quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Dicas do Mestre: Tendências e Interpretação


 
Lendo dias atrás um artigo curto, mas muito elucidativo, sobre a dinâmica das tendências em RPG me lembrei de uma conversa com alguns colegas à muito tempo. Na época muitos deles eram iniciantes e debatíamos sobre o uso das tendências.

O debate surgiu pois jogávamos na época D&D e GURPS. O primeiro, como todos devem saber, usando as tendências para direcionar a interpretação e o modo de ser dos personagens e o segundo sem este dispositivo de forma clara.

Eles reclamavam que o personagem, ou pelo menos sua interpretação, ficava como que ‘engessada’ em D&D pela necessidade de seguirmos a tendência estabelecida. O mesmo, aparentemente, não acontecia nos jogos de GURPS.

As tendências surgiram (corrijam-me se eu estiver enganado) em Dungeon & Dragons. Elas são parâmetros morais, éticos e de convivência que os personagens seguem no seu modo de ser e de se relacionar com o mundo. Ora, como nossos personagens são em última análise ‘representações’ que pretendemos que sejam reais precisamos de algum parâmetro para regrar a forma como elas interagirão com o mundo que os cerca.


Uma necessidade
Seria muito fácil tomarmos atitudes que nos beneficiariam em prol de não sofrermos uma morte terrível ou uma participação desastrosa numa aventura. Seria muito melhor realizarmos pequenos deslizes intencionais que nos fariam contornar situações perigosamente mortais ou para amenizar relacionamentos para ganharmos alguma informação importante.

Mas esta não é a intenção do RPG ou pelo menos sua prática, não é mesmo? Além da diversão pura, é claro, o RPG leva seus participantes à vivenciarem a experiência de assumirem o papel de um ‘outro’ sejam ele quem for – de cavaleiro medieval à explorador espacial, passando até por caçadores de recompensas no velho oeste e sobrevivente de um mundo devastado. Não importa o ambiente (cenário), a verdadeira diversão do RPG está no realismo da experiência que vivemos.

Neste sentido a participação pode ser mais ou menos realista. Mas mesmo havendo diferença no realismo o certo é que algum parâmetro deve haver.

Qual seria o sentido de uma prática (jogo) que tem seu cerne na vivência de uma realidade que não é a nossa, se justamente o que fazemos não é vivenciarmos essa realidade fantasiosa, mas apenas entrarmos em um cenário e moldarmos ele conforme nosso desejo?

Como já disse aqui e em outros artigos – o principal, em RPG, é sempre a diversão. Mas se estamos procurando a experiência de vivenciarmos uma outra realidade de forma realista não tem sentido não sermos realistas. Mas então você me pergunta: mas se estamos procurando realismo, como vivenciar isso em mundos de fantasia ou ficcionais? Então vamos esclarecer esse realismo.

 Quando falamos em realismo estamos falando sobre relações humanas (ou mesmo extraterrestres ou qualquer outra raça) entre si e com a comunidade e o mundo em que estão inseridos. Certos parâmetros sustentam isso não importando o cenário que está sendo jogado. Sempre haverão regras claras para as sociedades e não importa qual a conduta que seguem, os personagens podem ou não se adequar à elas.


Nisto é que entram as tendências. Elas mostram o quanto um personagem está ou não adequado com essas regras sociais e de que forma ele se relaciona com os outros membros da sociedade em suas relações com o seu mundo.

Em verdade todo o membro de uma sociedade passa por essa inter-relação, não importa se real ou fantasiosa. Acho até que o que é tão atrativo na prática do RPG é justamente a possibilidade de recriarmos essas relações sociais sem o perigo de represálias conforme nossas ações.

Assim as tendências são imprescindíveis para o sucesso de nossa diversão. Sem ela a própria relação entre os jogadores e dos NPCs com os jogadores perderia muito de seu brilho e acabariam se tornando mecânicas.

Além disso, a própria prática da interpretação das tendências é uma diversão à parte para qualquer rpgísta. Essa prática nos aprimora os entendimentos de ação/reação, as capacidades de relação com o diferente, além de ser hilário, em muitas ocasiões, ver nosso personagem indo para o buraco por aquilo que ele “não pode” deixar de dizer ou fazer.

Não estava, nesta primeira conversa, tentando ensinar como interpretar uma tendência em especial, mas apenas salientar sua importância. Em outras postagens iremos debater sobre cada uma das tendências!

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