Arquearia II
- Construindo um arco -
Depois
de sabermos a história, as partes e tipos de arcos e flechas, vamos avançar
para a construção dele, o segundo passo natural antes de começarmos a lançar
flechas como loucos. Embora seja um parte bem mais técnica e sem grande
glamour, em cada canto podemos aprender coisas novas que podem servir em algum
enredo de campanha, algum conto, enfim, em qualquer coisa que pensemos e
precisemos usar.
Poderíamos
apresentar a forma de fazer qualquer arco, mas o que mais chama a atenção para
os rpgístas é o arco longo clássico inglês. Para começar ele era construído a
partir de madeira de teixo (taxus baccata),
mas também era feito a partir de freixo, carvalho e carya. O ponto principal,
mais importante até que o tipo de madeira, era a localização da madeira
extraída para a produção do arco. Ela poderia ser retirada de árvores de
qualquer lugar que poderia produzir um arco de qualidade, mas o ideal para um
arco com resistência máxima era que fosse de madeiras oriundas de áreas mais
altas e com solo não tratado. E isso tem uma explicação.
Quem
já viu o tronco de uma árvore cortado na perpendicular já deve ter percebido
que ele é todo anelado. Esses anéis demonstram as condições climáticas que a
árvores vivenciou enquanto crescia. Eles são tão interessantes e precisos que
uma técnica de datação foi desenvolvida através desse crescimento – a
dendrologia. Esse crescimento é mais visível, com anéis mais espessos, de forma
diretamente proporcional ao clima temperado. Em contra partida quanto mais alto
subimos em uma montanha, em regiões mais afastadas da linha do Equador, menos
variações térmicas e climáticas temos e como estamos pensando em Europa, isso é
ainda mais significativo. Com menor variação climática temos anéis menos
espessos, muito mais próximos um do outro e é justamente isso que acaba
deixando a madeira muito mais resistente, densa e resiliente para ser dobrada.
Tendo
escolhido a madeira e a extraído vamos para a segunda etapa que é moldar o
arco. Com ferramentas simples e um trabalho metódico vamos desbastando
lentamente as camadas externas da madeira. Da mesma forma que nos preocupamos
com a densidade e resistência da madeira no sentido perpendicular, também o
devemos ao longo da extensão do arco e para isso temos que cuidar de sua
estrutura no momento de desbastar a madeira. Uma coisa que deve ser salientada
é que existe também uma forma e posição, no tronco, para se extrair a madeira
de um arco. Não basta ser apenas “madeira” para produzirmos um bom arco. Ela
deve ter sido cortada pegando desde a porção mais externa do tronco (a casca)
até uma parte da porção interna (não necessariamente o centro). Por uma questão
de lógica a porção mais externa é a mais resistente e firme, enquanto a porção
mais interna é a porção mais flexível. Mas não se engane, pois isso não tem
relação direta com a noção de quebradiço. De qualquer forma o ideal é que o ao
fabricarmos um arco tenhamos o cuidado de prepararmos a madeira de forma a
mantermos essas duas porções, pois elas trabalharam juntas mesclando
resistência e flexibilidade.
Assim
vamos extrair a porção mais externa e bruta da casca e depois, sem danifica a
passagem entre casca e a primeira porção do caule, vamos raspar suavemente o
resto do exterior. Qualquer dano aqui será decisivo para a resistência do arco.
Ele deve ser primeiramente raspado deixando-o o mais uniforme possível e depois
lixado.
Muitos
enganam-se em achar que o arco possui sua estrutura arredondada. Muito pelo
contrário, podemos dizer que o bom arco é achatado nas posições certas e
arredondado nas posições necessárias. De qualquer forma, a estrutura bruta dele
e quadrilátera. Nesta estrutura é desenhada a forma que ele terá e depois, com
muita calma, é realizado um trabalho de desbaste tentando ao máximo chegar à
forma aproximada do desenho. Com a forma bruta aproximada é chegada a hora de
lixá-lo moldando-o calmamente. Esta é a parte mais demorada pois nenhuma
protuberância deve permanecer para um bom manuseio do arco.
Depois
de horas de trabalho metódico a forma bruta do arco está pronta. Esta segunda
etapa começa com a preparação para a colocação a corda levando em conta o tipo
de corda que usaremos. Como a grande maioria dos arcos longos europeus,
ingleses principalmente, usavam a corda trançada na forma reversa-torcida
(leiam a postagem anterior), em ambas as extremidades do arco temos que
preparar ranhuras profundas para sua fixação. Elas devem ser feitas usando lixa
e não uma serra para manter a integridade estrutural do arco e não corrermos o
risco de provocar rachaduras que vem à propiciar uma quebra. Essas ranhuras são
feitas na diagonal em sentido de fora para o centro.
O
primeiro teste para colocação e flexibilidade do arco é feita com uma colocação
provisória da corda. Com a estrutura comprovadamente aprovada, começamos a fase
dos detalhes na estrutura do arco. O primeiro elemento, e muito importante, é o
recuo para depósito da flecha para o disparo. Logo em seguida devemos aprimorar
o local onde agarramos firmemente o arco.
Com
isso finalizado devemos passar ao processo de colocação da corda. O importante
de ser percebido é que o arco deve ter a corda colocada com sua estrutura
tensionada, o que significa que o arco ficará em posição levemente curva. Como
já mostramos na postagem anterior, a corda trançada de forma reversa-torcida não
teria a necessidade de estar em permanente tensão para manter sua estrutura,
mas isso é importante para o arco em si.
Pronto,
você já tem em mãos um arco. Agora só falta começar a disparar com ele na
próxima postagem!
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