saga dos Novos Titãs é um excelente quadrinho. Impossível
parar de ler e deixando aquele gosto de quero mais. Recomendo!
A
Saga dos Novos Titãs #1 (2023) – Panini – Link Amazon
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