sábado, 12 de agosto de 2023

Resenha de Quadrinhos na Confraria #1 - A Saga dos Novos Titãs – vol. 1

 Resenha de Quadrinhos na Confraria #1
- A Saga dos Novos Titãs – vol. 1 -

 

De vez em quando fico procurando alguma coisa nova para fazer na Confraria. Já são mais de quinze anos de vida do blog e quase oito mil postagens, então não é fácil começar algo realmente novo. Mas neste caso, uma resenha sobre quadrinhos, era algo que realmente nunca tinha feito. Quem me acompanha deve saber que amo tudo relacionado à super e coleciono quadrinhos da Marvel e da DC desde 1979. Não chego a ser um super-colecionador, mas me orgulho muito do que possuo.

Já comprei muito neste meio tempo e tive uma coleção enorme. Também já perdi muito mais de uma vez... são coisas da vida. Atualmente colecionar HQs se tornou um hobby extremamente caro e elitizado e vou levando como dá, mas percebo que estamos colocando as novas gerações de leitores fora ao não proporcionarmos condições deles ingressarem nesse mundo. Nos últimos tempos, um daqueles amigos que são quase um irmão desgarrado, em incentivava a começar uma série de resenhas ou matérias sobre quadrinhos de supers. Sempre ficava em dúvida de iniciar esse tipo de coisa. Não me considero um grande conhecedor. Sou sim um curioso e adoro pesquisar sobre o tema. Então, consigo perceber nessas resenhas uma pequena contribuição para, quem sabe, manter uma porta aberta para algum desgarrado iniciante que precise de um pequeno empurrãozinho para entrar nessa vida maravilhosa das HQs de supers.

Então vamos ver no que isso vai me levar.

Para inaugurar essas resenhas escolhi um velho novo. Isso mesmo. Será um exemplar da linha Saga, da Panini... e não por acaso. Primeiro vamos à algumas palavras sobre essa linha. Na linha Saga a editora Panini republica as edições de um personagem ou grupo, desde um determinado ponto, de forma cronológica (seja do título ou da história), em tamanho de hq americana (o comum de hoje), encadernado com capa cartonada e com papel offset. No meu ver é o melhor exemplo de custo benefício dos atuais títulos da editora, além de ser um excelente ponto de partida para novos leitores.

A série de títulos da Saga começou com duas linhas lançadas em março de 2021 - A Saga do Superman e a Saga do Batman, ambas republicando as histórias e arcos da segunda metade da década de oitenta em diante (ainda falarei delas). Essa linha é uma oportunidade barata (na medida do possível) para termos acesso (de novo) à incríveis arcos em formato americano – já que na época que foram lançados por aqui elas vinham em formatinho pela editora Abril e muito recortada (literalmente). O sucesso dessa linha fez a família de publicações crescer. Atualmente temos A Saga do Demolidor, A Saga dos X-Men, A Saga do Homem-Aranha e A Saga dos Vingadores, pela Marvel. Pela DC tivemos a Saga do Superman, e continuamos com A Saga do Batman, A Saga da Liga da Justiça, A Saga do Flash e A Saga dos Novos Titãs... e justamente está última é que será meu alvo para inaugurar minhas resenhas.

Por que começar com os Novos Titãs? Particularmente eu curto muito personagens jovens ou grupos de super-heróis jovens. Todo aquele drama dos novatos se descobrindo, mais errando do que acertando, drama, tentando se mostrar para os mais velhos, mais drama, tentando ganhar o direito a ser considerado um verdadeiro super-herói, um pouquinho mais de drama... Seja Marvel ou DC curto isso. Jovens Vingadores, Justiça Jovem, os Campeões com Miles Morales e Kamala, o Robin de Damien, os Novos Mutantes, entre outros. Todos eles trazem muitos elementos, além do simples heroísmo e raios destruidores, para as páginas das suas revistas. São personagens mais humanos. Mais críveis. É um pouco do que cativou os leitores na década de sessenta quando nos apresentou Peter “Homem-Aranha” Parker e sua crise juvenil e contas para pagar, enquanto salvava o mundo. Então eu pensei: por que não começar com A Saga dos Novos Titãs?

A edição #1 da A Saga dos Novos Titãs é o mais novo título da linha Saga da editora Panini. Ela chegou às bancas menos de um mês atrás, em julho de 2023 (não sei quando você está lendo isso hehehehe) e, como não poderia deixar de ser, foi uma compra certa. Em suas 144 páginas, ao custo de R$ 39,90, temos cinco edições originalmente lançadas pela Panini nas páginas da revista Novos Titãs, edições #1 a #4, entre julho e outubro de 2004. É a sensacional fase escrita por Geoff Johns, com artes de Mike MsKone, além da participação na arte de Carlo Barberi e do brasileiro Ivan Reis.

Antes de ingressar nas páginas das revistas que estão contidas nela, vamos falar sobre a introdução. Essas edições históricas – seja Marvel ou DC – chamam a atenção por editoriais e materiais informativos extras, e aqui não foi diferente. Temos duas páginas de uma introdução escrita pelo próprio Geoff Johns. Esse texto é um daqueles pequenos tesouros, ou melhor, um verdadeiro mapa do tesouro. Nela, Johns faz um esclarecedor e apaixonado resumo para conhecermos todo o legado dos Titãs desde a década de 60, com seus membros originais, até chegarmos ao que temos em mãos neste momento. Há contextualização para a história por trás da criação do grupo e de seu desenvolvimento nos levando até os Novos Titãs. São duas páginas primorosas que permite que, ao virarmos a página e ingressarmos na HQ em si, tenhamos um conhecimento básico adequado para não nos perdermos. Como eu disse, um ótimo ponto de partida para novos leitores.

Como ainda estou entendendo (ou aprendendo) como farei essas resenhas, incialmente vou comentar uma a uma as edições que compões esse volume de A Saga dos Novos Titãs.

[Spoilers daqui em diante]

Teen Titans/Outsiders: Secret Files And Origins (2003) #1
Abrimos o volume com esta edição e já com muita tensão. Ela é um one-shot que vem logo após uma tragédia envolvendo Titãs E Justiça Jovem onde no crossover das duas equipes eles enfrentam uma versão robô maligna do Superman, resultando na morte de Dona Troy (mostrado em Titans/Young Justice: Graduation Day vol 1 #3, lançado no Brasil pela Panini em Titãs/Justiça Jovem: Dia de Formatura #3, em maio de 2004).

O nome sugestivo “Um dia depois...” dá bem o tom deste início, tal qual os primeiros passos de alguém traumatizado. Em suas trinta páginas ela mostra personagens em luto, doloridos, angustiados, com raiva e sem saber para onde ir, e principalmente que não tem com quem contar. É como se estivesse procurando algum farol que lhes mostrasse o caminho. Por um lado temos um Arsenal focando sua dor em raiva, ao mesmo tempo que a conversa de Robin e Asa Noturna, resume bem que estão sozinhos. Robin pergunta “O que vamos fazer agora, Dick?” como um pedido de socorro. Asa Noturna apenas responde, enquanto se afasta: “Não sei, mas seja o que for, acho melhor fazermos separados.” É assim que cada um deles, ao seu jeito, se sente.

Está a forma brilhante como Johns nos diz – Ok, eles estão sozinhos, mas ainda assim eles têm uns aos outros... apenas precisa descobrir novamente isso.

Teen Titans volume 3 (2003) #1
Este é o típico volume do os legados vão mostrar o caminho aos seus pupilos para justificar esse novo título... e não tem nada errado com isso. Na verdade é um ponto de partida sólido para a proposta da revista. O primeiro volume é dedicado ao farol sendo ligado e direcionando o caminho aos jovens, mas onde eles mesmos precisam decidir seguir.

São duas ou três páginas para cada personagem onde vemos Superman, Batman e Flash entre entendendo o que se passa com os jovens heróis e, ao mesmo tempo, tentando mostrar uma alternativa de caminho que eles mesmos precisam decidir tomar. Ciborgue está remontando a equipe e eles estão convidados. Convidados assim como Cassie, que recebe a visita de Estelar e onde nas páginas seguintes, na jornada até a Torre Titã, vai nos apresentando o local e o que esperar. Robin, Superboy, Impulso e Moça-Maravilha estão juntos novamente.

Como de se esperar a o reencontro é difícil, mas mesmo incomodados eles percebem que pelos menos aquelas pessoas ali conseguem entender o que está acontecendo na cabeça deles. Para encerrar com chave de ouro temos a apresentação de um elemento que acabará por permear as aventuras da equipe por anos, principalmente a vida do clone Superboy. É jogado na nossa cara, e dos personagens também, que o Connor, o clone do Superman, tem metade do seu DNA do próprio Clark, mas a outra metade pertencendo à ninguém menos que Lex Luthor.

Teen Titans volume 3 (2003) #2
Esta segunda edição vem com a intenção de começar a definir e apresentar o perfil dos personagens centrais para que o leitor possa, então, entender a construção que se dará na continuação da equipe. Connor quer provar que sua identidade não pode ser definida pelo DNA que recebeu. Robin não consegue ficar longe da verdade, quase como um vício, e fará o que for preciso para descobri-la, mesmo que isso significa ir contra a vontade de Connor. Impulso enxerga no grupo uma família, ou o mais próximo disso que ele encontrará para que não se sinta tão deslocado no tempo. A Moça-Maravilha se sente perdida entre dois mundos, entre dois pontos de pressão, e precisa de uma bote salva-vidas.

Em meio à tudo isso temos ação. Esse momento surge para mostrar que eles sabem trabalhar junto, que eles têm o que é preciso para serem heróis. Mesmo com a coordenação de Estelar e Mutano, eles sabem o que fazer quando vidas precisam ser salvas. Ao mesmo tempo temos a apresentação do vilão da equipe – o Exterminador, em toda a sua frieza e violência. O corte final da edição, com o covarde tiro no joelho do Impulso apenas para passar um recado, como ele mesmo diz, nos faz sentir a dor e agonia do momento.

É um final perfeito para a edição, principalmente porque ele deixa escancarada mais uma característica básica que teremos com Geoff Johns.  Ao contrário do que tínhamos anteriormente, há muito menos comédia aqui e sim uma narrativa bem mais dramática. Isso já estava sendo construído desde o one-shot nesta edição de A Saga dos Novos Titãs. Temos a crise interna dos personagens, depois a busca por uma identidade, a revelação sobre o DNA de Connor e agora o cruel ataque ao Impulso... e isso era só o início. Imagino a ansiedade de quem, em 2003, teve que suportar um longo mês até o lançamento da edição seguinte.

Teen Titans volume 3 (2003) #3 e #4
A sequência dessas duas edições começa frenética, claramente como se a anterior não tivesse terminado (e realmente não terminou para os leitores) e num crescendo interessante. Nos dois focos da história que se forma, um centrado em Impulso no hospital, junto de Cyborg e Mutano, e outro com o restante da equipe, junto de Estelar na base dos Titãs, a busca é pelo desenvolvimento sutil da equipe. A equipe ganha mais elementos sobre como querem agir e o que realmente importa, agora que se juntaram. Cada página é uma informação nova.

Ao mesmo tempo começamos ter um vilão mais delineado, com explicação da motivação e a crueza de receber algo impactante. Revelações sobre ele são feitas e o envolvimento de um ex-integrante supostamente morto impactam e chocam. O ponto que já havia comentado de que temos menos piadas e mensagens mais diretas ressurge com a espada do Exterminador crava na cabeça do Cyborg destruindo seu olho biônico e o deixando paralisado.

Na segunda metade da edição #4 temos um salto no desenvolvimento de dois personagens. A Moça-Maravilha aparece ganhando um equipamento diretamente de Ares através de um espelho, nos levando a imaginar (quem ainda não conhecia da leitura da época) o que estaria por vir. Logo depois, em meio à um combate mortal entre Exterminador e Robin, que está prestes a literalmente receber um tiro no rosto, temos o desenvolvimento do outro personagem. Não Robin, mas Kid Flash.

Ele teve alguma espécie de catarse ao ter seu joelho destruído e passou por uma mudança radical que passa ao largo do que estava acontecendo. Ao sair do hospital, graças ao seu fator de cura acelerado, ele simplesmente lê uma biblioteca inteira. Isso fecha o círculo mostrado rapidamente na primeira edição (Teen Titans #1), quando ele dizia que tinha estímulo para ler. Na sua reconstrução da identidade, após o trauma do tiro que recebera, ele percebe que precisa de informação, que precisa amadurecer, crescer. E ele o faz. As duas páginas onde é apresentado o Exterminador fazendo seu discurso, apontando a arma para o rosto do Robin e o disparo, com a intervenção providencial de Impulso no último instante simplesmente segurando o projétil e aprestando informações que só foram possíveis graças a ele ter deixado de ser quem era. Ele se apresenta, agora, como Kid Flash, como quem diz que não existe mais Impulso.

Conclusão Final
Vale à pena? Muito. Temos o início de uma grande fase dos Novos Titãs e, quem sabe, a fase que mais fortaleceu eles no Brasil. Ele diminui a pegada de humor e aumenta a tensão. Não que eu não curta humor. Gosto muito da fase recente da Justiça Jovem – justamente com esses mesmos personagens – lançado recentemente no Brasil pela Panini em três encadernados. Por falar nisso, uma crítica. Falta a Panini lançar no Brasil justamente a fase da Justiça Jovem (ainda inédito no Brasil) que antecede o arco Dia de Formatura, que acaba por ser o ponto de partida psicológico dos personagens aqui. Seria muito interessante termos lançado a Justiça Jovem e depois, na sequência, essa fase dos Novos Titãs... seria mais proveitoso para apreciarmos e entendermos melhor como os personagens chegaram aqui. Mas ainda assim a A Saga dos Novos Titãs é um excelente quadrinho. Impossível parar de ler e deixando aquele gosto de quero mais. Recomendo!

A Saga dos Novos Titãs #1 (2023) – Panini – Link Amazon

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