sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Romance II

REVELAÇÕES
Julio "Julioz" Oliveira

Capítulo - 2. O Mastro Partido

Islade caminhava apressado pelas ruas pavimentadas em direção ao porto. Andava por pequenos espaços deixados pela multidão que se dirigia no sentido contrário ao centro. O sol já iluminava pouco, a milícia se espalhava pela cidade em busca de confusões.

O jovem olhava um pequeno pedaço de pergaminho em que Rongald havia desenhado um rústico mapa. Seguindo as instruções, Islade dobrou a esquerda e se viu em uma rua ampla.

Nela, todas as casas eram grandes e de aparência fina. Olhou o mapa novamente procurando a casa a qual deveria ir. Identificou-a rapidamente. Continuou por mais alguns metros para só então chegar ao seu destino.

A casa que procurava era imponente. Mesmo comparada às outras obtinha destaque. Tinha arquitetura elfica - ele já vira construções do mesmo tipo em Valkaria. Janelas altas e de pouca largura, enfeitadas com vidro trabalhado de Cosamhir. Um muro não muito alto cercava completamente a propriedade, onde alguns guardas faziam ronda. Na entrada principal ficava um grande portão de madeira trabalhada. Islade se aproximou e um dos homens falou:

“– Quem se aproxima, e o que quer?”

“– Sou Islade Valkair, e desejo ter-me com Allaud Meroveu .”

“– Peço que aguarde” – e se dirigiu portão adentro, em uma postura exemplar.

Islade observou o segundo guarda. Era um senhor de idade avançada, cabelos brancos e barriga de taverna. Percebeu que aquela guarda, não era nada mais que fachada. Trajava uma velha armadura, que estava impecavelmente limpa. No centro do peitoral um símbolo, uma garça com um peixe em seu bico.

Ainda aguardando girou os calcanhares apreciando a bela vizinhança. O guarda retornou algum tempo depois – “Meu senhor o espera” – e abriu o portão – “siga-me, por favor.”

O rapaz foi guiado por um vasto jardim ornamentado de flores com cores exuberantes. Refletidas pelo sol, as de cores mais fortes, pareciam estar vivas. Havia estatuas, todas retratando mulheres nuas tocando instrumentos musicais, sendo a harpa o mais freqüente.

Chegaram a uma grande porta de madeira escura. Era entalhada com perfeição e mostrava a imagem da estátua de Valkaria, de joelhos e braços aos céus. Islade se espantou com tamanha obra de arte feita em uma simples porta de entrada. Seu guia se antecipou e de leve bateu na porta três vezes.

A porta se abriu sem ranger e de dentro surgiu um homem pequeno e velho vestido em trajes finos e aparentemente desconfortáveis.

“– Vamos, entre meu senhor o espera no salão de visitas” – ele se despediu e fechou a porta após Islade passar.

“– E onde fica a sala de visitas?” – perguntou o jovem - “Acho que se andar por ai sozinho posso me perder”.

O mordomo riu baixo, e com uma mesura - “Por aqui, senhor.”

Islade foi conduzido até um grande corredor, totalmente iluminado por janelas laterais, que levava a um salão imenso. Este era ricamente mobiliado tendo no centro quatro sofás, formando um quadrado. Em um deles, um senhor ainda menor que o mordomo, aguardava deitado.

“– Sente-se e me diga em que posso lhe ajudar meu jovem!” - o homem tinha uma expressão bondosa, que se perdia nos fartos cabelos.

Islade caminhou até o centro da sala. O cômodo tinha varias estantes, todas completamente cheias de livros. A organização era simétrica onde pergaminhos enrolados tomavam conta de várias estantes. O padrão de estantes só era quebrado por uma escrivaninha em um dos cantos. Parecia estar cheia com mais pergaminhos. O ambiente era arejado por um grande numero de janelas enfeitadas com lindas cortinas de linho vermelho. Tudo na sala brilhava de tanta limpeza. Os móveis eram de excelente qualidade. Coisas da nobreza.

O homem sentou-se desabarrotando suas roupas finas. Arrumou os cabelos bagunçados e fez um sinal ao mordomo, que se retirou rapidamente.

“– Bom. Vim até aqui senhor Meroveu, por que o diretor Rongald disse que podia me ajudar” – disse Islade cumprimentando-o com um aperto de mão.

“– Sem formalidades meu jovem, pode me chamar de Annaud” - disse o senhor – “se Rongald falou de mim, aceitarei lhe ajudar de bom grado. Mas que tipo de ajuda é essa?”

“- Preciso embarcar em um navio que siga para o norte” – falou Islade – “mas preciso embarcar ainda essa semana.”

O mordomo retornou com uma bandeja em mãos trazendo uma chaleira fumegando e duas xícaras de porcelana – “Aceita chá, senhor Islade?”

O jovem recusou. O anfitrião por sua vez aceitou sem demora, misturou o conteúdo com uma pequena colher de prata e bebericou suavemente.

“– Certo. deixe-me ver os registros” – dizendo isso Meroveu se dirigiu à escrivaninha, abriu uma das gavetas e retirou alguns documentos – “O próximo navio...” - falando isso o velho senhor colocou um pequeno óculos no rosto e começou a examiná-los. Depois de alguns minutos olhou para seu convidado e disse – “você não chegou em uma boa hora rapaz, a maioria dos navios já partiu e os que ficaram só partirão depois do fim do inverno.”

Islade coçou a cabeça pensativo. Arriscou algumas soluções, mas logo depois achou improvável. Arriscou a última possibilidade – “Não existe nenhuma chance? Qualquer um já é uma boa opção para mim.”

“- Receio que não tenha muita escolha, mas se insiste. Ainda há um navio que pode partir esta semana, mas eu não o indicaria a um nobre como você, meu jovem” – sua expressão não indicava convicção.

“- Não entendo o que quer dizer meu senhor.”

“- O que quero dizer, é que o único navio que partirá antes do fim do inverno é o ‘Intrépido’. Um navio mercenário, que é comandado por um capitão sem lei. Saqueia navios de nobres por todo o reinado, mas recebe carta branca do imperador por serviços prestados a coroa” - seu rosto agora era vermelho de raiva.

“- Entendo. Mas mesmo assim tenho de tentar. O senhor sabe me informar onde consigo encontrar a sua tripulação?” – Islade se levantara.

“- Garanto-lhe meu jovem que não será uma boa estadia, mas já que inciste. Eles sempre barbarizam em Gorendill em uma taverna ao sul das docas. Chama-se o ‘Mastro Quebrado’”.

“- Muito obrigado senhor, sua ajuda me será de muita valia.”

“- Fico grato por ajudar. Adeus.”

Islade foi levado pelo mordomo até a porta. Agora tendo como seu destino o Mastro Quebrado.

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