Testamentos da Canção do Vento:
Luz do Prisma Radiante
Certa
vez, há muito tempo, um viajante percorreu uma estrada solitária, perdido e com
medo. Embora o caminho parecesse se estender para sempre, essa entidade não
sabia dizer aonde esse caminho levava, nem tinha certeza de onde esperava que
ele pudesse chegar. Tudo o que sabia era que não poderia permanecer onde havia
começado.
Esse
viajante partiu com um propósito, mas as dificuldades que enfrentara
desgastaram seu espírito, tornando o espírito cansado e sozinho. À
medida que a noite ficava ainda mais escura, aquele viajante ruminava sobre as
provações do mundo, as suas e as dos outros, e o desespero
caiu sobre seus ombros como o mais pesado dos mantos.
À
medida que subia uma colina alta e arborizada, cada passo tenso mais lento que
o anterior, gradualmente percebeu um som suave: shh, shh, shh. Cansado olhou
para frente, incapaz de distinguir qualquer coisa sob a fraca luz das estrelas,
e agarrou seu cajado com mais força em caso de problemas.
Uma
pequena borboleta branca apareceu como um fantasma no caminho diante daquele
viajante e voou sobre um menir caído que ainda não tinham notado no escuro. Uma
melodia delicada flutuou em seu rastro. Com o medo amenizado e a exaustão
temporariamente abafada pela curiosidade, subiu na laje de pedra e seguiu o
caminho da borboleta até o topo da colina.
Não
esperavam a cena que estava aguardando quando emergira das árvores. Vários
pilares de pedra tosca, dispostos no que antes poderia ter sido um círculo,
circundavam o cume da colina gramada. Aninhada contra a maior, havia uma ampla
plataforma de pedra plana, coberta com muitas cores de tecido puído e desbotado
que certamente eram vibrantes há muito tempo. Pequenos marcos rochosos, velas
queimadas até as pontas dos pavios, uma pena suja e algumas outras pequenas
fichas espalhadas pela superfície da rocha.
Poderia
ter parecido desamparado e abandonado, exceto pelas três mulheres que cuidavam
alegremente dele. Uma delas, uma mulher Tian com pele clara e cabelo curto e
escuro, estava acendendo velas novas, a chama refletida em seus olhos escuros.
A segunda, uma mulher varisiana de pele morena e quente e fitas multicoloridas
enfiadas nos cabelos longos e ondulados, era a fonte da melodia que ecoava nas
árvores; ela continuou a cantarolar alegremente e pintou o pilar de pedra com
desenhos delicados. A terceira figura, uma mulher Garundi com a pele quase tão
escura quanto a noite ao redor, dançava enquanto varria o chão ao redor do
santuário, as contas em sua nuvem de cabelo preto como irmãs em miniatura das
estrelas. Shh, shh, shh, a vassoura sussurrou para as pedras.
A
terceira mulher – claramente uma sacerdotisa de Desna – avistou quem se
aproximava quando a borboleta fantasmagórica pousou em um marco próximo. “Bem-vindo,
viajante”, ela chamou com um sorriso, sua voz calorosa e gentil enquanto
deixava a vassoura de lado.
A
primeira mulher – certamente uma sacerdotisa de Sarenrae – reacendeu um tronco
minguante com um gesto. “Você parece com frio”, disse ela, com a voz
forte e clara. “Venha, compartilhe nosso fogo.”
A
segunda mulher – sem dúvida uma sacerdotisa de Shelyn – interrompeu a canção e
fez sinal para que se aproximasse. “Você é bem-vinde entre nós.”
A
saudação gentil foi impressionante e inesperada. Concordando com agradecimentos
silenciosos, sentando-se perto da fogueira agora acesa e aceitou uma caneca
quente de chá do acólito de Shelyn.
“A
preocupação está em seu rosto”, disse a sacerdotisa de Sarenrae enquanto se
sentava em frente.
A
pessoa olhou para o chá por um longo momento antes de encontrar o olhar dela. “O
caminho tem sido longo e incerto”, disse, e rapidamente se viram contando
às mulheres tudo sobre as suas lutas, desde as questões pessoais de identidade
e pertencimento até ao interminável trabalho comunitário em prol da justiça e
da libertação.
“Receio
estar sem forças”, admitiu. “Vejo um futuro melhor, mas não sei como
chegar lá. É difícil não se sentir em desespero e sem ninguém. Embora eu ache
que estou menos no momento.”
A
acólita de Desna sorriu novamente, olhando para suas companheiras. “Estamos
sempre prontas para amigos inesperados”, disse ela, e as outras assentiram.
“E quanto a estar sem rumo e sem segurança, o único passo que importa em
qualquer jornada é o próximo.”
“O
amanhecer traz uma nova luz”, acrescentou a acólita de Sarenrae. “Você
pode descobrir que vê mais claramente depois do descanso. Sempre haverá boas
causas pelas quais lutar, mas não podemos fazê-lo sozinhos e cansados. Mesmo os
mais ousados entre nós devem buscar descanso e comunidade para nutrir
nossos espíritos.”
“Acho
que a criação ajuda”, ofereceu a acólita de Shelyn, apontando para o pincel
agora colocado atrás da orelha. “O amor e a beleza pertencem a todos e
ajudam a manter viva a esperança um no outro quando, de outra forma, poderíamos
vacilar.”
“Mas
tudo mudou!” gritou a pessoa viajante. “Tantos estão sofrendo e nada é
como eu esperava. Como devemos lidar com a incerteza?”
“A
mudança é inevitável”, disse a sacerdotisa de Sarenrae. “Mas traz novas
oportunidades para corrigir velhos erros. Devemos enfrentar a mudança de
frente. Juntos, podemos encontrar coragem.”
“A
mudança é linda”, disse a sacerdotisa de Shelyn. “Em vez de temê-la,
podemos aprender a dançar com ela.”
“A
mudança é a única maneira de vermos novos horizontes”, concordou a
sacerdotisa de Desna, sorrindo para suas companheiras e pegando suas mãos. “Mas
como a união do Prisma Radiante nos mostrou, mesmo diante da mudança, algumas
coisas perduram.”
Quando
as mulheres deram as mãos, a pessoa viu uma nova cena à frente delas. Em vez de
um topo de colina escuro, havia uma clareira tranquila na floresta com um
pequeno riacho aquecido pela luz do sol da tarde. Três mulheres descansavam
juntas na grama macia, mas não eram as acólitas — ou teriam sido as acólitas o
tempo todo? Duas das mulheres agora tinham asas, uma com as finas membranas de
veias de uma borboleta, a outra com as poderosas penas de um raptor angelical,
o cabelo agora brilhando como dourado como se contivesse a própria luz do sol.
A terceira mulher foi coroada de flores. Ela cantava suavemente, uma
reconfortante balada de triunfos amorosos, seus longos cabelos agora
entrelaçados com todas as cores do arco-íris.
A
pessoa que viajava dormiu então, as preocupações da estrada amenizadas, por um
tempo. Quando acordou no topo da colina, as mulheres tinham desaparecido, mas
já não se sentia com solidão. As brasas ainda brilhavam no fogo, e a canção
matinal de uma carriça enchia o ar. Acima, a luz das estrelas brilhava no
amistoso céu do amanhecer.
-
Simone D. Sallé
Nota do Editor: mais um conto da
Paizo em linguagem neutra. Fiz o possível e acho que consegui (na maior parte
das vezes) adaptar corretamente. Quero pedir desculpas com algum deslize ou
errinho que possa não ter conseguido traduzir correta e respeitosamente a
linguagem adequada.
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