Interpretação de Personagens
Considero que a alma do RPG, ou aquilo que tanto nos atrai em sua prática, é a possibilidade de interpretação e tudo o que isso nos remete. Não sermos somente a peça no tabuleiro, mas darmos vida ao nosso personagem.
Mas mesmo isso requer amadurecimento e experiência, não importando o sistema. O exercício de nos transpormos para um tabuleiro ou mesa de jogo, num primeiro momento, e depois vivenciarmos o nosso personagem, requer amadurecimento.
O jogador novato, num primeiro momento, vê as características e peculiaridades dadas ao seu personagem como meros pontos à mais ou à menos em sua ficha. Muitas desvantagens em GURPS ou 3d&T, por exemplo, servem apenas para liberar mais pontos que serão usados em outros pontos da mesma ficha. Nesse estágio a interpretação em si, pouco importa. Mesmo que o jogador novato não concorde, a sua interpretação se restringe ao movimento mecânico e alguns aspectos superficiais do personagem. Lógico que se perguntarmos à ele, sua resposta será de que isso é interpretação.
Mas interpretar vai um pouco além disso.
Quando interpretamos um personagem procuramos não só dar vida à ele, mas dar veracidade. Significa que ele não terá vida apenas para decidir se vai para a esquerda ou para a direita, mas em acertar e principalmente errar conforme sua forma de ser.
Nisso temos um dos principais equívocos do jogador novato. Ele considera o personagem como algo pertencente à ele. A visão possessiva frente ao personagem faz com que o jogador peque na interpretação, sendo satisfatório apenas dar vida à ele como um fantoche.
Mas, com o tempo e experiência, o jogador desloca-se para o personagem. O que isto quer dizer? Ele passa a ser realmente o personagem. Ele passa a agir conforme o personagem o faria devido à suas características.
Este pode ser o ponto mais difícil de se atingir, mas também o mais prazeroso e divertido. Quando as nossas opções se restringem às opções do personagem, limitadas por sua ficha e características, passamos a vivenciar uma outra realidade – a fantasia.
Mas como todo processo ele pode, por mais espontâneo que seja, um exercício inicialmente consciente, até o ponto em que agimos sem pensar e apenas ‘somos nossa criação.
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