Resenha: Sangue & Rum - suplemento cheirando à maresia

Resenha: Sangue & Rum

Suplemento cheirando à maresia!

Fui agraciado em receber a versão beta de Sangue & Rum do próprio Luiz Cláudio Gonçalves, autor da obra. Sangue & Rum é um suplemento em forma de microcenário para Thordezilhas: Sabre & Caravelas, da Old Dragon, e será lançado pelo selo Universo Simulado Estúdio com apoio da Redbox. O financiamento coletivo da obra já está em andamento (LINK). Esta versão beta se difere da versão final apenas por detalhes visuais e de diagramação, tendo seu conteúdo inalterado. Por isso minha resenha se aterá ao conteúdo. Posteriormente posso até fazer algum comentário (ou acréscimo aqui mesmo nesta postagem) sobre o aspecto visual da obra.

Posso começar dizendo que ler Sangue & Rum me deixou literalmente feliz. Você vai lendo cada página com um sorriso maroto crescente de canto de boca como uma criança que está planejando algo. Um pouco pode ser pelo tema. Pirataria sempre me atraiu e rendeu muitas postagens na Confraria, de série de contos à séries de postagem com dicas para jogo. Assim, logo nas primeiras páginas, o curto conto de uma cena passada no Jabuti Caolho (você verá adiante o que é isso) nos deixa à prontos para sacar o sabre ou pegar a garrucha. O clima está criado e o cheiro de maresia começa a sair do livro.

Como um suplemento e microcenário ele faz extraordinariamente bem seu papel de ampliar e enriquecer o ambiente criado por Thordezilhas ou um ambiente que poderá ser usado em sua mesa não importa de qual cenário. Enquanto lia, por mais de uma vez, imaginei elementos do livro em várias de minhas aventuras em vários cenários de vários sistemas. Esse aspecto coringa que ele possui é um achado que deverá agradar muito os leitores. Gosto de suplementos específicos e centrados em pontos claros de um cenário, mas quanto mais amplo o escopo de possibilidades de uso, muito mais útil um suplemento se torna.

Vamos por partes. O microcenário em questão é a Ilha Redonda, um antro de piratas com todas as características que adoramos nesse tipo ambiente. Nesta ilha está localizado o famoso Boteco do Jabuti Caolho, assim como muitos outros locais interessantes. O foco de Sangue & Rum está dividido entre dois pontos principais: construção de um microcenário jogável e enriquecimento de um cenário mais amplo com informações pertinentes.

Com isso em mente Sangue & Rum apresenta o microcenário separando os dois elementos físicos da ilha: o Boteco do Jabuti Caolho e a Ilha Redonda propriamente dita. O Jabuti Caolho, apresentado no primeiro capítulo, é quase um personagem em si, de tão vivaz. Acredito que ele poderia ser acrescentado em qualquer cenário de qualquer sistema de fantasia. Ele está muito bem detalhado e repleto de informações que podem ser utilizadas para dezenas de plots, subplots e mesmo campanhas. Essas informações, mesmo em grande quantidade, não tornam a leitura arrastada ou maçante. O texto é enxuto, claro e direto, sempre focando no que pode ser importante na mesa ou na criação de uma cena. A estratégia de quadros com lista de subtramas variadas dentro de cada um dos grandes ambientes dessa taverna facilita para enriquecer o clima, além de dar ainda mais idéias para mestres ou nas interpretações dos jogadores.

O segundo capítulo está dedicado à Ilha Redonda. Ele trás todos seus elementos constitutivos e sem exageros ou preocupações de esgotar o tema. O foco aqui é fazer um esboço bem fundamentado e com alicerces sólidos para que o mestre levante as paredes da forma que achar melhor. Mesmo quando ele apresenta uma nova nação, a Vila de Calheta, o autor habilmente nos mostra tudo o que é importante, de economia à antagonistas, de forma rápida e clara. A estrutura de construção do capítulo anterior se mantém aqui e trás os mesmos benefícios com o uso de quadros de fácil e rápida leitura.

Os capítulos seguintes são extremamente interessante e divertidos. Cada pequeno capítulo trás algum novo elemento para o cenário. Temos um capítulo do Mercado de Akary com seus produtos surpreendentes, como suas próteses - nunca mais você verá uma perna de pau ou um gancho com os mesmos olhos.

O quarto capítulo mostra 40 possibilidades de atividades e aventuras para seu personagem seja dentro do Jabuti Caolho, seja na Ilha Redonda. Em resumo o Jabuti Caolho pode ser ele mesmo o cenário central de toda sua campanha, com suas aventuras se passando centradas nele ou mesmo apenas dentro dele. É brilhante. Ainda neste capítulo você tem todas as orientações para ter seu próprio bar e usá-lo como pano de fundo para suas aventuras, ou como elemento paralelo para sua campanha.

Como falar de piratas sem falar em excesso de rum e embriaguez? Pois temos um capítulo apenas para isso, onde o controle de limite do personagem é providencialmente escondido do jogador e poderá trazer momentos hilários ou perigosos. O último capítulo é dedicado aos monstros da ilha e, como já disse, o autor não tem a intenção de esgotar o tema e acrescentar todo um bestiário exclusivo ao cenário. De forma pontual o autor apresenta alguns monstros e os trabalha para que se encaixem perfeitamente ao cenário e clima.

Sangue & Rum é um bom exemplo de como um suplemento – com as pretensões que ele possui de complementar e enriquecer um cenário – deve ser estruturado e trabalhado. A política do ‘menos é mais’ cai como uma luva para esse suplemento, transformando-o em um acessório que deve estar sempre à mão do mestre que pense em uma campanha com pirataria. A disponibilização de mais de 100 subtramas, cuidadosamente pensadas e agrupadas de forma exata em pontos chave do cenário são cruciais para rapidez e pleno aproveitamento do potencial que Sangue & Rum cria. Com uma simples consulta em suas páginas podemos rapidamente montar toda uma cena, sem dor de cabeça ou estresse.

Não tenho como dar uma nota final sem o livro acabado em mãos, mas pelo conteúdo analisado eu posso recomendar sem sobra de dúvidas que é uma interessante aquisição para enriquecer sua prateleira de RPGs.