sexta-feira, 2 de abril de 2010

Livro: Orgulho e Preconceito e Zumbis

Orgulho e Preconceito e.... Zumbis??

Nem vou dizer mais nada sobre a febre que nos assola trazendo o tema zumbis à pauta do ano. Eu estava passeando por um shopping de Porto Alegre quando, dando uma olhada na vitrine de uma grande livraria daqui me deparei com algo surpreendente. Um livro me chamava a atenção pela sua capa peculiar – era “Orgulho e Preconceito e Zumbis”.

Fiquei maravilhado.

O famoso livro da escritora Jane Austen, de 1813, considerado um dos grandes romances de língua inglesa e marco para a literatura daquele país, maravilhou gerações trazendo os leitores a história que revelava os costumes da vida inglesa, questionando o modo de vida imposto às moças da época.

Esta nova versão,como dizem alguns críticos, “transforma um grande clássico da literatura mundial em algo que você gostaria de ler”. Essa nova versão deixa 85% da concepção original do clássico intacta. O resto é transformado para o cenário seja um mundo que está sendo arrasado por uma praga de zumbis.

Esta obra chegou à terceira posição dos mais vendidos da tradicional lista da New York Times durante o primeiro semestre de 2009. Esta versão tem co-autoria de Seth Grahame-Smith que é um reconhecido adaptador de obras famosas para um estilo mais trash. Ele é autor de “Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos” e “Abraham Lincoln: O caçador de vampiros” (obras que serão lançadas em breve aqui no Brasil).

O sucesso é tão grande que está sendo preparada um versão cinematográfica dirigida por Tim Burton (“Alice”).

Abaixo veja fragmentos dos dois primeiros capítulos.

ORGULHO E PRECONCEITO E ZUMBIS
Capítulo 1

É uma verdade_ universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros. E nunca tal verdade foi mais inquestionável do que durante os recentes ataques ocorridos em Netherfield Park, nos quais os dezoito moradores de uma propriedade foram chacinados e consumidos por uma horda de mortos-vivos.

- Meu caro Sr. Bennet - disse-lhe certo dia sua esposa -, já soube que Netherfield Park foi alugada novamente?

O Sr. Bennet respondeu que não havia tomado conhecimento disso, e continuou absorto em suas tarefas matinais, que consistiam em afiar adagas e limpar mosquetes - já que os ataques dos não mencionáveis vinham aumentando de forma alarmante nas últimas semanas.

- Pois foi - replicou ela.

O Sr. Bennet não comentou.

- E não quer saber quem se mudou para lá? - disse em voz estridente sua mulher, perdendo a paciência.

- Mulher, estou cuidando dos meus mosquetes. Diga as asneiras que quiser, mas me deixe tratar da defesa de minha propriedade!

Tal resposta foi como um convite a prosseguir, o que bastou para a Sra. Bennet.

Ora, muito bem, meu caro marido. A Sra. Long contou que Netherfield foi alugada por um jovem de grande fortuna; que ele conseguiu escapar de Londres numa charrete de quatro cavalos tão logo a estranha praga rompeu a linha de defesa de Manchester.

- Como ele se chama?

- Bingley.

Um jovem solteiro com quatro ou cinco mil de renda por ano. Que beleza para nossas meninas.

- Como assim? Será que ele pode treiná-las no manejo da espada e do mosquete?

- Como você pode ser tão maçante? É claro que sabe que estou me referindo a ele se casar com uma delas.

- Um casamento? Em tempos como os que vivemos? Certamente o Sr. Bingley não tem tal intenção.

- Intenção? Ridículo! Como pode dizer uma coisa dessas? É muito provável que ele se apaixone por uma delas. Portanto, você deve visitá-lo tão logo ele chegue.

- Não vejo razão para isso. Além do mais, não devemos utilizar as estradas mais do que o absolutamente necessário, sob o risco de perdermos mais cavalos e veículos para o infeliz flagelo que tem atormentado tanto nosso bem-amado Hertfordshire ultimamente.

- Mas pense em suas filhas!

- É nelas que penso, mulher tola! Preferiria imensamente que estivessem com a mente concentrada nas artes mortais a toldada por sonhos com matrimônio e fortuna, como obviamente acontece com você! Vá visitar esse Bingley, se acha que deve, embora eu a advirta para o fato de que nenhuma de nossas filhas tem muito o que as recomende; são tolas e ignorantes como a mãe delas, à exceção de Lizzy, que, mais do que as irmãs, desenvolveu aquele instinto matador.

- Sr. Bennet! Como pode insultar suas próprias filhas dessa maneira? Você se delicia em me envergonhar. Não tem nenhuma compaixão pelos meus pobres nervos.

- Interpreta-me mal, minha cara. Nutro intenso respeito por seus nervos. São meus velhos conhecidos. Pelo menos nestes últimos vinte anos é praticamente tudo sobre o que tenho ouvido falar.

O Sr. Bennet era um misto tão peculiar de perspicácia, humor sarcástico, reserva e autodisciplina que a convivência de 23 anos havia sido insuficiente para que a esposa lhe entendesse o temperamento. Já a mente dela apresentava menos dificuldades à compreensão. Tratava-se de uma mulher de escassa inteligência, pouca instrução e gênio instável. Quando estava insatisfeita com algo, fazia-se de doente dos nervos. Quando estava de fato nervosa - o que era seu estado constante, desde o primeiro surto da estranha praga, ainda em sua juventude -, só obtinha consolo apegando-se a tradições que agora pareciam supérfluas para os demais.

O Sr. Bennet dedicava sua própria existência a manter as filhas vivas. A Sra. Bennet, a lhes conseguir casamento.

Capítulo 2

O Sr. Bennet foi uma das primeiras pessoas a visitar o Sr. Bingley. Aliás, visitá-lo sempre fora sua intenção, apesar de, até o último momento, garantir à esposa que não deveria fazê-lo; assim, até o final da tarde após a visita, ela ainda não tomara conhecimento do ocorrido. E tudo foi revelado da maneira que se segue. Observando sua segunda filha empenhada em entalhar o brasão dos Bennet no punho de uma espada nova, ele subitamente se dirigiu a ela, dizendo:

- Espero que o Sr. Bingley aprecie isso, Lizzy.

- Não estamos em condições de saber do que o Sr. Bingley gosta - disse a mãe da moça em voz ressentida -, uma vez que não chegaremos a visitá-lo.

- Ora, mamãe - replicou Elizabeth -, você esquece que iremos encontrá-lo no próximo baile.

A Sra. Bennet não se dignou a responder, mas, incapaz de se conter, começou a repreender uma das filhas:

- Pelo amor de Deus, Kitty! Pare de tossir desse jeito. Soa como se você tivesse sido contaminada.

- Mãe! Que coisa pavorosa de se dizer, com tantos zumbis nas redondezas - retrucou Kitty, perturbada. - Quando será esse seu próximo baile, Lizzy?

- De amanhã a quinze dias.

- Ah, sim, precisamente - gritou a mãe. - E será impossível apresentar o Sr. Bingley a minhas filhas, já que eu própria não fui apresentada a ele. Ah, desejaria jamais ter escutado o nome Bingley!

- Lamento ouvir isso - disse o Sr. Bennet- Se já o soubesse esta manhã, certamente não teria ido visitá-lo. Que infelicidade. Mas o fato é que fui visitá-lo, e agora não há como escapar às apresentações.

O espanto das mulheres era exatamente o efeito que ele desejava causar; e o da Sra. Bennet superou o de todas as demais. No entanto, quando o primeiro frêmito de alegria passou, ela se apressou a declarar que era exatamente isso o que esperava.

- Que bondade de sua parte, meu caro Sr. Bennet! Mas eu sabia que acabaria por persuadi-lo. Sabia que ama suas filhas de tal modo que não negligenciaria a necessidade de travar relações com esse senhor. Ora, estou muito contente, e que brincadeira fez de tudo isso, saindo logo cedo, pela manhã, sem dizer nada até agora.

- Não confunda minha indulgência com qualquer relaxamento de nossa disciplina - disse o Sr. Bennet. - As meninas devem continuar seu treinamento, com ou sem Bingley.

- Claro, claro - apressou-se a assentir a Sra. Bennet.

- Elas devem se tornar mais letais do que nunca.

- Agora, Kitty, pode tossir à vontade - caçoou o Sr. Bennet; deixando o aposento enfastiado com os excessos da esposa.

- Que pai magnífico têm vocês, meninas - disse ela quando a porta se fechou. - Alegrias como essa são cada vez mais raras desde que o bom Deus decidiu fechar os portais do Inferno e condenar os mortos a vagar entre nós. Lydia, minha adorada, apesar de você ser a mais jovem, ouso dizer que o Sr. Bingleydançará com você no baile.

- Oh! - exclamou Lydia, deslumbrada. - Isso não me amedronta. Embora seja a mais jovem, sou a mais experiente na arte de atrair o sexo oposto.

Mãe e filhas passaram o restante da noite em conjeturas sobre quão brevemente o Sr. Bingley haveria de retribuir a visita do Sr. Bennet e tentando decidir quando já seria apropriado convidá-lo para jantar.

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